O colapso dos caixas dos clubes, pelo menos neste primeiro semestre, não deve ser motivo para antecipação das partidas
Pelo calendário normal do futebol paulista, antes da escalada do novo coronavírus, os torcedores já teriam conhecido o campeão de 2020. O torneio, porém, foi interrompido no meio de março, quando faltavam duas rodadas para o término da primeira fase. O último jogo, inclusive, foi o Dérbi no Brinco de Ouro, em Campinas, que terminou com uma histórica virada do Guarani sobre a Ponte Preta, por 3 a 2. Desde então, centros de treinamento fechados, estádios vazios, comissões técnicas fazendo reuniões on-line e jogadores se preservando em suas casas. Este é o cenário atual do Paulistão. Chegou-se a ventilar a hipótese de um retorno ainda este mês, com jogos com portões fechados. Essa tese tem sido defendida por alguns cartolas — não de forma enfática, por temer repercussão negativa junto à opinião pública — interessados nos repasses de verbas das cotas de TV e dos patrocínios. Como em toda a economia, o futebol também está desabando financeiramente, sobretudo os clubes com menor potencial de mídia e estrutura menos profissionalizada. O colapso dos caixas no futebol, pelo menos neste primeiro semestre, não deve ser motivo para a antecipação das partidas, mesmo com competições pela metade. Há países, como a França, que já decretaram o fim dos campeonatos, declarando o campeão deste ano. Diante da provável revolta de boa parte dos torcedores em São Paulo, caso isso fosse feito, os dirigentes relutam em adotar esse caminho. A rivalidade, nesta hora, joga contra. Por que então não declarar o torneio sem campeão? E sem times rebaixados? Valendo para as três séries da Primeira Divisão, A1, A2 e A3? Poderia ser uma saída. Em grandes catástrofes mundiais, como a Segunda Guerra, competições eram interrompidas, como as Copas. A Federação Paulista de Futebol (FPF), em reunião no início desta semana, reiterou que o Paulistão não tem data para retornar. O encontro teve participação dos representantes dos clubes. Ficou acertado que a volta só ocorrerá com o aval das autoridades de Saúde. Sensato, afinal São Paulo é o estado com maior número de casos de Covid-19. Quase a metade das mortes registradas oficialmente no País ocorreu em território paulista. Além disso, o coronavírus, segundo análises de especialistas, avança pelo Interior e Litoral. É de se elogiar, portanto, os sinais dos principais dirigentes paulistas sobre não atropelar as autoridades de Saúde, nem pressionar o governo em nome de seu universo milionário e seus interesses desportivos. A vida vale muito mais do que uma partida de futebol.