Ao invés de vasculhar possíveis criadouros e passar corretas informações sobre o mosquito da dengue, falsários vasculham armários e gavetas em busca de valores
Durante ação de fiscalização contra o mosquito da dengue, agente da Vigilância Sanitária de Campinas examina piscina de casarão abandonado (Carlos Bassan/Prefeitura de Campinas )
Junto à nova epidemia de dengue que Campinas enfrenta, surgem também denúncias de que aproveitadores estariam se passando por agentes de saúde da Prefeitura e entrando na casa de moradores para, ao invés de vasculhar possíveis criadouros e passar corretas informações sobre o mosquito da dengue, vasculhar armários e gavetas em busca de valores e propagar uma teoria de que a dengue surge também através do pó que fica impregnado nas roupas. Procedimento rechaçado pela Vigilância em Saúde, que orienta a população a consultar inclusive postos de saúde sobre a identidade dos agentes que tocam a campainha. Na quinta-feira da semana passada, por volta das 9h, uma mulher negra, vestida com blusa e calça brancas, abordou uma moradora na movimentada Avenida Brasil, no bairro Guanabara, e se identificou como agente de combate à dengue. A mulher estava sozinha, não tinha identificação visível e carregava somente uma pasta azul, transparente. Ela teve sua entrada autorizada pela moradora. Segundo relatos da moradora, que não quis se identificar, a mulher, ao que tudo indica, esperou seu marido sair de casa e um minuto depois apareceu no portão. “Ela foi logo entrando na minha casa e perguntando onde ficavam os quartos. Ela falava muito e carregava uma bolsa verde e marrom. Ela entrou primeiro no quarto do casal e foi abrindo o armário de roupas”, disse a moradora, que ao perceber a ação como fora de contexto, preferiu não esboçar reação com medo da atitude da falsária. Enquanto a mulher vasculhava o guarda-roupa, explicava à moradora que a dengue estaria aparecendo por meio de um pó que fica dentro das roupas, e que, quando a pessoa veste uma peça, penetra na pele e ela contrai o vírus. O absurdo também foi falado pela mulher enquanto passava a mão nos fundos das gavetas de uma cômoda. “Para ficar sozinha no quarto, ela pediu uma vassoura, pois disse que passaria nas portas dos armários. Ela estava visivelmente procurando algum cofre, maços de dinheiro e jóia, mas não me arrisquei chamar a polícia”, relatou a moradora, lembrando que a falsa agente ficou cerca de 20 minutos na área interna do imóvel. “Ela não levou nada até por que não tinha nada para levar. Mas com certeza ainda vai fazer alguma vítima por que ela passa confiança naquilo que fala”. A área externa, onde a moradora cultiva algumas plantas, a “agente” não fez questão de olhar. Em conversa com demais moradores no bairro, a vítima do golpe não encontrou ninguém que tenha recebido a visita da possível ladra. “Mas vou ficar atenta, pois ela disse que vai voltar daqui uma semana, mas dessa vez não vai entrar mesmo”, disse. A epidemia de dengue em Campinas avança a cada dia e de acordo com o último balanço encaminhado pela Prefeitura para o Centro de Vigilância Epidemiológica da Estado de São Paulo, já são 8.963 casos confirmados da doença de janeiro até ontem — 1.342 confirmações a mais do que o balanço divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde na última quinta-feira. Com tantos casos, o sistema de saúde registrou neste sábado sobrecarga de atendimento principalmente em unidades públicas, que ficaram abarrotadas de pacientes com sintomas de dengue e em tratamento após confirmação médica. Prefeitura A Secretaria de Saúde, por meio da assessoria de imprensa, informou que a população precisa ficar atenta para falsos agentes, que agem de má-fé no momento em que a cidade enfrenta nova epidemia. De acordo com a pasta, os agentes de saúde visitam os bairros geralmente acompanhados de duas a três pessoas e transportadas por uma Kombi, com o logotipo da Prefeitura estampado no veículo. De acordo com a secretaria, os agentes carregam as identificações visíveis. “Nos crachás, além do nome dos agentes, há também a assinatura do secretário de Saúde, Carmino de Souza”, explicou a assessoria. Para se certificar de que trata-se de um profissional da saúde, caso o morador tenha dúvidas ele deve perguntar a qual posto de saúde pertence aquele agente, bem como o telefone da unidade. Caso seja alguma pessoa de má-fé, não saberá dizer para qual posto trabalha e muito menos o telefone da unidade. Sendo assim, segundo a assessoria, quando o morador telefonar, a unidade informará sobre a identidade daquele agente e se de fato ele pertence ao posto mencionado. A pasta não informou se há registros de ocorrências envolvendo agentes falsos. Casos Os números atualizados no sábado pelo Centro de Vigilância Epidemiológica da Estado, repassados pela própria Prefeitura, apontam 8.963 casos de dengue confirmados desde janeiro. No balanço divulgado pela Secretaria de Saúde na quinta-feira passada, a diferença na comparação no número de casos entre os três primeiros meses de 2014 e 2015 é um aumento de 631,3%.