AMBIENTE

Gleba revitalizada some sob matagal e abandono

Falta de manutenção mata mudas nativas às margens do Anhumas

Rogério Verzignasse
17/04/2018 às 07:32.
Atualizado em 27/04/2022 às 12:49
Uma das estacas que serviam de apoio para as mudas cultivadas desponta no meio do matagal: descuido (Leandro Ferreira/AAN)

Uma das estacas que serviam de apoio para as mudas cultivadas desponta no meio do matagal: descuido (Leandro Ferreira/AAN)

Nas margens do Ribeirão Anhumas, ali pelo Jardim Bela Vista, o cenário era agressivo demais. Havia depósito irregular de lixo, barracos, mato alto, ligações clandestinas de esgoto. Desde o começo da década, o governo municipal determinou a demolição de construções irregulares, investiu em saneamento, buscou parcerias para executar a recomposição ciliar e transformar a paisagem. Cerca de mil mudas nativas foram cultivadas naquele trecho do ribeirão, ao longo da Rua Cônego Pedro Bonhomme. A iniciativa arrancou elogios da vizinhança. Mas, hoje, quem mora no bairro não tem nada a comemorar. Sem manutenção alguma, a gleba revitalizada desapareceu. As estacas que serviam de apoio para as mudas cultivadas despontam no meio do matagal. E quem se aventura pelo mato dá de cara com diversos pontos onde só restaram as estacas. As mudas morreram. A reportagem do Correio recebeu diversas reclamações sobre o abandono. Como, por exemplo, dos cidadãos que circulam pelo Ecoponto Carlos Grimaldi. Todos eles testemunharam a movimentação de tratores, a remoção do entulho, o plantio de espécies nativas. “Falaram que isso aqui ia ser um parque público. Na época ficou lindo. Agora é perigoso até usar a passarela, entre um lado e outro do ribeirão. A pessoa desaparece no meio do mato, corre o risco de ser assaltada. Além, disso, ficou tudo muito feio”, contou o senhor Antônio Silva, cidadão que trabalha com o recolhimento e a disposição de lixo reciclável. A situação também é lamentada pela bióloga Roseli Torres. Ela fez parte da equipe técnica do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) que, em parceria com a Prefeitura, elaborou nesta década o Atlas Socioambiental da Bacia do Anhumas. O documento traçou diretrizes e metas para a recuperação do trecho urbanizado do ribeirão. Foram identificados, detalhadamente, os pontos degradados. E houve um trabalho paciente, que previa o envolvimento dos próprios moradores com ações de proteção aos recursos naturais. Na própria apresentação do Atlas, os técnicos lamentavam que, até então, o poder público havia falhado ao permitir a ocupação desenfreada das margens do Anhumas. Ao ser informada que o matagal tomou conta da gleba revitalizada do Bela Vista, a bióloga destacou que alguns cuidados básicos deixaram de ser tomados. Cuidados, aliás, muito baratos. Seguindo as orientações técnicas, explica, a recomposição ciliar é feita sem qualquer produto químico para a pulverização da planta. A medida evita a contaminação do solo e do curso d’água. Seria necessário apenas garantir o “coroamento” da muda, ou seja, a capinação do mato em um diâmetro determinado ao redor da estaca. “Bastava roçar”, resume. Resposta A direção do Departamento de Parques e Jardins (DPJ), procurada pela reportagem, informou que faz a manutenção periódica do local, mas pela proximidade do rio e por conta da época de chuvas, o mato cresce rapidamente. A limpeza do local, informa a nota, deve ser feita novamente nos próximos 15 dias. Se preciso, será feito o replantio de mudas comprometidas.

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