As investigações da chacina e do assassinato do MC Daleste foram transferidas para a Capital
Em um momento em que a segurança pública de Campinas está em xeque, o Estado resolveu trocar a cúpula das polícias Civil e Militar da cidade. Nesta terça-feira (1º), o diretor do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior (Deinter-2), Licurgo Nunes Costa, deixou o cargo e foi substituído pelo delegado Kleber Altale, que era responsável pela Delegacia Seccional no Centro de São Paulo e já ocupou a função no ano de 2007. Ele assume a cadeira ainda nessa semana. Na PM, o coronel Carlos de Carvalho Junior deixou de ser o comandante do Comando de Policiamento do Interior - 2 (CPI-2) na última sexta-feira (28). Hoje deve ser publicado no Diário Oficial do Estado a nomeação do coronel Marcelo Nagy como o novo comandante. Nagy era subcomandante do CPI-2 e, antes disso, atuou na Capital. Intervenção Além da troca dos comandos regionais a secretaria estadual promoveu uma intervenção em dois crimes de repercussão nacional ocorridos na cidade e que até o momento não tiveram uma linha sólida de investigação e nem conclusões. A pasta estadual ordenou que eles passassem a ser investigados exclusivamente pelo Departamento de Homicido e Proteção à Pessoa (DHPP), em São Paulo.Um é o caso da chacina que vitimou 12 pessoas na região do Vida Nova, em janeiro deste ano, e o outro é o assassinato do MC Daleste, ocorrido em julho do ano passado. Os documentos das apurações feitas pela investigação de Campinas foram enviados nesta terça-feira para o DHPP, que já havia dado apoio nos dois casos.A mudança no Deinter aconteceu logo após uma sucessão de erros administrativos cometidos por Nunes logo após a abertura da 2ª Delegacia Seccional, no Jardim Londres. O delegado anunciou que com a inauguração da nova unidade fecharia o plantão do 9º Distrito Policial, no Jardim Aeroporto, passando os plantonistas e o atendimento para a Seccional. Porém, a ação causou revolta de moradores e comerciantes do entorno, que protestaram contra a atitude da polícia de Campinas (eles teriam que percorrer 8 quilômetros para chegar na nova unidade). Reabertura Dois dias após o anúncio, o secretário de Estado da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, ordenou a reabertura do distrito no período noturno. Dias depois, mais uma vez, o então diretor do Deinter desativou o plantão do 5º DP, no Jardim Amazonas, o que também provocou a indignação da população do bairro. O secretário de Estado, de novo, ordenou a reabertura da unidade que já estava fechada. A intenção do Deinter era aumentar o número de policiais que trabalhariam na 2ª Seccional. Nos bastidores da polícia, a atitude desgastou a imagem do diretor. Licurgo, porém, afirmou que sua saída faz parte da "rotatividade natural" da categoria e fez um balanço dos dois anos e nove meses que ficou à frente do Departamento. "Sempre me pautei por um planejamento, almejando dias melhores para a Polícia Civil, o que inclui a implantação da 2ª Seccional", disse. A nova delegacia, no entanto, é alvo de críticas por oferecer apenas um plantão policial disponível e sem nenhuma equipe de investigadores, distribuindo os casos às delegacias que já estão saturadas de inquéritos. Mas Licurgo afirmou que "Campinas vai ter orgulho dessa 2ª Seccional." Adequação "É preciso de adequação para abrigar as especializadas (2ª DDM, Dise e DIG) para ter o incremento da investigação, aliando as coisas ao seu tempo, imóveis e recursos humanos." Em um mês, nenhum processo licitatório foi aberto para o início das obras de adequação do prédio para instalação das delegacias. Apesar dos problemas administrativos, Licurgo disse que "administrativamente e operacionalmente, a Polícia Civil está em alta." "Tenho plena certeza de dever cumprido. Deixo a Polícia muito mais forte." O delegado irá atuar como assistente da Delegacia Geral de Polícia, em São Paulo.O drama da falta de estrutura e, principalmente, de pessoal nas delegacias da cidade, acompanharam os quase três anos em que Nunes ficou no comando do Deinter. Em 2012, o juiz corregedor dos distritos policiais e delegacias, Nelson Augusto Bernardes, chegou a enviar um relatório ao governo do Estado após fazer correições nos locais, onde apontava que a corporação estava sucateada e à beira de um colapso. A defasagem de policiais, segundo o sindicato da categoria, é de ao menos 330 profissionais. Treze delegacias de Campinas têm o número de policiais abaixo do que é exigido por uma resolução criada pela própria secretaria estadual. O déficit em todas elas chega a 138 profissionais. Deveriam ser 273 profissionais, mas há apenas 135. O número não considerou os plantões policiais. Ações pontuais Para enfrentar os índices criminais alarmantes na cidade, que no ano passado somou 14 latrocínios (em 2012 foram 6) as polícia se uniram à secretaria de Estado e ao poder executivo e criaram o Gabiente Integrado de Segurança (Gamesp). Na época, algumas ações pontuais foram tomadas e outras ainda não saíram do papel. A PM de Campinas não informa o motivo da alteração da troca de comando do CPI-2. O coronel Carlos de Carvalho Junior estava no comando da área há um ano e deixou o cargo alegando aposentadoria após 35 anos de serviços prestados. Em seu lugar assume o também coronel Marcelo Nagy, que antes de assumir o subcomando do CPI-2 era comandante do 16º Batalhão de Policia Militar Metropolitano.