MOBILIDADE URBANA

Futuro trem para São Paulo será o mais veloz do Brasil

Composição para transporte de passageiros alcançará velocidade de até 140 km/h

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
31/12/2023 às 09:44.
Atualizado em 31/12/2023 às 09:44
Leito ferroviário atualmente utilizado para transporte de cargas no eixo entre Campinas e São Paulo; futuramente, uma nova ferrovia será construída para comportar os trens modernos e velozes do TIC Eixo Norte (Alessandro Torres)

Leito ferroviário atualmente utilizado para transporte de cargas no eixo entre Campinas e São Paulo; futuramente, uma nova ferrovia será construída para comportar os trens modernos e velozes do TIC Eixo Norte (Alessandro Torres)

O Trem Intercidades (TIC) São Paulo, atualmente em processo de licitação pública, promete ser o serviço ferroviário de transporte de passageiros mais veloz do país quando entrar em operação. Composto por 15 trens de média velocidade, capazes de atingir até 140 km/h, o TIC superará os dois serviços mais rápidos em funcionamento atualmente. Em comparação, o metrô de São Paulo atinge uma velocidade máxima de 80 km/h, conforme informações da Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos (STM), enquanto o trem que conecta a capital gaúcha a cinco cidades mantém uma velocidade de até 90 km/h, de acordo com a Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A. (Trensurb).

O TIC propiciará uma viagem com velocidade média de 100 km/h entre a capital e Campinas em apenas 64 minutos, com uma única parada em Jundiaí. Atualmente, a única opção de transporte entre essas duas cidades é por meio rodoviário. O percurso de carro é realizado em aproximadamente 1 hora e 7 minutos a 1 hora e 20 minutos, dependendo das condições do tráfego, enquanto de ônibus o tempo mínimo é de 1 hora e 36 minutos.

Rafael Benini, Secretário Estadual de Parcerias e Investimentos, assegura que a rapidez da viagem será possível porque o Trem Intercidades terá uma nova linha férrea exclusiva de Jundiaí até São Paulo, permitindo maior velocidade. De Campinas até Jundiaí, compartilhará o uso do ramal ferroviário com o Trem Intermetropolitano (TIM), que será implantado também, contando com pontos de ultrapassagem devido à sua maior velocidade. A ferrovia será exclusiva para passageiros de Jundiaí até São Paulo, enquanto o transporte de carga será desviado para outro ramal a ser construído.

O TIC, oficialmente denominado TIC Eixo Norte, será implementado por meio de uma Parceria Público-Privada (PPP) entre o governo do Estado e a empresa vencedora da concorrência internacional realizada por meio de leilão, marcado para o dia 29 de fevereiro na B3 (antiga Bolsa de Valores) em São Paulo. O projeto tem um orçamento de R$ 13,5 bilhões, com o governo paulista contribuindo com R$ 8,5 bilhões. O edital de licitação também prevê uma contraprestação anual de R$ 255 milhões para garantir a prestação do serviço, com o valor da passagem limitado a no máximo R$ 64. O vencedor da concessão, que terá duração de 30 anos, será aquele que oferecer a maior redução no pagamento.

No caso de oferecimento de descontos idênticos por múltiplos participantes, o pregão será determinado com base no segundo critério, que consiste na maior redução do aporte inicial a ser realizado pelo governo do Estado. A assinatura do contrato de concessão está programada para o segundo trimestre do próximo ano, com o início das obras previsto para o segundo semestre de 2025. Antecipa-se que o empreendimento resultará na criação de mais de 10 mil empregos, abrangendo diretos, indiretos e induzidos, proporcionando benefícios a 11 municípios e a uma população de 15 milhões de pessoas nas regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas

COMPOSIÇÃO

Informações extraoficiais apontam que grupos brasileiros e internacionais de diversos setores estão explorando a formação de consórcios para participar da licitação do TIC São Paulo-Campinas. Essas negociações envolveriam construtoras, fornecedoras de equipamentos ferroviários e operadoras de serviços ferroviários. Entre as potenciais interessadas no projeto estão empresas renomadas, como as chinesas CRRC e CREC, as francesas Alstom e Vinci, as espanholas Acciona e CAF, a alemã Siemens, a sul-coreana Hyundai e a japonesa Hitachi. Além disso, empresas nacionais como CCR, que gerencia linhas de metrô em São Paulo e Bahia; o Grupo Comporte, que assumiu recentemente a operação do metrô de Belo Horizonte (MG) em março passado; e o fundo de investimentos Pátria, também demonstraram interesse.

Rafael Benini afirmou: "Com um leilão competitivo, posso reduzir ainda mais a contrapartida do governo para a PPP. Essa é a nossa intenção". A vencedora da licitação poderá escolher entre trens de um andar, com 12 carros e até 300 metros de comprimento (single decker), ou trens de dois andares, com 150 metros (double decker), o que determinará a capacidade de passageiros em assentos marcados.

O single decker poderá acomodar até 1.1 mil passageiros em duas composições de seis carros, enquanto o double decker transportará um número menor, até 860 passageiros. Durante os horários de pico, os trens partirão a cada 15 minutos da Estação Barra Funda, na capital, e da antiga Estação da Fepasa, hoje Estação Cultura, no Centro de Campinas. Benini destacou: "A expectativa em torno dessa obra é enorme. Ela atenderá um grande fluxo de pessoas e reduzirá o tráfego nas rodovias Anhanguera e Bandeirantes".

A licitação abrange outros dois serviços que serão assumidos pela empresa vencedora: o Trem Intermunicipal TIM, entre Jundiaí e Campinas, e a concessão da Linha 7-Rubi da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que já está em operação. As novas linhas serão implementadas em duas fases, com o Trem Intermetropolitano previsto para iniciar as operações em 2029.

Este serviço terá uma tarifa cheia de R$ 14,05 e será operado com trens atingindo velocidades entre 74 e 95 km/h. A linha, composta por sete trens, cobrirá um percurso de 44 quilômetros em 33 minutos, com paradas em Campinas, Valinhos, Vinhedo, Louveira e Jundiaí. Por outro lado, o Trem Intercidades São Paulo-Campinas está programado para 2031.

Apesar da rapidez prevista, a velocidade do TIC equivale a um terço da do trem mais rápido em operação no mundo, o chinês Shangai Maglev, que pode atingir 460 km/h, cobrindo a distância de 30 quilômetros entre o Aeroporto de Pudong, em Xangai, e a Estação Longyang Road em apenas 7 minutos. Na Europa, os trens de alta velocidade podem atingir 320 km/h. O recorde de velocidade para trens convencionais pertence à França; em abril de 2007, um deles atingiu 574,8 km/h, percorrendo 150 metros por segundo.

MOBILIDADE URBANA

Na visão do presidente do Conselho Administrativo da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros por Trilhos (ANPTrilhos), Joubert Fortes Flores Filho, é essencial "estruturar propostas factíveis para a formulação de políticas públicas que promovam o avanço da mobilidade urbana, alinhadas com a realidade brasileira". O Trem Intercidades (TIC) está alinhado com o plano estratégico 2023-2026 da entidade, que visa impulsionar projetos estruturantes de transporte nas regiões metropolitanas com mais de 1 milhão de habitantes até 2026.

Segundo a ANPTrilhos, o Brasil atualmente conta com 15 cidades ou regiões metropolitanas que oferecem transporte de passageiros sobre trilhos, transportando 7,8 milhões de pessoas por dia em 2022. Joubert Filho destaca a necessidade de desenvolver novos modais de transporte e "restabelecer o papel do setor público como catalisador de investimentos, promovendo uma visão de integração e parceria com o setor privado."

O leilão do TIC marcará o avanço do programa de concessões e privatizações do governo paulista em 2024. Este será o primeiro de cinco projetos de Parcerias Público-Privadas (PPPs) previstos para o ano. Outros ativos, como a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), a construção do Túnel SantosGuarujá, a Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae) e os 214 km de rodovias que conectam o Alto Tietê ao Litoral Sul, conhecido como Lote Litoral, também estão programados para transferência para a iniciativa privada.

"Temos na gestão atual uma secretaria específica para a estruturação de projetos, trabalhamos intensamente em 2023 nessas modelagens e, em 2024, teremos leilões históricos", afirmou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). A concessão mais recente foi realizada em março passado, envolvendo o Rodoanel Norte, vencido pela Via Appia Fip Infraestrutura, da Corretora Sita.

Com um investimento estimado em R$ 3,4 bilhões, o projeto deve gerar mais de 15 mil empregos e reduzir a circulação diária de 18 mil caminhões na capital. A concessão terá duração de 31 anos, abrangendo um trecho de 44 km que passa pelos municípios de São Paulo, Arujá e Guarulhos, na Grande São Paulo. Com a conclusão desse trecho, o Rodoanel terá 175 km de extensão, prevendo sua conclusão em julho de 2026. O consórcio investirá R$ 2 bilhões na conclusão das obras, além de mais R$ 324 milhões para a implementação de projetos complementares.

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