amigos da farda

Gcan, 50 anos de companheirismo

A história de amizade, companheirismo, brincadeiras e camaradagem, começou 50 anos atrás, quando um grupo de 103 meninos se alistou no Exército

Francisco Lima Neto
07/07/2019 às 11:17.
Atualizado em 30/03/2022 às 23:25

A história de amizade, companheirismo, brincadeiras e camaradagem, começou 50 anos atrás, quando um grupo de 103 meninos se alistou no Exército em Campinas, e passou a fazer parte da segunda bateria do 5º Grupamento de Canhões (Gcan). O grupo, além de dividir as rondas, patrulhas, tempo em serviço, exercícios, e até castigos, também compartilhou um tempo da juventude onde tudo era sonho e ninguém sabia como seria o futuro. Quem diria que após 50 anos, àqueles garotos estariam juntos novamente? Àqueles meninos, obviamente já não são mais os mesmos, com o passar do tempo desenvolveram uma barriguinha, em contraste com os abdomens tanquinhos exibidos em várias fotos das épocas de visitas ao litoral paulista. Os cabelos também já não são mais os mesmos, aqueles que ainda os têm, apresentam os fios bem mais brancos. O que não mudou foi o bom humor e a alegria em estar juntos. Quando se encontram, são só risadas e lembranças de uma época que não volta mais, e que deixou muito aprendizado e marcas na história de cada um. Essa turma inesquecível, que entrou em 1969 e deu baixa do Exército no ano seguinte, tem entre seus integrantes um trio que não se cansa de caçar os companheiros de outrora e promover o reencontro. Dante Luglio Neto, 69 anos, de Valinhos, Marcos Geraldo de Sá, de 68 anos, e Sidnei Antonio Pippa, de 68 anos, ambos de Campinas, são os responsáveis pela saga de tentar reunir o máximo de pessoas possível daquele pelotão. Não que a tarefa fosse impossível, mas a primeira vez que isso aconteceu foi em 1994, quando ainda a internet ainda não era popular nem as redes sociais agentes facilitadoras. Pippa e Sá tiveram a ideia. Conseguiram localizar, Neto, o mais organizado do grupo, segundo eles. Coube a ele a missão. “Imagine a dificuldade? Fui falando com um e com outro, pedindo ajuda. Usei muito a lista telefônica e consegui falar com alguns”, relembra. Esse encontro foi um churrasco na casa de um dos antigos soldados na região central da cidade e reuniu cerca de 40 pessoas. “Quando encontrei o Pippa pela primeira vez, depois de anos, eu olhava, olhava... e tentava adivinhar quem era. Quando soube que era ele, dei uma risada. Careca, barrigudo. Eu nunca ia adivinhar” , lembra Neto aos risos. Pippa, por sua vez, tenta sair do foco e diz que Sá era o que mais aprontava nos tempos do quartel. "Ele inventou uma história doida, deu uns tiros, fez todo mundo acordar de madrugada" , conta buscando os detalhes na memória. “Eu tinha de ficar de guarda a noite toda. Aí eu dei o troco. Combinei com os cinco postos de guarda e na madrugada começamos a atirar como se estivesse tendo uma invasão. Todos os soldados que estavam dormindo tiveram que levantar às 2h da madrugada, e fazer ronda em todo o quartel e na Anhanguera” , diz Sá, explicando melhor o episódio. Apesar do medo de ficar preso ou receber alguma punição, o resultado foi positivo. “No final, o coronel ficou feliz. Virou um exercício, mas todo mundo quis me matar”, garante. O bate-papo vai longe e os amigos começam a puxar pela memória os companheiros que já partiram para o lado de lá. “Me lembro de um que matou pai e mãe inúmeras vezes para ganhar folga e deixar o serviço. Ele matou o pai dez vezes e recebeu dispensa. Depois matou a mãe e saiu de novo. Na segunda vez que ele falou que a mãe tinha morrido o sargento respondeu: ‘Pai pode até ter dez, mas mãe é uma só’, e deixou ele de serviço. Ele era gente finíssima. Muito gente boa, mas tinha uma lábia” , diverte-se Neto. Encontro Para relembrar essas e muitas outras histórias, o grupo passou a se encontrar com frequência de alguns anos para cá. Na próxima sexta-feira, dia 12, dentro do Exército acontecerá o encontro dos membros do antigo Gcan, que agora é Batalhão Logístico Leve, conhecido como Blog. O encontro agrega o pessoal de 69 até os mais atuais. Já no dia 27 de setembro, o encontro é exclusivo para a turma de 69, família e convidados. Nos dois encontros, as atividades começam às 9h, e segue com um almoço comemorativo. Quem for daquela época e quiser reencontrar os amigos pode entrar em contato via whatsapp nos números 19 99784-2809 (Pippa), 19 99712-2200 (Sá), e 19 99933-1188 (Neto). Em todos os momentos eles reforçam o quanto são gratos por terem sido recebidos de braços abertos atualmente no Exército e pelos encontros proporcionados pela atual gestão. Homenagem Os amigos lembram com muito carinho do General Paulo César de Castro, que à época, era conhecido como Tenente Castro. “A gente tem muita gratidão a ele. Nos ensinou muito sobre disciplina e sobre a vida. Tínhamos muita proximidade com ele”, garante o grupo. Três anos atrás, eles inauguraram uma placa no quartel, com os nomes da maioria dos soldados daquela época. Eles conseguiram convencer o general a sair do Rio de Janeiro para participar do momento. Ele morreu em 24 de outubro do ano passado, aos 74 anos. Durante os eventos desse ano, uma pintura do general será inaugurada numa galeria do Exército. CURIOSIDADE Depois da baixa, Pippa trabalhou em outras áreas, e se aposentou no setor de logística da em uma multinacional instalada em Campinas. Sá foi funcionário público da Prefeitura de Campinas como educador físico, após a aposentadoria trabalhou muito tempo como preparador físico em vários times de futebol pelo mundo, inclusive Palmeiras, Guarani e Ponte Preta. O último trabalho foi como treinador em um time da China, no ano passado. Neto trabalhou em uma multinacional que fica em Valinhos, depois estudou um pouco e engenharia civil e trabalha na área de projetos. Eles ainda se chamam por De Sá, Dante e Pipo, como na época do quartel. Sidnei que foi registrado como Pipo, precisou mudar sobrenome para Pippa (forma original), nos anos 2000, quando deu entrada na cidadania italiana.

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