Correio acompanhou a rotina desses trabalhadores e descobriu histórias de força e honestidade
Companheiras de trabalho, Luzinete Macedo, 48 anos, e Leni Xavier da Costa, 35 anos, são um exemplo de força (Érica Dezonne/AAN)
A rotina de trabalho é exaustiva. E muitas vezes esses protagonistas das ruas de Campinas passam como anônimos, mesmo em meio a multidões, como na Rua 13 de Maio.
Mas eles não se importam. Com a vassoura na mão, começam o expediente cheios de disposição e com o sorriso sempre no rosto.
Nesta quinta-feira (16), os garis comemoraram o dia dedicado a eles trabalhando e com a certeza do papel essencial que exercem, de manterem as ruas e praças da cidade limpas.
O Correio acompanhou um pouco da rotina desses trabalhadores e descobriu, por trás de uniformes, histórias de força e honestidade.
Joaquim Araújo Mendonça, de 43 anos, atua limpando as ruas de Campinas há 10 anos. Cinco deles como gari e os outros cinco como operador do imenso aspirador de resíduos que circula na 13 de Maio.
Em meio a uma varrição e outra, há cinco anos, Mendonça, vivenciou uma história que, apesar de não ter se tornado notória na época, o enche de orgulho ainda hoje. "Achei dois sacos pretos cheios de dinheiro no Terminal Central. Coloquei no carrinho e só depois abri. Vi que estava cheia de dinheiro".
Nas sacolas havia R$ 6 mil. Ao ver um homem se lamentando, Mendonça confirmou que se tratava do dono e tratou de devolver.
"Se eu achar dez centavos na rua fico tremendo. Só sinto firmeza em pegar em um dinheiro que é meu", diz.
Companheiras de trabalho, Luzinete Macedo, 48 anos, e Leni Xavier da Costa, 35 anos, são um exemplo de força.
Muito orgulhosa da profissão, Luzinete conta que em 11 anos de trabalho ajudou a pagar um terreno, reformou sua casa, comprou os móveis e criou os três filhos: Luana, Luiz e Luíza. "Consegui tudo com o meu trabalho como gari".
Vaidosa, ela conta que só sai para trabalhar com batom e com as unhas pintadas. Também diz que é curiosa. "Gosto de estar informada sobre tudo que está acontecendo" .
Há sete anos Leni desistiu da profissão de babá e diz que não se arrepende. Entre as vantagens de ser gari, está as amizades que faz.
"Faço amizade com logista, com fiscal, com vendedor, com camelô", lista. Leni disse que não pensa em trocar o serviço por nada. "Só saio da firma se os patrões não me quiserem mais", diz.
A gari Josefa Silva Nascimento, de 47 anos, tem muito orgulho da profissão que exerce há 12 anos e diz que a sensação mais impontante é a liberdade que ela proporciona.
"Todos os dias são diferentes. Conheço várias pessoas e posso ainda caminhar e me exercitar enquanto trabalho. Só no Verão que é mais complicado porque fica muito quente, mas mesmo assim é divertido".
Sua companheira de trabalho, Roseli Ramos Lima, de 42, era dona de casa antes de começar na profissão há 6 anos.
"Foi a melhor coisa que fiz. Converso com todo mundo e tenho um monte de amigos que fazemos nas ruas que passamos sempre. A profissão é cansativa, mas muito legal porque você fica na rua, observando tudo o que acontece".
A jornada diária dos varredores é de oito horas e a média salarial de R$ 950,00. Em Campinas, cerca de mil profissionais trabalham na varrição e coleta de lixo.
Os coletores tem uma média salarial de R$ 1.700. Eles contam que vez ou outra se esbarram com o preconceito, mas dizem não se importar.
"Não tenho vergonha do que faço. Não estou roubando, não estou matando. Estou ganhando meu dinheirinho e faço isso com alegria e dignidade", completa Luzinete.