Pesquisadores contemplados com bolsa de estudos do programa de Pesquisa Google para a América Latina 2016 são da área de ciências da computação
De Campinas, os professores Eduardo e Diego (ao centro), ao lado dos alunos Hilder Vitor e José Ramon: sistemas ajudam a diagnosticar doençasr (Nereu Jr. / Divulgação)
Três projetos desenvolvidos por pesquisadores na área de Ciência da Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) estão entre os 24 contemplados com bolsas do programa de Pesquisa Google para a América Latina 2016, anunciado na quarta-feira (3) no Centro de Engenharia da empresa na América Latina, em Belo Horizonte. Dois dos projetos pretendem usar o aprendizado de máquina (machine learning) para a triagem de doenças a partir de imagens. Um deles é para o diagnóstico do melanoma, a principal causa de morte por câncer de pele, e outro é a retinopatia diabética, uma complicação do diabetes que pode levar à cegueira. O objetivo das pesquisas é criar sistemas automatizados para diagnosticar essas doenças. O terceiro projeto usa a criptografia homomórfica. A ideia é que o usuário possa cifrar seus dados antes de enviá-los à nuvem, por questões de segurança, e que a nuvem possa processar os dados mesmo assim, sem precisar decifrá-los, preservando a privacidade. Os pesquisadores campineiros concorreram com 473 projetos inscritos em 13 países da América Latina. O Brasil ficou com o maior número de vencedores (17), seguido pelo México e Chile (dois cada) e Argentina, Colômbia e Peru, com um projeto vencedor cada. Durante um ano, os orientadores e estudantes receberão bolsas de estudo mensais para conduzir as pesquisas. No total, o Google destina US$ 600 mil à premiação. “Os projetos ganhadores se destacam em termos de impacto, originalidade e qualidade, e estão dentro das áreas chaves de interesse para o Google”, disse o diretor de engenharia do Google no Brasil, Berthier Ribeiro-Neto. Os projetos foram analisadas por um grupo de 35 engenheiros do Google com ampla experiência em pesquisas de pós-graduação. O programa de bolsas é resultado de um programa-piloto lançado no Brasil em 2013, quando o Google apoiou cinco pesquisadores brasileiros. Dos 17 projetos brasileiros vencedores, 15 são de universidades públicas. Inovação Todos os projetos vencedores buscam aplicar a tecnologia na resolução de problemas em áreas como saúde, meio ambiente, cultura e acessibilidade. Alguns, como do estudante de ciência da computação Hilder Vitor Lima Pereira, de 26 anos, é a extensão de uma pesquisa já contemplada no ano passado pelo Google. Para ele, é uma grande oportunidade de dar continuidade ao projeto. “A pesquisa anterior envolvia o desenvolvimento de algoritmos que pudessem ser executados sobre dados cifrados por um servidor na nuvem. O objetivo foi alcançado e dois algoritmos foram desenvolvidos. Este ano, a ideia é otimizá-los, fazendo com que eles sejam mais rápidos e consumam menos memória”, explicou. O trabalho é orientado pelo professor Diego de Freitas Aranha. Diabéticos correm um risco até 25 vezes maior de sofrer a perda da visão e a detecção precoce e um tratamento direcionado permite uma prevenção de 98% dos casos avançados de lesões provocadas pela retinopatia diabética. Tendo em vista que em comunidades rurais o acesso a oftalmologistas é escasso, a pesquisa desenvolvida pelo estudante José Ramon Trindade Pires, de 27 anos, sob orientação de Anderson Rocha, tem como objetivo reunir informações suficientes para criar um sistema automatizado de triagem de retinopatia diabética preciso, rápido e menos custoso, que aponte a necessidade de tratamento emergencial. “Uma abordagem automatizada de triagem de retinopatia diabética permite indicar o nível da doença e apontar pacientes que precisam de uma consulta oftalmológica em menos de um ano”, explica Pires. O uso de imagens para a triagem automatizada também é parte fundamental do projeto desenvolvido pelo estudante Michel Silva Fornaciali, sob orientação do professor de engenharia da Computação Eduardo Alves do Valle Júnior, no combate ao melanoma, principal causa de morte por câncer de pele. “O objetivo é criar um sistema de triagem automatizado para diagnosticar o melanoma usando imagens das lesões”, explica o professor, que representou Fornaciali na premiação. *O jornalista viajou a convite do Google