Garotas na lupa científica da Unicamp

Mulheres com passagens pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) recrutarão no começo desta semana um grupo de 65 alunas do Ensino Fundamental II, de escolas públicas e privadas do município para participarem da segunda edição do Meninas SuperCientistas - um programa gratuito de atividades coordenadas por cientistas mulheres e que tem com o objetivo incentivar garotas a seguirem carreira profissional na área da ciência. As inscrições se encerraram na última quinta-feira e mais de 2,7 mil candidaturas foram computadas. O preenchimento das vagas será definido por meio de sorteio. As selecionadas vão participar de palestras, oficinas, minicursos e visitas a museus, ao longo de cinco sábados nos dias: 7, 14, 21 e 28 de março e 4 de abril. Durante os encontros, serão oferecidos almoço e lanches para as participantes, além do transporte de ida e volta para os museus, saindo do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC). O projeto campineiro, criado por estudantes da Unicamp, foi inspirado no programa “Meninas com Ciência”, realizado por mulheres do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que teve início em 2016 e que neste ano realizará sua 5ª edição. Aluna da Unicamp e idealizadora do projeto, Marcela Medicina, de 21 anos, explica que teve a ideia de criar o evento depois que conheceu a iniciativa carioca pelas redes sociais. Ela conta que vislumbrou na ação uma maneira de motivar mulheres a seguirem carreira na área da ciência, que hoje ainda é dominada pela grande presença masculina. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) de 2019, apenas 28% dos pesquisadores do mundo são mulheres. E, de acordo com o Fórum Econômico Mundial, elas ganham um emprego na área para cada 20 perdidos, enquanto os homens ganham um a cada quatro. De acordo com Marcela, a ideia do projeto é justamente aumentar a representatividade feminina na área da ciência por meio da educação. “Eu entrei no curso de Ciências Sociais em 2016, mas me mudei para Matemática em 2018. Para mim, aquilo foi um choque porque eu passei a ser a única aluna do curso. Foi quando vi um anúncio do ‘Meninas com Ciência’ no Facebook e busquei saber mais sobre o projeto delas”, contou. A partir daí, a jovem começou a se mexer. Com ajuda de outras duas estudantes, fez um rascunho da programação original do projeto e arrumou um patronizador para viabilizar a ideia. Em 2019, a iniciativa recrutou 50 alunas e realizou dezenas de atividades em quatro sábados. “No ano passado, a gente teve várias atividades e as meninas que participaram gostaram muito. Para gente fui, inclusive, muito legal ouvir elas nos contando que apreenderam coisas que elas jamais viram na escola delas”, disse a médica e uma das organizadoras do evento, Julian Furtado, de 28 anos. Na avaliação das organizadoras do evento, a falta de representatividade das mulheres no âmbito científico está diretamente relacionado a falta de estímulo por parte da sociedade. “Muitas mulheres têm vontade de se aventurar na área da ciência e não vão por falta de estímulo. Infelizmente, as mulheres – de um modo geral – são, desde de muito cedo, ensinadas a serem cuidadosas e a não mexerem em coisas perigosas, sob a alegação de que podem se machucar ou se sujar. Já com os meninos, a reação é completamente oposta”, destaca Marcela. “O projeto quer quebrar essa barreira. Queremos que as mulheres coloquem a mão na massa. Queremos que elas sintam que são capazes de serem cientistas e que podem trabalhar na área trazendo soluções para o planeta”, completa Julian. SAIBA MAIS O Meninas SuperCientistas é um projeto totalmente voluntário, sem fins lucrativos e gratuito para as participantes. Para tal, precisa da ajuda de patrocinadores para funcionar. Interessados em conhecer mais sobre o projeto precisam apenas acessar o site: www.ime.unicamp.br/meninassupercientistas.