oftalmologia

Há 100 anos surgia o Penido Burnier

Instituto campineiro, referência no tratamento da visão, completa amanhã um século de existência

Francisco Lima Neto
31/05/2020 às 10:27.
Atualizado em 29/03/2022 às 10:34

O Instituto Penido Burnier (IPB) completa seu primeiro centenário amanhã. O instituto faz parte da história de Campinas. História que começou a ser escrita quando seu fundador, Dr. João Penido Burnier, se estabeleceu na cidade, em 1910. Burnier nasceu em Alagoinhas, uma província da Bahia, no dia 17 de outubro de 1881. Era filho do engenheiro Miguel Noel Nascentes Burnier, que estava fazendo uma obra naquela cidade e, por isso, se mudou para lá com a esposa grávida.  A família se mudou para o Rio de Janeiro quando ele ainda era bebê. Por lá permaneceu até os 12 anos, quando seu pai morreu. Junto da mãe, se mudou para Juiz de Fora, em Minas Gerais, onde ficou sob os cuidados do avô materno, que era médico e político. Depois de estudar em Juiz de Fora e em Barbacena, voltou ao Rio de Janeiro onde estudou no Externato Aquino e no Colégio D. Pedro II. Em 1898 ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Foi interno da Clínica Oftalmológica do Professor Joaquim Xavier Pereira da Cunha, interno-residente do Hospital da Marinha de 1901 a 1903 e auxiliar-acadêmico da Assistência Pública Municipal. Com a tese “Simpactectomia no tratamento do Glaucoma”, conseguiu o doutorado em 1903, e no ano seguinte, foi nomeado inspetor sanitário, após concurso presidido por Oswaldo Cruz. O médico se casou em 1906, mas ficou viúvo apenas seis meses depois do matrimônio. Em 1907 viajou à França para frequentar o Curso de Oftalmologia do Professor Félix de Lapersonne, em Paris, durante um ano. Aquele país é considerado pioneiro na oftalmologia. No retorno ao Brasil, atuou na Comissão de Profilaxia e Tratamento do Tracoma em São Paulo, na Policlínica do Botafogo, no Rio de Janeiro, no Hospital da Misericórdia José Carlos Rodrigues e em seu consultório. Desde a primeira especialização na Europa, seus pensamentos já eram povoados pelo desejo de instalar no Brasil um instituto especializado na saúde dos olhos. Sua trajetória começou a se desenhar nesse sentido quando em 1910 se mudou para Campinas, onde trabalhou na Companhia Paulista de Estradas de Ferro como médico clínico dos funcionários. Burnier voltou à França em 1913 para estudar no Hospital Laboissière, em Paris. Voltou no ano seguinte e abriu um consultório na cidade, depois o transformou em uma pequena clínica, com quatro leitos para as intervenções. Finalmente, em 1920, ele fundou o Instituto Oftalmológico de Campinas, com consultório e hospital. Conforme a demanda aumentava, as instalações eram ampliadas. Em 1923, o local passou a se chamar Instituto Penido Burnier. Já em 1927, foi fundada a Associação Médica do Instituto Penido Burnier para promover o encontro entre as atividades médicas e científicas do hospital. Com pouco mais de 10 anos de existência, conquistou notoriedade pela recuperação da visão de centenas de pessoas afetadas por duas doenças oculares infecciosas: tracoma e cisticercose, que na época se tornaram epidemia no País devido às condições sanitárias precárias que atingiam grande parte da população brasileira. João Penido Burnier se destacou no combate ao tracoma, enquanto a cisticercose foi reduzida pela pesquisa incansável em anátomo patologia do braço direito do fundador, o oftalmologista Leôncio de Souza Queiroz, avô do atual presidente do hospital, Leôncio Queiroz Neto. Esses trabalhos constam na primeira publicação dos Arquivos do Instituto Penido Burnier, uma das mais antigas e respeitadas revistas da especialidade, iniciada a partir de 1932. Leôncio Queiroz Neto, presidente do IPB, não esconde a satisfação com o centenário. "É uma data muito importante para nós. Em um país que tem a idade do nosso, 100 anos é muito representativo. O IPB sobreviveu a várias pandemias, quebra da Bolsa de Nova Iorque, ao Estado Novo, conforme as atas, sempre com trabalho, serenidade e prudência diante das adversidades", diz. SAIBA MAIS O Instituto Penido Burnier é o primeiro hospital especializado em Oftalmologia do Hemisfério Sul e é pioneiro no transplante de córnea no Brasil.  Foram necessários 40 anos de atendimento médico e pesquisa para que o hospital ocupasse os atuais 10 mil metros quadrados de construção. Esse crescimento ao longo do tempo dificultou encontrar a cápsula do tempo com a pedra fundamental da instituição. Em 1960 se tornou referência internacional e em 1965 foi criada a Fundação Dr. João Penido Burnier, braço social do hospital que hoje oferece 1.500 consultas e 500 cirurgias pelo SUS, para Campinas e região. O IPB conta com uma equipe de 40 médicos, que realiza 5 mil consultas, 400 cirurgias e 900 consultas de pronto atendimento por mês. Cápsula do tempo vai ser enterrada e aberta em 2120 De acordo com atas encontradas, no dia 1º de junho de 1926, quando o IPB já tinha seis anos e crescia em atendimento e importância, uma cápsula do tempo foi enterrada para ser aberta no centenário. "De acordo com a ata, essa cápsula tinha moedas da época e o jornal do dia, entre outros. A ata dizia que no dia 1º de junho de 2020 ela deveria ser desenterrada, aberta e enterrada outra cápsula do tempo para ser aberta novamente depois de outros 100 anos", conta Leôncio Queiroz Neto, presidente do IPB. A frustração é que a primeira cápsula não foi localizada, mesmo com auxílio da tecnologia. "Não conseguimos achar a cápsula. Achamos a ata, fizemos estudo cartográfico porque a Avenida Andrade Neves foi alargada, foi usado ultrassom, perfuramos e não achamos. Toda a tecnologia foi usada, procuramos por uns seis meses e nada. Foi a maior frustração. O prédio mais novo foi feito em 1955. Pode ser que tenha sido feito em cima de onde estava a cápsula", explica o médico. Contudo, Queiroz Neto já deixou tudo preparado para a nova cápsula que vai ser enterrada amanhã para ser aberta somente no dia 1º de junho de 2120. "Já está tudo pronto, com materiais que suportam até terremotos e mais de 150 anos de duração. Essa cápsula vai ter as moedas de 1920, moedas atuais, fotos do corpo clínico e equipe, e esse Baú de Histórias, do Correio Popular, contando sobre os primeiros 100 anos do Instituto Penido Burnier", diz animado. "Pensei em colocar as informações em um CD ou pen-drive, mas a tecnologia muda tanto. Vai saber como estará em 100 anos e se conseguiriam acessar. Mas com o jornal e foto impressa não tem risco", completa Queiroz Neto. Ele deseja que quando o segundo centenário chegar, a sociedade esteja melhor. "Vamos ter de repensar as maneiras de produção e o ser humano vai ter de evoluir com mais solidariedade. Estamos ficando muito tecnológicos e pouco humanos. Uma coisa que não muda é a parte humanística do relacionamento médico-paciente", conclui. O enterramento da nova cápsula deve acontecer a partir das 10h, mas desta vez não há o risco de o artefato se perder já que estará bem indicada a sua localização.

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