MOBILIZAÇÃO

Frequentadores promovem abaixo-assinado para reabrir Bosque dos Jequitibás

Secretaria de Serviços Públicos avalia contralaudo realizado pela comissão de Arborização da Câmara de Campinas

Bianca Velloso/ [email protected]
13/06/2023 às 08:29.
Atualizado em 13/06/2023 às 10:03
Comerciante que tem uma banca na parte externa do Bosque há 26 anos disse que é comum ver famílias voltando para casa ao notar área fechada (Kamá Ribeiro)

Comerciante que tem uma banca na parte externa do Bosque há 26 anos disse que é comum ver famílias voltando para casa ao notar área fechada (Kamá Ribeiro)

Moradores, usuários e comerciantes estão mobilizados na coleta de assinaturas para pedir a reabertura do Bosque dos Jequitibás, em Campinas. Até o momento, o abaixo-assinado conta com cerca de 800 apoiadores. A Secretaria de Serviços Públicos informou que a abertura dos portões do Bosque depende da realização do manejo das árvores, procedimento que precisa ser autorizado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo (Condephaat), porque o Bosque foi tombado como patrimônio estadual em 1970.

A organizadora do abaixo-assinado, Maria Cristina Cecílio, 71 anos, disse que a ideia do movimento surgiu durante uma caminhada. “Eu caminho no Bosque há mais de 20 anos. Depois que ele foi fechado, continuei caminhando por fora, é horrível. Um dia, duas senhoras me perguntaram se a gente não iria fazer nada e pensei que elas tinham razão. Resolvemos nos reunir no dia 20 de maio”, explicou a paisagista que nasceu nas proximidades do Bosque dos Jequitibás e permaneceu na região. “O Bosque é o quintal da minha casa. Isso faz parte da minha vida e da minha história”.

Segundo ela, o objetivo é conversar com a Administração do município para levar essa demanda. Maria disse que não tem uma perspectiva da quantidade de assinaturas. Em apenas um domingo, que ficou no entorno do Bosque, a moradora conseguiu 533 assinaturas. Maria disse que é comum ver pessoas indo ao local na esperança de ter um momento de lazer lá. “Direto vejo as pessoas voltando. Dá dó ver as pessoas saindo de longe e dando com a cara no portão”, disse ela em referência aos portões ainda fechados. 

Esse foi o caso do casal Éder Rodrigues dos Santos, 24 anos, e Maria Daiane de Sousa da Silva, 24 anos, que foram até o Bosque para aproveitar a folga no dia dos namorados. “Gosto de vir aqui, porque lembra minha infância e gosto da natureza”, disse o segurança. Maria declarou que sentiu raiva por ter se deparado com o local fechado após gastar duas horas para chegar. “ A gente veio de tão longe para encontrar fechado. Gosto da natureza para relaxar”, revelou a empacotadora.

José Carlos de Sousa, 65 anos, tem uma banca na parte externa do Bosque há 26 anos e disse que é comum ver famílias voltando para casa ao notar que a área está fechada. “Ontem, deu dó, vi cerca de dez famílias com cesta de lanche, todos animadinhos. É comum ver as pessoas indo alegrinhas, chegam lá e tá fechado e a criancinha sobe chorando. É triste”. Sousa conseguiu manter o negócio aberto porque fica na parte externa do Bosque, mas isso não significa que não foi afetado. “O movimento caiu 99%. Para pagar as contas, eu busco outros serviços”. 

Por outro lado, os comerciantes da parte interna do Bosque estão com suas atividades suspensas desde o dia 24 de janeiro, quando os 25 parques de Campinas foram fechados. Segundo informações da autarquia Serviços Técnicos Gerais (Setec) da Prefeitura de Campinas, responsável pela autorização do uso e ocupação do solo para fins comerciais nas vias e logradouros públicos, os permissionários do Bosque dos Jequitibás ficaram isentos do pagamento referente ao uso da área pública. Os comerciantes do local só terão a liberação para trabalhar no Bosque quando for reaberto.

Rosinez Teodorio da Silva, 48 anos, trabalha há seis anos no pula-pula do Bosque e tem a atividade como principal fonte de renda. Com o fechamento do local, o marido dela, que é técnico de enfermagem, está tendo que fazer turnos extras para assegurar o sustento da família. Segundo Rosinez, alguns comerciantes entraram em depressão por não conseguirem trabalhar. “Estamos precisando do nosso trabalho de volta. Eu preciso trabalhar”. Apesar de destacar a urgência na retomada, a comerciante disse que entende a necessidade da manutenção. “Eu quero que faça a manutenção, porque eu quero voltar com segurança”. Para tentar ajudar, Rosinez está participando de reuniões e coletando assinaturas.

O secretário de Serviços Públicos, Ernesto Paulella, disse que ainda não tem conhecimento do abaixo-assinado. “Nós temos que avaliar do ponto de vista de segurança dos usuários. Por isso, não tem a menor possibilidade de abrir o parque sem o manejo das árvores. Isso só pode ser feito mediante a autorização do Condephaat. Assim que receber a autorização, o manejo deve ser feito em 10 dias”, garantiu.

CONTRALAUDO

Além disso, a Pasta disse que está avaliando o contralaudo, realizado pela Comissão de Arborização da Câmara de Campinas. O laudo da Secretaria de Serviços Públicos, documento que está sob análise do Condephaat, recomenda o manejo de 108 árvores. Já o contralaudo indica que 75 devem ser retiradas e 36 exemplares devem receber intervenções, como poda e instalação de equipamentos de sustentação. A justificativa para a elaboração deste estudo é verificar se essas árvores precisam ser de fato removidas. A divergência levou a Secretaria de Serviços Públicos a reavaliar a quantidade de árvores a serem extraídas. Paulella disse que vai analisar todos os apontamentos e tomará uma decisão. “Estamos analisando cada item para ver se tem substância técnica no laudo. A responsabilidade cívica e criminal das árvores é da Prefeitura”.

O secretário disse que uma das diferenças entre os laudos é que o documento feito pela Secretaria de Serviços Públicos sugere a remoção de uma determinada árvore. Já o contralaudo orienta a manutenção dela. “A árvore está podre e inclinada em direção ao passeio. A Comissão disse que essa árvore pode ser mantida desde que seja colocado um suporte e uma escora. Vamos analisar se isso vai ser suficiente para manter a estabilidade da árvore”.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por