Com o fechamento das agências, os moradores de Campinas tiveram que reagendar atendimento para maio (Sinsprev/Divulgação)
Milhares de pessoas ficaram sem atendimento ontem nas agências do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) na Região Metropolitana de Campinas (RMC) devido à greve dos médicos peritos, deflagrada por tempo indeterminado. A interrupção no serviço resultou em uma espera ainda maior para os beneficiários da região, que tiveram que voltar sem atendimento e foram obrigados a remarcar consultas para o fim de maio. O maior prejuízo foi para as pessoas que dependem do aval dos peritos para começar a receber o auxílio financeiro ou para retornar aos seus postos de trabalho.
No Brasil, 3,5 mil médicos peritos do INSS paralisaram ontem as atividades. A paralisação teve início uma semana após a greve nacional dos demais 18 mil servidores do INSS.
Em Campinas, houve uma adesão parcial à paralisação na agência da rua Barreto Leme, no Centro, que atende presencialmente cerca de 250 a 300 pessoas por dia. Aproximadamente 30% dos servidores continuaram trabalhando ontem, porém foi interrompido em sua totalidade o serviço de perícia médica, setor responsável pela emissão das licenças dos trabalhadores impossibilitados de desenvolver suas atividades. Na unidade da Avenida das Amoreiras, no bairro São Bernardo, houve ampla adesão e, por isso, o local ficou fechado durante o dia de ontem.
A adesão foi total nas agências dos municípios de Sumaré, Santa Bárbara d'Oeste e Americana. Já na cidade de Indaiatuba, a adesão foi parcial. Vale destacar que dez cidades não possuem agências e os atendimentos são direcionados para os municípios vizinhos. É o caso de Águas de Lindóia, Estiva Gerbi, Holambra, Jaguariúna, Lindóia, Monte Alegre do Sul, Monte Mor, Morungaba, Paulínia e Pedra Bela.
Os médicos reivindicam ao Ministério do Trabalho e Previdência um reajuste salarial de 19,99%, para corrigir perdas inflacionárias desde 2019. Pedem também que seja estabelecido o número máximo de 12 atendimentos presenciais por dia para cada servidor e a realização de concurso público para novas contratações.
A Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência Social (ANMP) informou, por meio de nota, que representantes da categoria se reuniram virtualmente com membros do governo federal na terça-feira passada e que não houve acordo. A nota diz: "Ao contrário do compromisso original, firmado após a primeira mobilização da carreira, o governo informou que já não atenderia mais todas as reivindicações da categoria e que pontos essenciais como o reajuste salarial e a promoção de concurso público seriam abandonados".
A recomendação dada pelos peritos e servidores do INSS aos beneficiários prejudicados pela greve foi de reagendar o atendimento. A nova data pode ser solicitada por meio do site ou do aplicativo Meu INSS, do governo federal. Além do agendamento de perícia, outros serviços podem ser realizados por meio do aplicativo, como a prova de vida (por biometria) o acesso à carta de concessão e emissão do extrato de pagamentos. Apesar disso, ontem o aplicativo ficou inoperante na maior parte do dia.
Ontem, a greve dos 18 mil servidores do INSS em todo o País completou uma semana. A paralisação foi anunciada no dia 26 pelo Comando Nacional de Mobilização da Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social. Da mesma forma que os peritos, os servidores exigem reajuste de 19,9% nos salários, com correção da inflação desde 2019. Eles também pedem arquivamento da Proposta de Emenda da Constituição (PEC) número 32, a chamada Reforma Administrativa, revogação da Emenda Constitucional 95/2016 (o Teto de Gastos), melhores condições de trabalho, e plano de carreira.
Cristiano Machado, diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Previdência e Assistência Social no Estado de São Paulo (Sinsprev/SP) e integrante da Fenasps, destacou que a categoria divulgou uma carta aberta à população para explicar os motivos da greve. "Os servidores do INSS estão há cinco anos sem reajuste", justificou.
Segundo Machado, outras categorias de trabalhadores contratados pela CLT têm a sua data base, porém os servidores públicos federais não têm."Infelizmente, dependemos da boa vontade do governo e também de movimentos de mobilização para conseguirmos a reposição", afirmou.
O dirigente sindical afirmou que existe mais de 1,8 milhão de processos pendentes de análises no INSS no País e não há redução nessa situação devido a uma política de descaso. "São 18 mil servidores ativos e 23 mil cargos vagos no INSS que poderiam ser preenchidos pelo governo. Por isso, é fundamental abertura de concurso público urgente", disse.