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História é transferida para a era digital

Cerca de 3 mil documentos de licenças para construções particulares de Campinas, entre os anos de 1893 e 1905, estarão em breve abertos ao público

Maria Teresa Costa
07/07/2019 às 11:59.
Atualizado em 30/03/2022 às 23:24

Em 1893, José de Camargo Penteado pediu autorização ao Município para construir uma cocheira na Rua Costa Aguiar. Nesse mesmo ano, Manoel Thomas Louzan protocolou projeto para também construir uma cocheira, só que na Avenida Francisco Glicério, 66. Há processos para ampliar e construir casas, comércios, instalar portas e janelas, num rico acervo que reúne documentos que contam a história da construção civil, da arquitetura, do planejamento urbano e do desenvolvimento social desde que o Brasil se tornou uma República e as prefeituras passaram a existir. Esse material está sendo digitalizado e ficará disponível para pesquisa na internet. Cerca de 3 mil documentos formados por processos de licenças para construções particulares de Campinas, entre os anos de 1893 e 1905, estarão em breve abertos à consulta pública. Eles formam uma pequena parte da riqueza histórica da cidade, que está guardada em caixas, no Arquivo Municipal. Os 3 mil documentos estão em oito das 10 mil caixas existentes no Arquivo. O projeto, proposto pelo doutorando em Histórica na Unicamp, Philippe Arthur dos Reis, foi contemplado pelo Programa de Ação Cultural (Proac), no concurso de apoio a projetos de difusão e acesso em arquivos permanentes no Estado, e recebeu R$ 50 mil. O valor definiu o intervalo de 1893 a 1905 para a digitalização do material, disse o coordenador do Arquivo Municipal, Antônio Carlos Galdino. “Nossa proposta é digitalizar todo o arquivo, mas precisamos de recursos para isso”, afirmou. O projeto para essa parte do arquivo inclui tratamento arquivístico adequado, como descrição documental em catálogo informatizado, reprodução fotográfica e digital dos desenhos e processos, para facilitar sua consulta e preservação, informou Reis. A agilização da pesquisa, segundo o projeto apresentado ao Proac, será feita por meio de banco de dados informatizado, relacionado a um banco de imagens, a ser consultado pela internet, com imagens de baixa resolução, no portal Arq-Camp (http://arq-camp.campinas.sp.gov.br). Uma pequena parte já está disponível no portal. No dia 15 de agosto haverá uma exposição do projeto no Paço Municipal e o lançamento de um livro eletrônico com artigos relacionados. Trata-se, afirmou o historiador, de um material riquíssimo. Ele já trabalhou com uma série parecida com a de Campinas em São Paulo e outras cidades. O período abrangido, disse, mostra contradições urbanísticas da época, em que a classe média pedia construção de cortiços ao mesmo tempo em que buscava construir imóveis de mais “classe”. “É um arquivo que nos permite viver um tempo não vivido”, disse, citando um dos projetos que integram o arquivo: o pedido para a construção de uma área de tourada. “Tivemos um período, em que a cidade foi atingida pela febre amarela, que a Prefeitura atuou muito para demolir casas de taipa de pilão, como medida sanitária. Encontrei 40 projetos para construção em que os pedidos eram baseados em medidas sanitárias”, disse. A digitalização dos documentos é importante para facilitar acesso de proprietários de imóveis que ainda existem na cidade e que querem restaurar, saber como ele era originariamente, disse. O arquivo, afirmou, cumpre papel primordial para a história da cidade. “Ele cumpre um papel social, de guarda da história e que precisa receber apoio”, afirmou. Documentos ajudaram nos tombamentos Documentos do Arquivo Municipal permitiram ao Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) decidir o que deveria ser tombado no Centro. Com ele foi possível fazer um inventário de toda área central, a partir dos volumes de imóveis construídos ou reformados entre 1892 e 1945, dos levantamentos dos principais construtores da época. A maioria é formada por personagens anônimos. Mas havia também uma presença relevante de escritórios, como De Fillipis & Cia e Macchi e Mazzuchelli. Dos 2.187 imóveis catalogados entre 1982 e 1920, a maior concentração foi registrada nos períodos de 1901 a 1905 (27,1%) e entre 1916 e 1920 (30,3%), o que fornece indícios de maior atividade construtiva no período a que se convencionou chamar de maturação do complexo cafeeiro em Campinas, que coincidiu com a expansão da migração para a região, especialmente de italianos, portugueses, espanhóis e japoneses. É conhecido na bibliografia sobre Campinas o fato de que as duas primeiras décadas do século 20 foram decisivas para a ampliação da acumulação capitalista, consolidando-se as bases para o desenvolvimento industrial que a cidade presenciou nas décadas seguintes. O inventário mostra que, entre 1911 e 1916, houve uma modesta atividade construtiva, o que, segundo as pesquisadoras, provavelmente reflete uma retração em virtude da desaceleração econômica induzida pela Primeira Guerra Mundial. Entre 1892 e 1920 muito se reformou (69% dos requerimentos) e se construiu. O predomínio de reformas, dizem pesquisadores, pode ser associado às exigências de uma política sanitarista com normas e posturas para garantir a salubridade das edificações e conter potenciais focos de doenças infecciosas e parasitárias, responsáveis por um elevado número de mortes entre as duas últimas décadas do século 19 e as primeiras do século 20. A CAMPINAS QUE NÃO VIMOS Foto por: Cedoc/RAC Foto por: Cedoc/RAC Foto por: Cedoc/RAC Foto por: Cedoc/RAC Foto por: Cedoc/RAC Foto por: Cedoc/RAC Foto por: Cedoc/RAC Exibir legenda 1100

Mercado Municipal.

Francisco Glicério em 1920.

Aeroporto de Viracopos.

Teatro Carlos Gomes.

Rua Regente Feijó.

Rua Conceição.

Cúria Diocesana em 1915.

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