EM BUSCA DA PAZ

GM e PM intensificam a ronda escolar após boatos de ataques em Campinas

Pais evitaram levar seus filhos às escolas diante de falsas ameaças de invasão

Luis Eduardo de Sousa/ [email protected]
21/04/2023 às 10:13.
Atualizado em 21/04/2023 às 10:13
Agentes da Guarda Municipal de Campinas foram destacados para atender o maior número possível de unidades de ensino através de rondas escolares para trazer tranquilidade aos pais, alunos, professores e funcionários (Alessandro Torres)

Agentes da Guarda Municipal de Campinas foram destacados para atender o maior número possível de unidades de ensino através de rondas escolares para trazer tranquilidade aos pais, alunos, professores e funcionários (Alessandro Torres)

A Guarda Municipal realizou 1.063 rondas preventivas no entorno de escolas municipais e particulares na Operação Escola Segura desde segunda-feira, dia 17 de abril, até esta quinta-feira, 20 de abril, 15h. Viaturas estão empenhadas em garantir a segurança de pais, alunos e professores nos períodos matutino, diurno e noturno. O patrulhamento é realizado pelas equipes da Ronda Escolar, do Projeto Integração, além de viaturas de área e de Comando.

A GM registrou na semana passada 158 ameaças de ataques em escolas e nesta semana foram 53 através do telefone 153. Nenhuma das ameaças se concretizou. O clima de preocupação em relação aos ataques em escolas reduziu após uma série de medidas anunciadas por Estado e Prefeitura. Mesmo que em menor proporção, eventuais denúncias sobre supostas ameaças foram registradas pelas forças de segurança.

GM e Polícia Militar (PM) realizaram na quinta-feira (20) operações para reforçar a segurança nas escolas de Campinas. De acordo com a GM e o Comando de Policiamento do Interior 2 (CPI/2), as corporações receberam elevado número de alertas para possíveis ataques em colégios da metrópole. O dia 20 de abril é marcado pelo Massacre de Columbine, nos Estados Unidos, quando dois jovens invadiram uma escola e mataram a tiros 12 alunos e um professor em 1999.

Segundo a PM, as denúncias e o monitoramento de redes sociais serviram de base para ação realizada nas ruas de quinta-feira (20). Parte da população procurou a corporação através do 190 e dos meios digitais para questionar se era seguro mandar ou não os filhos à escola. O trabalho segue a linha de inteligência e prevenção, firmada entre as forças de segurança nas últimas semanas. “As redes sociais têm influenciado muito na sensação de segurança da população, em razão das atmosferas caóticas propagadas rapidamente. Se a população está insegura, cabe à PM amenizar essa sensação”, declarou o chefe do CPI/2, coronel Adriano Augusto Leão.

A corporação informou que o policiamento foi reforçado e até mesmo as esferas administrativas da PM foram esvaziadas ao limite, para que os policiais pudessem atuar diretamente nas ruas. “Todos os policiais foram para a rua para complementar esse policiamento nos perímetros escolares. É para consolidar mesmo esse trinômio, entre Polícia, Escola e Família. As três partes têm que atuar juntas e saber que uma deve contar com a outra”, frisou o coronel Leão.

Na esfera municipal, o objetivo era o mesmo. A comandante da GM, Maria de Lourdes Soares, declarou que a assimilação com o Massacre de Columbine preocupou. “Se criou um pânico em razão da data e decidimos reforçar o patrulhamento com o máximo de efetivo possível para levar segurança para a comunidade”, declarou. Como ocorreu na PM, equipes da administração da Guarda foram remanejadas para a atuação nas ruas com foco em cobrir o maior número de escolas possível.

Cidades da região 

Na quarta-feira parte da população de Hortolândia ficou aflita com uma notícia falsa que anunciava a suspensão programada de aulas para na quinta-feira (20) que tinha como motivação uma série de atentados em uma ‘celebração de Columbine’. O real motivo para que não houvesse aulas no município, no entanto, foi uma capacitação realizada pela Prefeitura com os servidores da Educação. Há um consenso entre as forças de segurança no sentido de apelar para que pais e responsáveis se atentem a ações dos filhos, que contribuem para a boataria.

Na esfera judicial, diferentes órgãos também atuam para coibir a proliferação de ameaças através das redes. Na quarta-feira, adolescentes da região de Campinas entraram na mira da Justiça após incitarem atos de violência contra escolas da rede pública pela internet. Duas ações distintas, orquestradas pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) e pelo Ministério da Justiça, cumpriram mandados de busca e apreensão, quebra de sigilo e internação provisória em Paulínia, na Região Metropolitana de Campinas (RMC) e em cidades próximas, como Limeira, Cordeirópolis, Salto e Itapira. A primeira ação é conjunta das promotorias de Limeira, Cordeirópolis e Paulínia. Nesta, a Justiça determinou a internação provisória de quatro adolescentes.

Dois dos jovens são alunos de uma escola estadual em Cordeirópolis. Segundo a promotoria, no dia 13 de abril eles incitaram a prática de um massacre dentro da unidade de ensino. Um dos estudantes escreveu na parede do banheiro a frase "Massacre hoje 12h", enquanto o outro completou a pichação com "só faca", tirando uma foto de si ao lado da frase e compartilhando a imagem no WhatsApp. Entre os crimes citados pela promotoria estão “atos análogos à incitação ao crime, crime contra o ordenamento urbano e contravenção referente à paz pública”. Além disso, um deles, que levou um canivete à sala de aula e escrevia símbolos associados ao nazismo em seu material escolar, tornou-se alvo também por carregar arma fora de casa.

O aluno de Paulínia teve internação decretada por incitar violência nas redes sociais. Ele publicou em sua conta pessoal mensagens como “prepararem os machados”, na tentativa de realizar o que chamou de “o maior massacre de todos os tempos”. A representação contra ele é por atos equiparados a incitação ao crime e contravenção referente à paz pública. Por fim, em Limeira, a Justiça decidiu por internar um estudante que escreveu mensagem de ataque em escola pública da cidade. Ele chegou a assinar o próprio nome logo abaixo da inscrição. Os quatro jovens serão encaminhados a unidades de detenção em suas respectivas localizações.

A outra ação, orquestrada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, foi desencadeada pela Polícia Civil e cumpriu mandados de internação provisória de dez adolescentes em Santa Catarina, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Pernambuco.

Os mandados, que incluem buscas e quebras de sigilo, foram expedidos pela Vara da Infância e da Juventude de Blumenau, em Santa Catarina, onde um ataque em uma creche deixou quatro crianças mortas e cinco feridas no último dia 5. Foram cumpridos mandados em Salto e Itapira. Em Itapira, um jovem de 15 anos foi ouvido na presença dos pais e, em seguida, encaminhado à Fundação Casa. A apreensão em Salto não foi detalhada pela Polícia. Na quinta-feira (20), em coletiva de imprensa, o ministro de Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, informou que 302 pessoas já foram presas ou apreendidas sob suspeita de participarem de ameaças ou ataques em escolas. Ele frisou que a operação não tem data para acabar, mas optou por não detalhar os dados por estados.

Columbine

Um dos mais famosos episódios de ataque a escolas nos Estados Unidos aconteceu no dia 20 de abril de 1999, na Columbine High School, na cidade de Columbine, estado do Colorado. Na ocasião, os jovens Eric Davi Harris e Dylan Bennet Klebold, que tinham 18 e 17 anos, respectivamente, invadiram o colégio e mataram 13 pessoas, sendo 12 alunos e um professor.

O modus operandi da dupla chamou a atenção na época, já que eles criaram uma atmosfera de isolamento da escola para dificultar a chegada da polícia. Foram implantadas bombas na área externa para criar uma barreira aos policiais. Por fim, a dupla se suicidou. O caso de Columbine é tido como inspiração para grupos que arquitetam ações terroristas do tipo.

Durante a entrevista de quinta-feira (20), Flavio Dino citou a data como motivação para reforço de segurança e monitoramento. O ministro relembrou que, na mesma data, é celebrado o aniversário do ditador nazista Adolf Hitler. Na região, no entanto, o aniversário do líder nazista não foi apontado pelas forças de segurança como motivação para o medo coletivo.

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