Grafiteiro transforma paredes de córrego em obra de arte

Transformar o espaço urbano com pouca visibilidade em obra de arte. Foi isso que o artista plástico e grafiteiro Fernando Madeira, de 33 anos, fez neste domingo (10), numa das paredes que envolve o Córrego Proença, que passa pelo cruzamento das avenidas Norte Sul e Orosimbo Maia.

Nas mãos de Madeira, a área desprezada da paisagem da cidade e que muitas vezes só chama a atenção quando transborda em épocas de chuva ou causa algum transtorno na rotina da população, acabou virando o centro das atenções graças à leveza e ao bom humor do artista.

"Minha ideia é transformar o esgoto numa galeria de arte. Dar vida e cores num local sem visibilidade, sujo, que é fora da realidade e foge do convencional" , comentou Madeira. Há um mês ele escolheu o espaço para grafitar sua obra.

Por ter uma forte ligação com o mundo infantil, o artista gosta da representação de cores. "Quanto mais vivas são, mais bonito fica. E o desenho se torna simultaneamente sintético e orgânico. Cores tão vivas que parecem artificiais, mas são elas que dão vida ao desenho", afirmou o artista. Por isso, a obra é um verdadeiro emaranhado de cores e formas, representando a complexidade da vida.

Para representar toda esta expressão no espaço escolhido do córrego, Madeira criou um personagem lúdico que é metade menina e metade barco, num desenho de 5 metros de extensão. "É para mexer com a imaginação das pessoas, que verão ora uma menina e, em outro instante, um barco" , comentou ele. Entre os tons usados, prevalecem o amarelo, vermelho e azul. A obra ficará pronta daqui a quatro dias. O desenho é parte de um projeto de curta-metragem feito pela Produtora Frame, cuja previsão de exibição será daqui a 20 dias em redes sociais como Facebook. O filme contará a história de um homem que se estressa da vida e acaba dentro de um esgoto, onde vai se libertar através da arte.

A sensibilidade e talento em traços, cores, técnicas e materiais diversificados são a marca registrada do artista plástico. Madeira começou a pintar há 13 anos e tatua há 18. Suas pinturas são feitas em qualquer material que possa ser reaproveitado, como madeiras velhas, metais enferrujados e objetos em desuso. "Não jogo nada fora, nem minhas latas de spray, tenho todas guardadas. Tudo pode ser reaproveitado de alguma forma. Acho que o acumulo é um problema", ponderou o campineiro.

Crítico à poluição visual e entusiasta da música, os trabalhos do artista representam uma aversão ao superficialismo da sociedade, expressa em obras figurativas dentro de uma ótica surreal. Há três anos, Madeira montou sua galeria de arte e também estúdio de tatuagem em Campinas, onde expõe o seu trabalho e de outros artistas, a Galeria Perímetro Urbano.