Além de vencer os obstáculos inerentes às mulheres do século 21, assistente social supera limites
Além de presidir o Núcleo de Direito da Pessoa com Deficiência Estadual, Ellen Ribeiro ainda invade as redes sociais como digital influencer (Leandro Ferreira/AAN)
Desistir nunca foi uma opção para Ellen Ribeiro, de 33 anos. Cadeirante, ela se graduou em Serviço Social, passou em um concurso público na área da Saúde e se tornou palestrante e digital influencer. A autoestima virou seu lema de vida após vencer os desafios que começaram quando ela ainda tinha apenas 4 anos de idade e foi diagnosticada com Artrite Reumatoide Juvenil, uma doença inflamatória crônica que acomete as articulações e outros órgãos, como a pele, os olhos e o coração. No País, a incidência da doença ainda é pouco conhecida, segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia. Dados da América do Norte e da Europa indicam que cerca de 0,1 a 1 em cada 1.000 crianças tem o problema. Dores e dificuldade de mobilidade marcaram a infância e adolescência de Ellen. “Na época não se tratava de uma doença comum, então, quando tive os primeiros sintomas, que fizeram um estrago enorme, cheguei a passar dois anos atrás de um diagnóstico. Fui tão enganada pelos médicos. Um deles chegou a dizer que eu sobreviveria até os 13 anos de idade apenas”, contou a funcionária pública. Com a expectativa de vida reduzida, ela e os pais decidiram então que era hora de parar com a medicação e viver pela fé. “Não sugiro isso para ninguém, aliás, nunca tome essa decisão sozinho. Mas baseado em tudo que ouvi dos especialistas, tomei junto com os meus pais, a decisão de deixar o tempo curar”, lembrou. Ellen contou com a força da família. “Meus pais foram os melhores parceiros do mundo, abriram mão de muita coisa e venderam bens para cuidar da minha saúde. Tenho muita gratidão”, completou. Na época, a cartilagem do joelho de Ellen secou, uma das sequelas da doença, deixando completamente sem movimento e na cadeira de rodas. “Recebi naquela época a proposta de uma cirurgia para resolver o problema da atrofia. Meus pais resistiram à ideia, mas após pensar muito e como tinha uma vida muito ativa, eu apostei na equipe médica. Sem sucesso devido à falta de conhecimento do problema e até a falta de equipamentos na cirurgia, além de ficar em coma por um período, eu definitivamente não voltei a andar.” Desafios Devido ao tratamento e a todas as dificuldades, Ellen tinha deixado os estudos de lado, parando na 3ª série do ensino básico. Aprendeu a se aceitar e decidiu fazer Supletivo. Na sala de aula, ela sofreu preconceito por ser cadeirante e chegou a ser agredida por uma colega de classe. Formada, entrou para a faculdade, onde cursou Serviço Social. Na esperança de ser aceita, ela sofreu ainda mais preconceito até da própria professora. “Quando eu fazia algum questionamento, ela respondia: ‘Daqui a pouco’. E nunca sanava as minhas dúvidas. Portanto tive de me esforçar o dobro para provar para ela, e para mim mesma que eu era capaz”, contou. Faltando apenas um mês para se formar na universidade, ela resolveu disputar um concurso público e passou na rede pública de Saúde de Hortolândia. “Estudei muito, fui muito determinada. Me lembro até hoje como eu chorei de emoção naquele dia vitorioso. Sabe, eu não me acho, eu me admiro. Não me desafie”, alertou Ellen, que é chamada por alguns amigos de Pimentinha ou rebelde, já que segundo ela, é uma mulher cheia de garra e guerreira. Superação Com dez anos de carreira como assistente social, ela se orgulha de sua trajetória cheia de obstáculos. “Eu me fortaleci e quebrei muitas barreiras. Tenho uma vida completamente normal. Vou a praia, tomo banho de cachoeira, namoro e tenho uma vida extremamente ativa socialmente, vencendo as barreiras e até os padrões de beleza”, falou. Ela acredita que as mulheres têm sofrido muita pressão com relação à imagem e ao seu corpo. “Mas saibam que o que importa é a mente e o caráter”, defende. Vendendo otimismo cotidiano e serenidade para aceitar suas condições físicas, a assistente social passa a receita da felicidade. “Se você pode melhorar alguma coisa na sua vida e até no seu corpo, faça isso, do contrário aceite e saiba que você pode ser feliz. Pode ser alguém, ter uma profissão, amar e ser amada, ter uma família e também filhos se quiser, mas primeiro, se ame.” Atualmente como presidente de um Núcleo Regional III do Direito da Pessoa com Deficiência Estadual, a profissional ajuda pessoas na mesma situação que ela, realizando palestras sobre inclusão, empoderamento feminino e autossuficiência financeira e psicológica. “Estou fazendo a minha parte. No Núcleo, garanto que as tantas legislações que temos sejam cumpridas e que as políticas públicas sejam realmente eficientes para as pessoas com deficiência”, explicou. Já o projeto de digital influencer de Ellen é recente. Ela teve a ideia em dezembro do ano passado. “É um projeto que está crescendo e sendo visto. Recebi muitos nãos na vida e esse novo trabalho faz parte de um sim”, contou. No novo trabalho, ela atua nas áreas de publicidade, serviços, cobertura de eventos, alimenta um canal no YouTube, que conta além da sua história, experiências pessoais. A assistente ainda realiza desfiles de moda, workshop e roda de conversa. Outro projeto é a abertura de uma empresa de consultoria de imagem. “Assim como eu me ajudei, agora eu ajudo outras pessoas e retribuo ao universo tudo que ele me deu”, afirmou. Entre os sonhos realizados por ela, estão viagens ao Rio de Janeiro e Buenos Aires e até andar a cavalo. Desafios ainda são uma constante na sua vida, mas vencê-los são sua maior motivação. “Não seja egoísta, não culpe os outros pela sua deficiência. Ajude o próximo. Você merece ser feliz”, finalizou com toda autoridade.