Inteligência da Guarda pediu abertura de inquérito e investigação pela Polícia Civil para punir responsáveis pelas pichações no parque
Prefeito Dário Saadi (Republicanos) e secretário de Cooperação nos Assuntos de Segurança Pública, Christiano Biggi, vistoriam área que foi incendiada na Lagoa do Taquaral (Prefeitura de Campinas)
A Inteligência da Guarda Municipal de Campinas finalizou na quinta-feira (14) o relatório que aponta suspeitos das pichações dos banheiros da área esportiva do local. O documento foi encaminhado ao delegado responsável pelo 4º Distrito Policial de Campinas, com um pedido de abertura de inquérito e investigação pela Polícia Civil. Se identificados, os suspeitos poderão arcar com multa de R$ 3.584,24, além de detenção que pode ir de seis meses a três anos por dano ao patrimônio público.
De acordo com o secretário municipal de Cooperação nos Assuntos de Segurança Pública, Christiano Biggi, o relatório ainda deve nortear as próximas ações em relação a esse tipo de acontecido, indicando a quantificação do tipo mais comum de vandalismo e também os locais de maior incidência.
As ocorrências de quebra de patrimônio público e atos de vandalismo têm aumentado na cidade de Campinas. A constatação é do secretário de Serviços Públicos, Ernesto Paulella, que calcula R$ 1 milhão ao ano gastos com a revitalização desses espaços. Na conta, estão monumentos históricos, academias ao ar livre e o furto de fiação elétrica pública.
Na quinta-feira (14), um novo episódio dessa natureza foi registrada na Praça João Amazonas, no Jardim Maracanã, distrito do Campo Grande, onde um balanço adaptado para crianças com deficiência foi encontrado quebrado. Não é um caso isolado. Registros de equipamentos danificados por mau uso ou por práticas de depredação se acumulam na semana, que também contabiliza ocorrências em uma estação de transferência e no Parque Taquaral.
O parque inclusivo é o primeiro da Região Noroeste e possui um balanço, um gira-gira e uma gangorra adaptados. A obra havia sido concluída na terça-feira, dia 12, e já estava à disposição das crianças da região. A inauguração oficial seria na próxima terça-feira, dia 19.
A Prefeitura entrou em contato com a empresa que montou a estrutura para avaliar possibilidade de reparos ou se há necessidade de substituição do balanço.
Walter Machado e Wagner Miguel, ambos de 25 anos, que possuem uma barbearia em frente ao parque, descartaram que a quebra foi por fruto de vandalismo, mas sim por mau uso do equipamento por crianças.
Este caso se soma a outros registrados na semana e que revelam o descaso com a cidade. A ocorrência na estação de transferência foi no domingo. Na região do Taquaral, mudas de árvores foram destruídas, além de pichações e incêndio possivelmente criminoso dentro da Lagoa do Taquaral.
PREJUÍZO MILIONÁRIO
Por ano, a Prefeitura de Campinas gasta mais de R$ 1 milhão devido a atos de vandalismo. A metade desse valor, segundo explica o secretário Paulella, é destinada para reposição de bocas de lobo. Cerca de R$ 200 mil desse orçamento vão para cobertura de pichações, R$ 200 mil para aquisição de fiação e R$ 100 mil em tintas.
O valor representa um prejuízo real, uma vez que os recursos poderiam ser empregados em outras áreas, como a urbanização de um parque ecológico de 100 mil m², urbanização de três praças de médio porte, recape de 5km de vias públicas, reforma da Central de Materiais Esterilizados do Hospital Ouro Verde ou na reforma de três quadras de escola.
“É um prejuízo sério”, define Paulella. “Com este recurso, poderíamos fazer outras obras ou implementar projetos que são importantes para a cidade”.
Em termos de território, a região central é a mais afetada com esse tipo de crime, tendo monumentos históricos como os principais alvos.
Para coibir esse problema, o patrulhamento da Guarda Municipal também foi intensificado.
Lidar com a questão do vandalismo é lidar com um aspecto social que perpassa a história. Cristina Meneguello, do departamento de história da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), cita que o uso do termo foi recuperado com maior força a partir do século 19, sempre associado à destruição de movimentos da glória nacional ou de identidade da nação. Ela aponta ainda que esse comportamento se repete ao longo das últimas décadas. A problemática, na visão da pesquisadora, mora no distanciamento destes sujeitos que praticam o ato de vandalismo com a representação que possuem da cidade.
“Há muitos bens que estão no espaço público e que as pessoas não entendem exatamente ao que eles se referem. Não conhecem quem são as figuras retratadas pelas estátuas, não conhecem a sua relevância histórica”, pontua, acrescentando que os monumentos costumam representar uma pequena parcela de pessoas que compõem a sociedade. “Então as estátuas e monumentos públicos são manifestações de poder político, econômico e de elites, então derrubar uma estátua pode ser uma forma ativa de manifestação”, analisa.
Contornar esse problema, de acordo com Cristina, caminha com a proposta de transformação da cidade, tornando ela mais acolhedora para todas as pessoas. “No momento que as pessoas passarem a se sentir mais pertencentes à cidade, e que a cidade pertencer a todos, naturalmente você cria a proteção dos equipamentos públicos”, pondera.
Nesse sentido, Paulella disse que estuda a criação de um programa de educação cultural que envolva as escolas da cidade e os monumentos, a fim de que se crie uma consciência da importância da manutenção desses equipamentos. “A criança leva para casa o conhecimento e ela mesmo passa a conhecer as pessoas importantes que fizeram a história da cidade. Porque o vandalismo não é um problema socieconômico, mas de civismo, de responsabilidade ante o patrimônio público”, frisa.
A Prefeitura de Campinas também está preparando uma campanha de conscientização para alertar a comunidade sobre os impactos dos atos de vandalismo e a a importância de cuidar dos bens públicos, como praças, monumentos, áreas de lazer e de esportes. O material circulará, principalmente, nas redes sociais.