O segurança Ezequiel Franco vigia um prédio de dois andares, no Centro, cujas janelas e fios foram furtados (Kamá Ribeiro)
Há oito meses, o segurança Ezequiel Franco, 40 anos, da empresa Sanseg Proteção, começou a vigiar um prédio de dois andares localizado na esquina das ruas Sacramento e Barreto Leme. Quando assumiu o posto no turno diurno, 12 das janelas do local já haviam sido furtadas, junto com cabos, resultando no corte de energia, o que dificultou o trabalho no espaço, que ficou no escuro.
“Quem trabalha à noite usa uma lanterna”, contou o segurança. “Fomos contratados para cuidar do prédio. Levaram tudo aqui. Somente não arrancaram as janelas de madeira, mas levaram fios e janelas de metal. Durante o dia é mais seguro, pois há o comércio, mas quando escurece, chega a sensação de insegurança.”
Furtos como esse aumentaram durante a pandemia e movimentam um mercado clandestino de venda de produtos, como fios de cobre, tampas de bueiros, grades e até janelas compradas por receptadores a preços baixíssimos e revendidas no mercado ilegal. “O que a gente percebeu, principalmente durante a pandemia, é que até por uma questão social e econômica, esse tipo de crime aumentou consideravelmente. Acaba sendo uma opção de dinheiro rápido para os moradores em situação de rua, porque o material é fácil de vender, por exemplo, produtos de cobre e hidrômetros. As regiões periféricas concentram mais esse tipo de furto”, apontou o delegado Fernando Sanches, da 1ª Delegacia de Investigações Gerais (DIG).
No ano passado, a DIG de Campinas apreendeu 11 toneladas de fios de cobre durante 10 ações de combate a este tipo de crime. Apenas neste ano, foram recolhidas 25 toneladas desse mesmo material.
Segundo o delegado, essa modalidade criminosa percorre uma cadeia que começa no furto e roubo e pode acabar em grandes indústrias de fundição e até mesmo em lucro aos receptadores menores. Apenas de furtos, de acordo com dados estatísticos da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP/SP), Campinas registrou 1.315 ocorrências no mês de fevereiro, um incremento de 1,3% nos casos, em relação a janeiro deste ano.
Modus operandi
As estatísticas demonstram nessa modalidade de furto todo tipo de material que tenha sido subtraído de alguém. Nos casos de receptação, os produtos furtados são levados, geralmente, a ferros-velhos e sucateiros. Nesses locais, as peças são comercializadas a preços baixos.
Segundo levantamento da Guarda Municipal, no mercado formal, o quilo do ferro custa R$ 0,80, do cobre queimado, R$ 42, do cobre descascado, R$ 44, do alumínio, de R$ 6 a R$ 7.
Entretanto, no mercado informal, procurado para a vendas das peças e produtos provenientes de roubo e furto, esse valor cai por menos da metade, não sendo tão vantajoso para quem furtou ou roubou. Já para o receptador, que adquiriu a peça por uma ninharia, é lucrativo, visto que o produto volta a ter o preço original, sendo comercializado como se fosse um produto de origem legal.
“Os valores pagos são baixíssimos. Ele pode furtar uma construção inteira, cortar os cabos e dar um prejuízo de R$ 4 mil ao proprietário, enquanto que o receptador pagará R$ 200 para ele... Se pagar isso é muito. Mas ele (o receptador) vende por um valor bem acima. Então, o grande problema disso tudo é o receptador”, aponta o investigador da Deic/ DIG, Marcelo Hayashi.
Ele explica que esses pontos de receptação estão distribuídos em toda a cidade, com maior incidência em locais periféricos. Além disso, há pontos ilegais que funcionam, inclusive, durante a madrugada. Em uma operação realizada no ano passado, relata Hayashi, foi identificada uma kombi que circulava na região central comprando materiais oferecidos por moradores em situação de rua.
De acordo com a comandante da GM de Campinas, Maria de Lourdes Soares, há um modus operandi nessas ocorrências, em que as pessoas que praticam o crime já possuem as suas ligações para venda ou troca dos produtos furtados. Por ocorrer de forma muito rápida, muitas vezes ele não é possível de ser flagrado, já que o repasse dos materiais segue uma cadeia ágil.
“De alguma maneira, a pessoa que subtrai esse tipo de material vai trocar por algo que seja do seu desejo ou vender a um receptador. Por isso, realizamos ações constantes para coibir esse tipo de crime, seja no furto, seja na identificação de locais que sirvam para receptação desses materiais. Mas como são coisas ilegais, elas ocorrem muito rápido, pois todo mundo já tem para quem passar (o material) e isso é o que dificulta a nossa ação”, aponta. “Há uma busca maior por itens de cobre, fiação, e é um material que está mais exposto nas vias públicas, sendo mais fácil de furtar. Então, acaba-se vendendo e trocando os itens com mais facilidade”, pontua a comandante.