COMPORTAMENTO

Hoje é o Dia da Felicidade

Segundo especialistas, embora não seja permanente, esse "estado de espírito" existe e é alcançável

Mariana Camba/ Correio Popular
20/03/2021 às 17:08.
Atualizado em 21/03/2022 às 23:22
O médico Jamiro Wanderley: "a felicidade está dentro de nós; precisamos enxergá-la  e despertá-la em qualquer circunstância" (Diogo Zacarias/ Correio Popular)

O médico Jamiro Wanderley: "a felicidade está dentro de nós; precisamos enxergá-la e despertá-la em qualquer circunstância" (Diogo Zacarias/ Correio Popular)

Hoje é comemorado o Dia da Felicidade. A data convida as pessoas a refletirem sobre o que é ser feliz e como buscar esse estado, mesmo em tempos difíceis. De acordo com o médico Jamiro da Silva Wanderley, professor de Clínica Médica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro da Organização Não Governamental (ONG) Hospitalhaços, felicidade é realmente um estado de espírito, relacionado à forma como a pessoa se sente em determinados momentos. Mas não é algo permanente. "A felicidade está dentro de nós. Precisamos enxergá-la e despertá-la em qualquer circunstância", afirma.

O médico lembra que as pessoas se confundem durante a busca incessante pela felicidade, quando associam suas alegrias às conquistas financeiras. Tal comportamento segue na contramão da felicidade. "É um desperdício de tempo tentar ser feliz com bens materiais. A pessoa nunca vai conseguir. Precisamos pensar no que nos faz bem, e focar nas coisas positivas. Se pensarmos apenas no que está acontecendo de ruim, vamos ter dificuldade em alimentar o que há de bom. As pessoas precisam aprender a valorizar os pequenos gestos", explica.

O médico pontua, ainda, que é necessário dar valor aos momentos antes que eles deixem de existir. Também é recomendável olhar para o próximo enquanto ainda é possível conviver com ele. Desfrutar do que está ao redor, diz, é um bom exercício. É uma maneira de mudar a perspectiva, e não se fixar apenas em questões materiais. "Quando vou ao Boldrini, deparo com as crianças com câncer. As pessoas ficam muito fechadas nos seus trabalhos, escolas, e não conseguem ver esse entorno. Quando abrirem os olhos para o que há de bom, será mais fácil encontrar a felicidade. Quando a gente ajuda o próximo, mudamos a vida do outro. Isso gera felicidade mútua", observa.

De acordo com a psicóloga Thaís Bezerra, coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital PUC-Campinas, estar feliz provoca a liberação de hormônios do prazer e da satisfação, por isso a felicidade faz com que as pessoas se sintam bem. Mas ser feliz, segundo Thaís, é algo subjetivo. "Depende de cada pessoa. O que para um traz felicidade, para o outro pode ser indiferente. Há uma relação com a história de vida de cada ser humano. Ninguém é feliz o tempo todo, isso é inatingível. Mas ser feliz é necessário para a nossa sobrevivência, mesmo que seja apenas por um momento", observa.

Em situações difíceis como a causada pela pandemia da covid-19, as pessoas podem ter dificuldade em vivenciar um período de alegria. "Uma simples conversa ou uma viagem podem nos deixar felizes. Mas, nos privamos dessas coisas simples no atual cenário em que estamos vivendo. Por isso, podemos afirmar que hoje está mais difícil ser feliz. Como reflexo desse quadro, percebi diante dos atendimentos clínicos que aumentou o número de pacientes com depressão. Mas ainda é possível ser feliz, não podemos nos esquecer disso", ressalta.

Capacidade de ser feliz está relacionada às escolhas

Em 2020, o professor Leandro Tiago Manera, da Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação da Unicamp, junto com dois educadores, criou a disciplina da Felicidade. O curso tinha como objetivo mostrar o lado humano de cada um. Fazer com que as pessoas trabalhassem o autoconhecimento para que pudessem ser felizes. "As aulas começaram antes da pandemia. A previsão era atender 50 estudantes, e recebemos mais de 500 matrículas. A princípio, iríamos atender apenas os alunos da Engenharia, mas com tanto interesse, abrimos as inscrições até para alunos de outras universidades", explica.

A professora Vanessa Rodrigues, especialista em felicidade, também foi uma das idealizadoras do projeto. Ela conta que a iniciativa surgiu ao buscar uma matéria que trabalhasse o lado socioemocional dos alunos. "Quando as pessoas iam preencher o formulário de inscrição, precisavam responder a razão de fazer o curso. Muitos estudantes afirmaram que estavam infelizes. Por isso trabalhamos a ciência da felicidade, que procura estudar o que nos impulsiona a ir atrás dos nossos sonhos, o que nos deixa emocionados de alguma forma".

Vanessa afirma que ser feliz é ter uma vida com qualidade. Um estudo feito em Harvard há dois anos, segundo a professora, concluiu que o que deixa as pessoas realmente felizes é a relação humana. "Muito da nossa capacidade de ser feliz está atrelada às nossas escolhas. As pessoas precisam aprender a colocar valor nas coisas certas. Cerca de 50% da felicidade está relacionada com as escolhas que cada um faz, e apenas 10% vêm da circunstância, como ter o carro do ano. As pessoas estão vivendo no automático e pensando cada vez menos. Precisamos parar para refletir e entender se estamos no caminho certo para sermos felizes", recomenda.

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