Imagem retrata em pilastra do viaduto fachada antiga da Catedral Metropolitana de Campinas
A imagem, em grafite, traz o retrato da fachada antiga da Catedral Metropolitana (Leandro Torres/AAN)
Quem passou sob o Viaduto Laurão ontem se deparou com um cenário novo no ambiente. Uma das pilastras de sustentação do local, que fica entre as avenidas Norte-Sul e Princesa d’Oeste, está recebendo uma arte em homenagem a Campinas, que deve ser finalizada hoje. A imagem, em grafite, traz o retrato da fachada antiga da Catedral Metropolitana, uma das atuais sete maravilhas do município. Desfocado, ainda aparece um bonde, remetendo à Campinas do início do século 20. O responsável pelo trabalho é o campineiro Gustavo Nénão, de 35 anos. Ele é um dos grafiteiros mais conhecidos do Brasil na atualidade, tendo desenvolvido seus trabalhos pelas ruas de dezenas de países. Segundo Nénão, a ideia de homenagear Campinas retratando a cidade de antigamente num dos pontos mais movimentados da cidade já vinha desde a infância: “Eu estudava no Colégio Pio XII e desde criança, quando passava embaixo do Laurão, já pensava em pintar um dia aqui, retratar minha cidade natal”, conta. A paisagem revigorada do local contrasta com a realidade de alguns anos, quando gangues de pichadores “brigavam” por cada metro dos muros de concreto e das pilastras de sustentação por baixo do viaduto. A área ainda convive com a presença constante de moradores de rua e usuários de droga, principalmente no período noturno. Para Nénão, a arte pode auxiliar a transformar a vida das pessoas que convivem na região. “A arte tem esse papel de transformar vidas. A gente bate um papo, incentiva as pessoas a correrem atrás dos seus objetivos. A minha profissão não é das mais convencionais, mas quando se batalha, as coisas acabam acontecendo. Espero que este trabalho possa influenciar positivamente a juventude nesse sentido também”, disse o grafiteiro, que mantém um tom de suspense antes de concluir a obra. “Tem uma surpresa que ainda vai ser revelada”, prometeu. Nénão iniciou a arte na última segunda-feira. Além das latas de spray, ele conta com uma estrutura de andaime para alcançar os pontos mais altos da parede e uma bandeira do Brasil, que carrega em todas ruas onde é chamado para trabalhar. Mesmo antes do trabalho realizado, a obra do grafiteiro atraiu olhares curiosos de motoristas e pedestres que passaram pelo local no dia de ontem. Na semana passada, Gustavo Nénão voltou de uma turnê pela Europa, onde fez trabalhos em grafite por Portugal, Bélgica e Inglaterra. Em Londres, ele arrecadou R$ 80 mil por meio do leilão de duas artes, cujo recurso será destinado a uma organização não governamental (ONG), que vai construir um novo poço artesiano em uma região da África do Sul. Países como Chile, Bolívia, Argentina, Uruguai, Espanha, Holanda, Bélgica, França, Inglaterra, Portugal, Itália, Alemanha, Hungria, Áustria, Croácia, Eslovênia, Eslováquia, República Tcheca, Moçambique, África do Sul e Estados Unidos já se renderam ao talento do campineiro. A convite da ex-primeira-dama norte americana, Michele Obama, Nénão também foi o único brasileiro a integrar um seleto grupo de artistas de diferentes nacionalidades para uma exposição em Nova York. A arte do grafite é uma forma de manifestação artística em espaços públicos, que tem como principal forma de expressão refletir a realidade das ruas.