EXCLUSIVO

Hélio de Oliveira atribui cassação a um 'complô'

Prefeito cassado fala pela primeira vez desde que deixou o governo e afirma que foi alvo de inveja e armação

Guilherme Busch
guilherme.busch@rac.com.br
21/04/2013 às 10:18.
Atualizado em 25/04/2022 às 19:30

Hélio disse que mudou hábitos de segurança e que chegou a tomar medicamentos (Dominique Torquato)

Hélio de Oliveira Santos (PDT) quebrou o silêncio. O prefeito cassado de Campinas deu sábado (20), com exclusividade ao Correio, a primeira entrevista desde que deixou o cargo, em 21 de agosto de 2011, depois das denúncias que levaram às investigações do Caso Sanasa.

Vinte quilos mais magro, vestindo uma camiseta de manga longa e acompanhado da mulher, Rosely Nassim Jorge Santos, e de uma de suas filhas, Hélio recebeu a reportagem às 11h em sua casa, em um condomínio na região do Shopping Galleria. A conversa durou 91 minutos.

O prefeito cassado disse que foi vítima de um complô com interesses políticos e econômicos e afirmou que sua mulher e seus secretários próximos, réus no processo, são inocentes. Para detalhar sua versão dos fatos, Hélio lança hoje um blog e prepara um livro. Abaixo, os principais trechos da entrevista. A entrevista pode ser conferia na edição deste domingo do Correio Popular.

Clique nos links abaixo e confira os principais trechos da entrevista:

Confira abaixo parte da entrevista que pode ser lida na íntegra no Correio Popular deste domingo, na versão impressa, ou na internet para assinantes.

Correio Popular — O senhor foi eleito, reeleito e governou Campinas sempre com altos índices de aprovação. O que deu errado para que seu governo acabasse do jeito que acabou?

Hélio de Oliveira Santos — Você sabe que a política pode ser escrita com “P” minúsculo ou maiúsculo. A boa política não deve se utilizar de armações para poder tentar tirar do caminho pessoas ou políticos que possam significar algum risco no futuro. Você sabe que um prefeito de Campinas não é qualquer prefeito. É prefeito de uma das cidades mais importantes do País. A cidade tem papel estratégico na política nacional. Durante a campanha de reeleição do Lula e durante a campanha da Dilma, Campinas foi estratégica. Afinal de contas, eu passei a coordenar os prefeitos de todo o País. E isso suscita ódio, inveja. O Estado de São Paulo tem, há duas décadas, um posicionamento claro com relação à política: quem não é meu amigo é meu inimigo. É curioso que esse desencadeamento de acusações tenha começado no exato instante em que a Dilma pisou em Campinas com o Lula em setembro de 2010, no dia 18, para lançar o programa Minha Casa Minha Vida e para uma reunião com prefeitos da região para discutir o PAC. Nessa ocasião, um sábado pela manhã, me deparo com a notícia de que havia um escândalo na Sanasa e de forma confusa se falava em R$ 600 milhões desviados. Muito estranho, já que não existia nenhum inquérito naquele momento. Ele foi feito depois de uma semana.

A que o senhor atribui isso que chama de perseguição?

Essa perseguição é por interesse, porque eu passava a incomodar. Eu passava a ser um incômodo. Você sabe que jornais regionais e nacionais passaram a colocar que eu poderia ser candidato a governador do Estado. Inclusive apoiado pelo presidente Lula.

O senhor está dizendo que todo o processo do Caso Sanasa foi movido por um interesse político?

São dois interesses claros. O do poder, que usa as ferramentas necessárias, de perseguição, e também a questão ideológica, porque eu fui um prefeito que fez uma opção, desde o primeiro momento, para os mais necessitados. E isso obviamente incomoda na cidade que no passado sempre foi comandada por grupos de interesse que se exaltaram quando a situação discutida era a reforma urbana. Esses debates sempre têm como ponto de partida grandes extensões de terras de gente poderosa. São interesses que se contrapõem a interesses dos mais humildes.

Seu assessor disse que o senhor vai lançar um blog...

Eu estou escrevendo uma peça, um livro, em três atos, com os passos que se deram nesse processo. Tenho lido e pesquisado bastante a esse respeito. E vou lançar um blog também.

Quem está escrevendo esse livro?

Estou escrevendo e tenho o apoio de várias mãos. Já publiquei sete ou oito livros, tenho interesse em escrever esse capítulo em particular. E esse capítulo, no meu modo de entender, tem que servir como base para que o Congresso faça uma lei severa contra o chamado tráfico de influência. Essa prática tem que ser considerada como um método de corrupção e essas pessoas têm que ser submetidas à lei. É por isso que eu vou lançar o blog. De outro lado, havia um interesse que percebeu que a força de Campinas era muito grande dentro do contexto nacional. Isso foi flagrantemente colocado pela imprensa. Campinas passou a ser um instrumento de consolidação de um novo método de discussão política. Eu creio que, com o governo Lula e Dilma, ressuscitamos a importância das prefeituras nos processos de eleição para presidente. Porque é nos municípios que acontecem as discussões que vão mostrar o que é melhor para o povo e o País.

Por que tanto tempo em silêncio?

O silêncio é a principal arma do inocente. É nele que você tem tempo para reflexão, tem tempo para pesquisa e investigação, tempo de estabelecer o estudo da trama, observar a trama e como se dá esse modelo de perpetuação de poder.

]Que trama é essa?

Você não pode desconhecer que em São Paulo existe um sistema de arapongagem instalado, foi denunciado pela Assembleia Legislativa, e que tem vários interesses. Eu vou colocar no meu blog muitas coisas interessantes que foram e são investigadas.

Nesse período de silêncio, o que o senhor fez da vida?

Primeiro me preocupei em retornar para minha atividade médica. Fiquei longe da medicina desde 1999, quando me tornei deputado, e precisava reciclar. E foi o que eu fiz e tenho feito. Ano passado todo eu fiquei em curso de especialização e reciclagem no Albert Einstein, em São Paulo. Fui bem aceito.

Em que área?

Emergência pediátrica, que é minha área. E tive também oportunidade de me voltar mais para a minha família. Meu cunhado teve uma doença grave e eu fui acompanhá-lo em cirurgia, em quimioterapia. Dediquei-me um pouco ao lado familiar. E também escrevi. Estou concluindo o livro, que é a minha biografia e aquele capítulo inacabado da história, e que tem um envolvimento grande com a política praticada no Estado de São Paulo.

O senhor está trabalhando hoje?

Não. Só estou estudando e preciso me reciclar. Lógico que eu pretendo dar um plantão ou outro, mas isso é questão de estar preparado.

Em Campinas?

Onde eu puder, vou dar.

Como o senhor ganha a vida hoje?

Por enquanto, estou vivendo da minha previdência privada e entrei com pedido de aposentadoria como professor da PUC. Deve sair ainda em abril. Sou um aposentado, cumpri minha tarefa como professor universitário e como médico.

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