DESABASTECIMENTO

Hospitais de Campinas ‘economizam’ uso de contraste diante de escassez

Insumo, aplicado em ressonâncias e tomografias, é essencial ao diagnóstico de tumores

Isadora Stentzler/ [email protected]
20/07/2022 às 09:09.
Atualizado em 20/07/2022 às 09:09
Centro de radiologia: contraste iodado é uma substância injetada no paciente, que auxilia na identificação de regiões anatômicas, em especial nos exames de tomografia computadorizada (Gustavo Tilio)

Centro de radiologia: contraste iodado é uma substância injetada no paciente, que auxilia na identificação de regiões anatômicas, em especial nos exames de tomografia computadorizada (Gustavo Tilio)

Hospitais e laboratórios de Campinas estão racionalizando o uso de contraste iodado em ressonâncias magnéticas e tomografias devido à escassez do insumo. O medicamento é essencial para diagnóstico precoce de tumores e está em falta em todo o Brasil devido a impactos da covid-19 e fechamento de uma das distribuidoras. Entretanto, além do contraste, o desabastecimento afeta outros remédios, deixando hospitais até sem dipirona. 

No Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a assessoria de imprensa informou que a unidade está “enfrentando desabastecimento de medicamentos e contrastes para exames radiológicos”. E ainda que a situação é “enfrentada com extrema dificuldade”, com registro de aumento de preços do insumo. 

Para lidar com a situação, o hospital tem adotado “intercambialidade e racionalização” dos medicamentos e mantido contato com a Secretaria de Estado da Saúde (SES) para garantir a normalização dos estoques.

A mesma situação é registrada em outras unidades. No Hospital da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, o volume de solicitações de exames vem sendo gerenciado e, devido à falta do contraste, estão sendo priorizados os casos de urgência e emergência e pacientes internados. “As medicações, quando possível, são substituídas, de modo a atender plenamente as necessidades dos pacientes”, explicou a assessoria em nota.

O médico radiologista Gustavo Skaf Kalaf, que atua na Radiologia Clínica de Campinas (CRR) e também realiza exames para o Centro de Oncologia Campinas (COC), apontou que os estoques estão assegurados para um mês, mas a unidade aguarda reabastecimento na próxima segunda-feira, garantindo mais 3 mil exames. 

“Dispomos de contratos com empresas, o que garante o abastecimento. Mas há algum tempo estamos monitorando os estoques e mantendo compras mensais para dois meses. Neste momento, o sinal está amarelo, porque aguardamos que o insumo chegue na segunda-feira. Se não chegar, realmente entraremos no sinal vermelho”, apontou Kalaf.

De acordo com o médico radio-oncologista Caio Marcelo Jorge, o contraste iodado é uma substância injetada no paciente, via endovenosa, que auxilia na identificação de regiões anatômicas, em especial nos exames de tomografia computadorizada. Ela é empregada em diversas situações, como em diagnóstico, estadiamento, planejamento terapêutico e avaliação de resposta de determinados tratamentos etc.

Em relação ao câncer, Jorge destaca que o insumo pode auxiliar ao descobrimento precoce de tumores, permitindo o avanço do tratamento. “Muitos tumores podem ser identificados por meio da tomografia contrastada, algumas vezes até de forma incidental”, explica. 

MS pede racionalização

No dia 13 deste mês, o Ministério da Saúde emitiu uma nota conjunta com outras cinco entidades em que orientou para a racionalização do uso de contraste iodado para exames e procedimentos médicos, “até que ocorra a normalização do fornecimento do produto”. “A interrupção nas cadeias de suprimento, produção e distribuição ocorre principalmente por consequência da pandemia da Covid-19, na China, uma vez que medidas de ‘lockdown’ foram decretadas localmente, impactando na cadeia de produção das indústrias chinesas. Uma das principais empresas, o laboratório GE He althcare, informou, em nota, que a fábrica de Xangai havia sido afetada”, explica a nota da Pasta. 

No documento, é orientado que os hospitais e laboratórios façam o uso desse insumo de modo racional e priorizem os casos de urgência e emergência. A nota ainda sugere que sejam adotados métodos alternativos quando possível, desde que não comprometam o diagnóstico. 

Desde maio, o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) alertava sobre a falta de abastecimento. Segundo a entidade, pesam ainda na falta do insumo a escassez do iodo, elemento químico essencial nas formulações dos meios de contraste usados em tomografias, e aumento da demanda do uso dessas medicações. 

Em nota, a SES reconheceu a escassez, mas alegou que a Comissão Intergestores Bipartite (CIB), órgão que reúne gestores da Saúde do Estado e municípios de São Paulo, “solicitou providências ao Ministério da Saúde para auxiliar no abastecimento de contrastes e garantir o pleno atendimento da população”. 

Falta dipirona

Outros medicamentos também estão em falta no mercado. No HC, a assessoria de imprensa informou que não estão sendo cumpridos os prazos de entrega dos medicamentos antimicrobianos, anti-histamínicos, analgésicos e soro de reidratação. 

Na PUC, além do contraste, a assessoria informou que há falta de dipirona. Já na Secretaria de Saúde de Campinas, 13 medicamentos da Atenção Básica estão em falta. Em nota, a pasta afirmou que os tratamentos que têm indicações de medicamentos que não estão disponíveis são revistos. A consulta para saber se uma unidade de saúde tem a medicação receitada pode ser feita no site https://remedios.campinas.sp.gov.br/.

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