Tido como atrativo anteriormente, devido à economia financeira proporcionada, combustível tem atraído cada vez menos interesse entre os motoristas
José Antonio Polo (de branco), 63 anos, é especializado no tema e proprietário de uma oficina no segmento, mas afirma que as conversões para o GNV não existem mais por lá; atualmente, o negócio é mantido com as manutenções periódicas e de emergência feitas em veículos adaptados (Rodrigo Zanotto)
Amplamente adotado nas primeiras décadas dos anos 2000, o Gás Natural Veicular (GNV), outrora usado para reduzir custos com combustíveis automotivos, se tornou apenas uma opção a mais de acessório nos veículos na opinião dos campineiros, ao contrário de antes, quando era um item adotado pela economia proporcionada.
Usuários ouvidos ao longo dos últimos dois dias nas ruas de Campinas relatam que o benefício, quando existe, é mínimo, e o investimento para instalar o sistema já não compensa nos dias atuais. O GNV, agora mais que nunca, é um aliado de quem trabalha com o automóvel para transporte particular de passageiros, único grupo que ainda vê uma curta vantagem em comparação com o uso de etanol e gasolina.
Usuários ouvidos ao longo dos últimos dois dias nas ruas de Campinas relatam que o benefício, quando existe, é mínimo, e o investimento para instalar o sistema já não compensa nos dias atuais. O GNV, agora mais que nunca, é um aliado de quem trabalha com o automóvel para transporte particular de passageiros, único grupo que ainda vê uma curta vantagem em comparação com o uso de etanol e gasolina.
Dados disponibilizados pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran) revelam que a frota de automóveis equipados com o GNV reduziu. São, atualmente, 2.560 veículos, ante 2.905 no primeiro semestre de 2019. Os números são relativos a veículos cuja adaptação consta no documento, uma vez que existem as intervenções clandestinas não reconhecidas pelo órgão estadual, feitas à revelia.
São 2.160 caminhões, caminhonetes, micro-ônibus e utilitários, na metrópole, atualmente movidos por GNV em conjunto com outro combustível, registro também inferior ao número para esse perfil de veículo em 2019, quando eram 2.615 veículos.
De maneira unânime, motoristas que ainda usam o combustível dizem que a economia, quando existe, não compensa as manutenções, de modo que instalar o kit gás atualmente é um investimento de pouco retorno – exceto quando o carro é usado diariamente e excessivamente.
Mecânico especializado em sistema de combustão veicular por gás e proprietário de oficina no segmento, José Antônio Polo, 63, conta que, por lá, as conversões de combustíveis líquidos para o GNV já não existem mais. O negócio que já tem 23 anos é mantido, atualmente, com as manutenções periódicas e de emergência feitas em veículos adaptados. “Não existe mais mercado para conversão. O que ainda mantém o mercado são os taxistas e motoristas de aplicativos que, de fato, vão rodar muito com o carro e poderão recuperar o dinheiro do investimento em menor tempo. Para alguns casos, o proprietário chega a vender o carro sem recuperar o investimento”, explica o empresário.
“Suponhamos que um carro popular faça 7 km/l com etanol. Com o GNV, esse consumo vai para 10,11 km por m³. No entanto, o etanol está próximo a R$ 4,00 (l), enquanto o GNV varia entre R$ 4,40 a 4,80 (o m³) em Campinas. Então a diferença que antes era grande se perdeu”, detalha.
O investimento para a instalação do kit gás varia, com custos saindo de R$ 3,5 mil e chegando a até R$ 5 mil. Essas cifras se referem à mão de obra e equipamentos, sem contar taxas cobradas para regularização junto ao Detran.
O taxista Eduardo Michelassi, 51, acredita que ainda compensa usar o combustível, por uma caraterística específica de sua rotina de trabalho. “90% do tempo trafego em rodovia, então a diferença ainda compensa. Enquanto no etanol o carro faz uns 12 km/l, com o gás chega a quase 20 km/l", contabiliza o taxista destacando que a diferença entre os dois tipos de combustível é menor para percursos feitos em ruas e avenidas da cidade.
O motorista de aplicativo Jeam Luiz Fernandes, 49, obteve grande benefício ao instalar o GNV cinco anos atrás. Na época, a economia era de R$ 1,5 mil mensais. Atualmente, a diferença ainda é positiva, entre R$ 300 e R$ 500, porém ele pondera que a manutenção deve ser considerada. “Eu tenho um gasto de cerca de R$ 3,5 mil mensais com combustível, que seriam R$ 4 mil sem o GNV, pelo fato do meu carro ser mais gastão. Hoje em dia, instalar o kit gás não compensa mais. A tecnologia avançou e os carros com motor 1.0 estão muito econômicos. Há veículos que chegam a rodar 17 km/l apenas com etanol, sem a necessidade de investir no kit gás. O motorista por aplicativo, por exemplo, prefere comprar um carro econômico a instalar um kit gás”, afirma.
“Benefício não tem mais, pelo preço que o GNV está hoje. A única vantagem é ter duas opções de combustível, o que aumenta a autonomia, pois é como se o carro tivesse dois tanques. Hoje em dia, penso que nem o investimento se recupera”, avalia Marcelo Paduan, 44, que usa o gás natural veicular há 15 anos.
Opinião similar tem o assistente administrativo Júlio Cesar da Silva, de 44, que instalou o kit gás há dois anos, período em que trabalhou como motorista de aplicativos. “Quando eu trabalhava fazia sentido, compensava um pouco. Hoje em dia, se considerar a manutenção que deve ser feita todo ano e os problemas que o carro pode vir a ter em razão do uso do gás, não compensa mais.”
Nos postos de combustíveis o cenário é de estabilidade, conforme o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo (Recap) da Região Metropolitana de Campinas (RMC), Emílio Martins. Segundo ele, falta uma política que promova a competitividade do combustível.
"O GNV já teve tempos mais atraentes para o consumidor. Atualmente, há uma instabilidade gerada pelo medo, tanto do vendedor quanto do consumidor, de se investir em algo que pode não dar o retorno esperado."
Emílio Martins explica que o motorista precisa investir para transformar o veículo, e há o temor de que o preço do combustível suba ou de que o carro seja desvalorizado. "Já pelo lado do vendedor, o custo para instalar os compressores e o gasto com energia para o abastecimento é muito elevado. O ideal seria que o preço tivesse uma estabilidade que permitisse ao motorista ter a certeza de que haverá um retorno do investimento”, continua.
Combustível menos poluente, o GNV teve um “boom” na primeira década dos anos 2000, movimento que persistiu no segundo decênio. Entidades do setor de combustíveis defendem uma ampliação do gás pelo seu caráter menos poluente. Além de dispensar menos CO² na atmosfera, o gás é transportado por gasodutos, excluindo a necessidade de transporte rodoviário por caminhões, que consomem óleo diesel.
Adicionalmente, quando há a necessidade de transporte por via terrestre, os caminhões são menores e podem ser abastecidos pelo próprio combustível. Sua extração se dá no subsolo, tanto sob o continente quanto sob os oceanos.