CAGED

Geração de novos postos de trabalho sofre desaceleração na região de Campinas

Com saldo de 162 vagas criadas em maio, RMC ficou abaixo dos quatro dígitos pela primeira vez desde janeiro de 2021, reflexo da política de juros altos

Edimarcio A. Monteiro/[email protected]
02/07/2025 às 13:29.
Atualizado em 02/07/2025 às 15:43
O comércio liderou a abertura de vagas na Região Metropolitana de Campinas com 437 novos postos criados; mesmo com a desaceleração do ritmo de crescimento, maio foi o quinto mês seguido de alta na geração de empregos (Alessandro Torres)

O comércio liderou a abertura de vagas na Região Metropolitana de Campinas com 437 novos postos criados; mesmo com a desaceleração do ritmo de crescimento, maio foi o quinto mês seguido de alta na geração de empregos (Alessandro Torres)

A Região Metropolitana de Campinas (RMC) teve um saldo positivo de 162 vagas de trabalho criadas em maio, o que representou uma forte desaceleração no surgimento de postos com carteira assinada, apontou o Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego. É uma queda de 84,53% em comparação com igual mês de 2024 e foi o primeiro saldo mensal positivo abaixo de quatro de dígitos em 53 meses, desde janeiro de 2021. Anteriormente, o menor volume de geração de novos postos ocorreu em maio do ano passado, 1.041. O saldo no mês retrasado foi resultado das 55.375 contratações e 55.213 demissões realizadas nas 20 cidades da Grande Campinas.

Para o economista Gustavo Aguiar, a queda no ritmo de criação de emprego é reflexo da política de juros altos adotada pelo Banco Central. “Os juros altos desestimulam investimentos e o consumo, impactando diretamente no mercado de trabalho”, afirmou. No mês passado, o Conselho de Política Monetária (Copom) elevou a Selic, a taxa básica, para 15%, o maior patamar em 19 anos. Ela ficou abaixo apenas dos 15,25% de julho de 2006. “O Brasil poderia gerar muito mais empregos, com salários melhores, não fosse essa política monetária. A economia ainda se supera e continua crescendo, apesar do quadro hostil, mas em um ritmo mais lento”, acrescentou o especialista.

O país gerou menos de 148.992 empregos formais em maio, abaixo da previsão de 179 mil. Apesar da queda no ritmo, maio foi o quinto mês consecutivo de alta na geração de emprego na Região Metropolitana, com o comércio liderando a abertura de vagas. O setor foi responsável pela contratação de 437 novos trabalhadores. Mesmo assim, empresas apontaram dificuldades para repor as vagas. “Está difícil para contratar. As pessoas não querem trabalhar no final de semana”, disse o gerente de um posto de combustível no bairro do Bosque, em Campinas, Aletício Ferreira.

DIFICULDADE

A rede atua em toda a região e não consegue completar o quadro de funcionários desde janeiro passado. Atualmente, ela está com 30 vagas disponíveis, 10 para as lojas de conveniência e 20 para frentistas e atendente. A empresa abriu mão até de exigir experiência anterior, como informa o painel eletrônico de anúncio dos empregos. Para Aletício Ferreira, essa é uma oportunidade para fazer carreira na rede. Ele começou como frentista há quatro anos e hoje já ocupa a gerência de um posto.

O economista Gustavo Aguiar avaliou que a atividade econômica e o emprego ainda mantêm certa resiliência, baseada na geração de empregos e transferências de renda governamentais, sustentando o ânimo e o consumo das famílias. “Porém, a elevada inflação de produtos básicos, o alto grau de endividamento das famílias e os efeitos negativos das altas taxas de juros sobre a atividade econômica já começam a ser percebidos e poderão reduzir a confiança do consumidor ao longo dos próximos meses.”

A construção civil criou 431 postos com carteira assinada em maio, o segundo setor da RMC com melhor desempenho. O impermeabilizador Bruchorras dos Santos Basílios foi recém-contratado para a construção de um edifício, no bairro Nova Campinas. Ele terminou o serviço em uma obra e imediatamente começou em outra. “Não tive dificuldade para conseguir outro emprego. É uma área que está crescendo muito”, justificou.

JUROS

Os pedreiros Afonso Henrique de Souza e Paulo Sérgio Antonio dos Santos acabaram de terminar uma obra em São Paulo e já foram transferidos pela construtora para outra em Campinas. De acordo com os dois, eles nem chegaram a ficar parados. Sérgio contou que há alguns anos não sabe o que é ficar sem trabalho. No entanto, a sexta alta seguida da Selic desde setembro preocupou os empresários do setor e reacendeu o alerta no setor imobiliário.

Em nota oficial, a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) lamentou a decisão e reforçou que o aumento dos juros atua como um inibidor da atividade empresarial, além de representar um entrave ao acesso à moradia — especialmente nas faixas de renda atendidas pelo segmento de interesse social. “O atual nível da Selic intensifica os desafios enfrentados pela economia brasileira”, destacou a entidade ao alertar para os efeitos da política monetária sobre o crédito, os investimentos e o custo das dívidas de famílias e empresas.

A nota também chamou atenção para os reflexos nos índices de recuperação judicial. Somente no primeiro trimestre de 2025, quase 4,9 mil empresas solicitaram proteção judicial, número que, segundo a associação, reflete diretamente o impacto do endividamento elevado provocado pelos juros altos. O setor industrial também se manteve aquecido e abriu 201 novos empregos, mas entidades do setor criticaram a política monetária do Banco Central.

“Trocar postos de trabalho formais por juros altos não é uma política sensata para um país que ainda convive com cerca de sete milhões de desempregados e aproximadamente 60 milhões de pessoas em situação de pobreza, conforme dados do IBGE”, afirmou o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciep), Rafael Cervone. De acordo com ele, o setor depende muito do crédito para investimentos e capital de giro. “Máquinas, equipamentos, inovação e modernização tecnológica exigem financiamentos de médio e longo prazos. Com juros altos, o custo desses financia mentos torna-se proibitivo, desestimulando a expansão da capacidade produtiva e a atualização do parque industrial”, ressaltou.

PIOR DESEMPENHO

A agropecuária registrou o pior desempenho quanto ao emprego em maio, com o fechamento de 764 vagas. O setor foi influenciado principalmente por Holambra, que demitiu 894 pessoas nessa área. Por coincidência, esse também foi saldo negativo da cidade em maio considerando todos os segmentos, em função das 1.441 dispensas e 547 contratações. A agricultura é a principal atividade econômica do município, conhecido como a capital nacional das flores, sendo diretamente influenciado pela sazonalidade típica do setor. As contratações têm alta nos períodos de plantio e colheita, caindo nos demais. 

CIDADES

Além de Holambra, outros oito cidades da RMC tiveram saldo negativo de empregos. Sumaré foi a segunda cidade com o pior resultado, com o fechamento de 137 postos de trabalho, seguido por Jaguariúna, 123. Também tiveram queda Hortolândia (-121), Santo Antônio de Posse (-38), Monte Mor (-16), Morungaba (-12), Valinhos e Vinhedo (-8 cada). Por outro lado, 11 tiveram aumento na oferta de empregos. O melhor resultado foi de Paulínia, com a abertura de 515 vagas. Desse total, a construção civil teve participação de 72,81%, com a geração de 375 postos.

Campinas apareceu em segundo lugar, com a criação de 317 novos empregos. Na cidade, apenas a agropecuária teve desempenho negativo, com o fechamento de sete vagas. Os serviços puxaram a alta, com 175 postos, seguido da construção (100), comércio (26) e indústria (13). Entre as cinco cidades que mais geraram empregos na RMC também estão Americana (126), Cosmópolis (117) e Pedreira (78).

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