Fármacos usados para manter vivos os pacientes graves infectados pela covid devem acabar entre sete e dez dias
Paciente contaminado por covid-19 é transferido para o Hospital Mário Gatti: gestores criticam o Ministério da Saúde pela falta de remédios (Diogo Zacarias/ Correio Popular)
Os hospitais de Campinas estão enfrentando problemas com os estoques de medicamentos que compõe o chamado "kit intubação". Na Rede Mário Gatti, por exemplo, os estoques estão no limite e os hospitais já trabalham com um abastecimento que dura entre sete ou dez dias. Em condições normais a margem de segurança seria de 60 a 90 dias.
Esses fármacos, como anestésicos, sedativos e bloqueadores neuromusculares são essenciais para os casos graves de covid-19, em que o paciente precisa ser intubado. Sem eles, não é possível realizar de forma satisfatória o procedimento que garante a chegada de oxigênio aos pulmões nos quadros mais críticos da doença.
Apesar de ainda não haver desabastecimento, o estoque mínimo dos medicamentos gera incertezas quanto as condições de atendimento numa eventual nova onda de internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).
Para se ter uma ideia do problema, diante desse cenário nacional de desabastecimento dos medicamentos que compõe o "kit Intubação", a demanda na rede pública de Campinas, atualmente, é 275% superior ao volume usado desses fármacos durante a primeira onda da pandemia em 2020.
No processo de intubação e de manutenção do paciente na ventilação mecânica são usados uma mistura dessas três classes de medicamentos: os analgésicos, os sedativos e os bloqueadores neuromusculares. Todos estão em falta. Somente a Rede Mário Gatti usa por dia cerca de 6 mil kits intubação nos pacientes internados. Esse número no mesmo período do ano passado era de 1.600.
A recente centralização da distribuição dos medicamentos por parte do Ministério da Saúde, que tem feito requisições administrativas que obrigam os laboratórios fornecedores a destinar o excedente de produção para a pasta, se configurou numa dificuldade extra a ser enfrentada pela rede pública da cidade.
"Teve esse complicador do governo federal que está fazendo a requisição dos estoques e isso atrapalhou todos os processos que a gente tinha. O governo federal quis ser mais democrático distribuindo para todos os municípios, e no fim aqueles que não tinham nenhum processo de compra se beneficiaram um pouco e aqueles que tinham, como nós, um planejamento, ficamos prejudicados um pouco porque acabamos nessa situação de incerteza da entrega por parte dos fornecedores", explica o médico e diretor técnico da Rede Mario Gatti, Carlos Arca.
Segundo o gestor, essa estratégia do governo federal impactou o planejamento realizado pela Secretaria Municipal de Saúde de manter vários contratos com laboratórios fornecedores em aberto para deixar reservados a compra em caso de uma situação crítica. "Até agora nós conseguimos manter um estoque regular, mas nosso recebimento está sendo cada vez mais fracionado por parte dos fornecedores", disse.
Segundo ele, na rede municipal em Campinas existem hoje 123 pessoas intubadas em leitos de UTI. Essas pessoas estão internadas nos hospitais Mário Gatti, Ouro Verde, e Metropolitano, além das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Desse total, 108 estão intubados em leitos de UTI covid. O restante por outras situações.
Cada paciente que fica em intubado precisa receber medicamentos das três classes de maneira contínua por meio de infusão. São usadas de dez a 20 ampolas de cada classe de medicamento por dia por paciente. "Levando em conta que cada paciente em estado grave vítimas da covid-19 tem ficado em média de 12 a 14 dias internado, dá para ter ideia do volume de medicamentos que são usados", explica o gestor.
De acordo com ele, o recebimento dos medicamentos de forma cada vez mais fracionada, fez também aumentar a tensão entre as equipes que prestam os serviços médicos de UTI.
Para garantir o atendimento e aliviar a pressão, as equipes médicas passaram a ser avisadas diariamente sobre qual medicamento poderá ser prescrito. Essa foi a maneira encontrada para que as equipes de UTI consigam se planejar para manter os pacientes internados em ventilação mecânica vivos.al Mário Gatti: kit intubação está acabando