CENTRO ESPORTIVO E RECREATIVO

Governo estuda repassar ‘Estádio da Mogiana’ à iniciativa privada

Informação foi revelada pela Secretaria Estadual de Esportes; alienação exigiria atividade esportiva como contrapartida

Luis Eduardo de Sousa /[email protected]/Eliane Santos/[email protected]
11/05/2024 às 11:18.
Atualizado em 11/05/2024 às 13:54
Espaço está interditado há 15 meses; arquibancada do estádio corre risco de desabar e preocupa a população que aproveitou o local durante anos (Alessandro Torres)

Espaço está interditado há 15 meses; arquibancada do estádio corre risco de desabar e preocupa a população que aproveitou o local durante anos (Alessandro Torres)

O governo estadual avalia transferir o Centro Esportivo e Recreativo de Campinas "Dr. Horácio Antônio da Costa", o Cerecamp, popularmente conhecido como Estádio da Mogiana, à iniciativa privada. A informação foi revelada ontem pela Secretaria Estadual de Esportes, após 15 meses de interdição da área.

Apesar disso, a Pasta ainda não tem um plano concreto sobre como o processo deve acontecer, tampouco o modelo a ser adotado para que essa transferência se consolide. Em resposta à falta de definição para o espaço, a Secretaria se limitou a informar que ainda estuda opções para resolver a situação da área que se encontra no centro de um impasse entre os governos municipal e estadual.

Em fevereiro do ano passado, a secretária estadual de Esportes, coronel Helena Reis (Republicanos), esteve em Campinas e se reuniu com a Prefeitura para tratar do assunto. À época, o Estado havia definido a interdição total do local, administrativa e fiscal.

Adicionalmente, a decisão estadual previa que fossem tomadas três medidas emergenciais durante o período de interdição por causa da atual estrutura Cerecamp: emissão de um laudo técnico para detectar as condições individuais dos equipamentos que fazem parte do Cerecamp, adoção de medidas cautelares, caso seja constatado risco de desmoronamento de quaisquer dos equipamentos existentes no local, e elaboração de um projeto básico e executivo com o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). O último ponto, no entanto, pouco evoluiu desde então.

Além disso, a estrutura segue em acentuado desgaste, incomodando comerciantes e populares e a própria Administração municipal, que vê o estádio como um impasse para o avanço das ações de revitalização do Centro e suas adjacências.

Localizado em área nobre da cidade, o Jardim Guanabara, e ao lado do Instituto Cultural Nipo Brasileiro de Campinas, o Estádio da Mogiana é um dos espaços mais populares da metrópole e é amplamente querido pela população. Nas últimas décadas, foi palco de centenas de competições esportivas que lotavam suas arquibancadas. Pouco antes de ser interditado, servia como uma praça, providenciando um espaço para a prática de caminhada e corrida. Além de ser tombado pelo Condephaat, o Cerecamp também é tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), de modo que qualquer intervenção exige autorização de ambos os órgãos e suas características originais precisam ser mantidas.

IMPASSE

O fato de pouco ter avançado o projeto para dar um destino ao Cerecamp é um problema para a Prefeitura, que não pode fazer nenhum aproveitamento da área. Sem dar muitos detalhes, o Estado informou que avalia a alienação a alguma empresa que possa oferecer alguma atividade esportiva como contrapartida, mas não há sequer o detalhamento sobre esse possível serviço e se ele seria público ou privado.

Em nota, a Prefeitura explica que foi incisiva sobre uma definição para espaço, que é importante para integrar a revitalização do Centro de Campinas. “O governo do Estado informou que tem um projeto para restauração e reestruturação do local. O prefeito foi incisivo sobre o Estado apresentar diretrizes para o Centro (Esportivo). A Prefeitura, no entanto, não pode fazer intervenção nem manutenção no espaço, que pertence e está interditado pelo governo estadual.”

Enquanto a indefinição predomina a discussão sobre o assunto, as paredes que sustentam o prédio histórico e tão querido pela população campineira sucumbe às intempéries. Em setembro do ano passado, uma reportagem do Correio Popular revelou que a falta de manutenção contribuía para a apreensão e receio da população local. À época, um trecho da laje que cobre o portão de entrada havia desabado após uma chuva, caindo sobre a calçada. Parte do muro também estava despencando.

Ontem, a reportagem constatou que a situação é ainda pior. Nenhum trabalho de reparo foi feito desde então, e o desgaste se acentua dia após dia. Há risco de desabamento em várias partes da edificação. Por cima do muro, é possível reparar que apenas o gramado do campo de futebol recebe poda.

INCÔMODO

Dono de uma lanchonete em frente ao portão de entrada há pelo menos oito anos, Márcio Alessandro Carlini, de 49 anos, conta que apenas os seguranças contratados pelo governo estadual frequentam o espaço. Ele conversou com a reportagem no ano passado e relata que, desde então, nada mudou. “A movimentação que vemos é apenas a de entrada e saída dos seguranças, mas nunca notamos uma movimentação diferente por aí. É triste a situação que segue sem definição. Lembro da época que tinham os torneios das categorias de base da Diretoria Regional de Esportes. O campo lotava com a garotada que vinha jogar. Hoje em dia é esse marasmo”, lamenta o comerciante.

Felipe Guedes, de 34 anos, e Dirceu Costa, de 61, consideram que a interdição prolongada do espaço é um desserviço à população, e que o espaço poderia ser aproveitado de outras formas. Os dois trabalham nas imediações e frequentam a área diariamente.

“Creio que se tivesse algo que funcionasse, poderia, inclusive, melhorar a segurança do bairro, que tem sofrido com furtos e assaltos. Poderia ceder espaço a uma quadra, um ginásio, um campo de futebol society, para alguma atividade comercial, agrícola, sei lá. Algo que desse vida novamente ao local. E não ficar assim, largado”, diz o rapaz que se recorda de jogar futebol no local há cerca de oito anos. “Acho difícil que saia alguma coisa sobre isso nos próximos meses. Vai prosseguir assim, infelizmente. É um lugar morto, que não serve para nada mesmo”, complementa Dirceu, desiludido com o futuro do Cerecamp.

Um funcionário que estava na portaria, e não se identificou, confirmou que há muito tempo não há qualquer tipo de manutenção na estrutura do local. Disse ainda que apenas técnicos do Estado podem entrar na área, mas que isso raramente acontece. Em 2023 já se assumia o risco de que parte da arquibancada do estádio pudesse desabar. A estrutura ainda está intacta, porém o risco permanece. Relatos de comerciantes do entorno dão conta de que uma parcela do concreto já cedeu.

“É triste ver que o patrimônio está sendo tratado assim e que não há agilidade no processo para resolver essa situação. Vamos ver. Espero que em breve saia alguma novidade”, torce Carlini.

À reportagem, a Secretaria Estadual de Esportes informou que está levantando como deve funcionar o projeto para transferência. A Pasta prometeu um retorno na próxima semana, enfatizando que a questão é complexa e envolve muitas questões dentro da repartição.

O Cerecamp foi criado em 18 de fevereiro de 1985. No próximo ano, será comemorado o aniversário de 40 anos. O espaço foi tombado pelo município em 2019, após já ter sido tombado pelo estado.

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