REFORÇO NA ONCOLOGIA

Governo Federal destina R$ 19 milhões para tratamento de câncer em Campinas

Recursos serão distribuídos entre Mário Gatti, PUC-Campinas e Unicamp

Isadora Stentzler/ [email protected]
20/10/2023 às 09:16.
Atualizado em 20/10/2023 às 09:16
São realizadas mil quimioterapias por mês apenas no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp (foto), três vezes mais do que o valor contratado; pandemia de covid-19 ampliou demanda reprimida e lista de espera (Kamá Ribeiro)

São realizadas mil quimioterapias por mês apenas no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp (foto), três vezes mais do que o valor contratado; pandemia de covid-19 ampliou demanda reprimida e lista de espera (Kamá Ribeiro)

O Ministério da Saúde anunciou o repasse de R$ 19.004.879,94 para o tratamento de câncer, em Campinas. Os recursos serão distribuídos entre o Hospital de Clínicas da Unicamp (HC), que receberá R$ 11,2 milhões, Hospital PUCCampinas, R$ 5,6 milhões, e Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, R$ 2,1 milhões. As verbas devem auxiliar na manutenção do tratamento oncológico nas unidades, mas são insuficientes para ampliar atendimentos, afirmam representantes dos hospitais.

Os valores serão pagos durante o ano. Para o HC, o montante total será de 11.240.751,24, divididos em parcelas mensais de R$ 936.729,25. Segundo a superintendente do HC da Unicamp, Elaine Cristina de Ataide, embora o valor total pareça alto, ele não será capaz de ampliar os serviços de oncologia oferecidos. Atualmente, o HC realiza mil quimioterapias por mês.

“O dinheiro ministerial que vem é um dinheiro que já tenta auxiliar os atendimentos para fazer com que eles continuem se mantendo”, destaca. Esse aporte, explica Elaine, será dividido entre todas as áreas que atendem oncologia na Unicamp (além do HC, o Hemocentro, Caism e Gastrocentro). A divisão da verba será feita de acordo com a produção de cada uma das unidades. A superintendente afirmou que o próprio governo federal vê com bons olhos a iniciativa de partilhar o recurso desta maneira.

“No âmbito da saúde essa verba não é suficiente para ampliação, é suficiente pra manutenção, uma vez que somos contratados, atualmente, para fazer 300 quimioterapias e já fazemos mil. E mesmo com essas mil, nós temos um déficit populacional. Poderíamos aumentar para 2 mil para tentar diminuir a taxa de represamento.”

Elaine aponta que seria necessário um aporte maior para suportar uma ampliação de vagas e realizar novas cirurgias. O HC já possui um projeto para isso, apresentado ao governo do Estado de São Paulo. É por meio dele que o objetivo de dobrar as quimioterapias, passando de mil para duas mil. A superintendente explica que isso se faz necessário porque o HC ainda lida com o represamento causado na pandemia, o que gerou aumento na fila de espera.

Para a Rede Mário Gatti de Urgência, Emergência e Hospitalar, o valor a ser recebido será de R$ 2.158.582,64. O presidente da Rede, Sérgio Bisogni, tem uma visão semelhante à da superintendente do HC, de que o aporte não será suficiente para ampliar os atendimentos.

“O recurso é bem-vindo, mas não resolverá os problemas de financiamento”, afirma. “Esse valor equivale praticamente ao custo mensal do tratamento oncológico, que gira em torno de R$ 2,3 milhões, contando despesas com pessoal, medicação, manutenção predial, entre outros. Gostaria que tivesse constância no repasse de verbas, porque o movimento que a Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) absorve é grande. E à medida que temos mais recursos, podemos ampliar o atendimento.”

A Unacon tem atualmente 786 pacientes em tratamento, sendo 318 em quimioterapia, 92 em radioterapia e 376 em hormonioterapia.

Para receber o atendimento, pacientes com alguma alteração na saúde devem procurar uma unidade básica de saúde e, diante de suspeita de câncer, haverá o encaminhamento a um ambulatório de especialidade ou hospital, onde o médico especialista fará uma avaliação e solicitará os exames necessários para a identificação do câncer.

Se o diagnóstico for confirmado, a Central de Regulação do Município agendará o tratamento na Unacon. Na unidade, o paciente passará por consulta com oncologista, que avaliará o grau de agressividade da doença, o estágio em que ela está e definirá o melhor tratamento a ser adotado para o caso.

O Hospital PUC-Campinas receberá o montante de R$ 5.605.546,06, mas a entidade não respondeu aos questionamentos até o fechamento desta edição.

PERFIL DE CASOS

O tratamento do câncer pode ser feito através da cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou transplante de medula óssea. Em muitos casos, é necessário combinar mais de uma modalidade.

Maria da Silva Pereira, de 60 anos, mora em Sumaré e fazia sua última quimioterapia no HC na tarde de quinta-feira (19). Ela começou o procedimento no mês de julho, após descobrir um câncer no intestino. Desde então, ela precisava ir ao HC a cada 21 dias.

“Hoje é minha última, mas agora vou começar com a radioterapia”, conta, sentada em uma das cadeiras em que realizava o procedimento.

Desde que descobriu o câncer, Maria precisou mudar os hábitos. Ela sentia muito enjoo e precisou se livrar dos temperos na comida, além de precisar contar ainda mais com apoio das filhas. “Vivo com uma filha e ela faz tudo. Fico longe do fogão. Como descobri o câncer, também tive que parar de trabalhar e ainda não me aposentei, mas tenho sido bem atendida toda vez que venho aqui”, disse à reportagem.

Sem saber muito o que comentar sobre o financiamento da oncologia, Maria concluiu que toda ajuda para o tratamento de câncer deve ser bemvista.

De acordo com dados de 2017, o câncer, como grupo de doenças, foi responsável por cerca de 20% das mortes em Campinas, ficando atrás somente das doenças cardiovasculares. Os casos mais comuns, conforme a Secretaria Municipal de Saúde de Campinas apresentou em 2018, foram o câncer de próstata, de mama, de cólon e reto.

Entre as mulheres, o câncer de mama correspondia, na época, a 28,7% dos casos da doença na cidade, seguido de cólon e reto (12,6%) e glândula tireoide (8,25).

Nos homens, o de próstata representava 29,1% dos casos. O câncer de cólon e reto é o segundo tipo que mais atingiu os homens, correspondendo a 11,3% dos casos da doença e, em terceiro lugar na população masculina, aparece o câncer de traqueia, brônquios e pulmões (6,7%).

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