Índice é considerado baixo, diante da força econômica da região, e indica necessidade de políticas próprias e investimentos
Menos da metade das crianças de zero a três anos moradoras da Região Metropolitana de Campinas (RMC) estão matriculadas em creches públicas ou privadas, evidenciando a necessidade de investimento em unidades de ensino infantil. O estudo “Avanços e Desafios da Educação Infantil”, realizado pela Fundação Seade e baseado em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2012 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que a região tem 147 mil crianças desta faixa etária, das quais 61,1 mil na creche, o que corresponde a uma taxa de atendimento de 41,1%. O índice é ligeiramente superior ao registrado no Estado de São Paulo, no qual a taxa é de 37,4%. Vale lembrar que nem todas as mães de crianças dessa faixa etária procuram uma creche, e não há obrigatoriedade da matrícula de crianças de até três anos em unidades de ensino infantil. Foto: César Rodrigues/AAN Ir à escola é importante para o desenvolvimento infantil na 1ª infância, desde que seja intercalada com um tempo junto aos pais, diz especialista Para Angela Fátima Soligo, doutora em psicologia e professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a taxa de atendimento na RMC é muito baixa tendo em vista o potencial econômico da região, localizada em uma das áreas mais desenvolvidas do País. “É um índice baixo. A região de Campinas tem uma economia forte e uma arrecadação boa de impostos, por isso não se justifica essa taxa. A RMC já deveria estar universalizada, ou com pelo menos 90% das crianças na creche. O prejuízo para as famílias e as crianças é muito alto”, avaliou Angela.Engenheiro Coelho é a cidade com a menor taxa de atendimento da região segundo dados do Pnad 2012, com apenas 17,3% das crianças com até três anos matriculadas em creches. Das 1.055 crianças desta faixa etária moradoras do município, apenas 182 estudam em uma unidade de Engenheiro Coelho. A seguir aparecem Cosmópolis (25,6%) e Sumaré (30,1%).A secretária de Educação de Engenheiro Coelho, Cleide Aparecida Franco de Oliveira Cruz, afirma já ter reduzido drasticamente o déficit neste ano, sobretudo com a reabertura da creche Rosália Guidotti de Lima, em funcionamento há cerca de dois meses. A unidade foi inaugurada oficialmente em dezembro de 2012, mas de acordo com a secretária da pasta não tinha condições de receber as crianças e precisou de reparos. Segundo ela, a administração está contratando mais quatro educadoras e vai abrir mais uma sala. “Estamos fazendo o possível para atender todas as crianças. Tivemos uma reunião na semana passada no Conselho Tutelar e já estamos resolvendo o problema. Há cerca de dois meses fizemos melhorias na creche Rosália e dentro de 15 dias vamos contratar mais quatro educadoras”, destacou Cleide.A ajudante de produção Carla Cristina Fernandes, de 25 anos, sentiu na pele a falta de vagas em creches de Engenheiro Coelho. Ela teve que esperar cinco meses para conseguir uma vaga para a filha, que a partir de amanhã vai ficar um período na creche Rosália Guidotti de Lima. “Trabalho em Jaguariúna e estava pagando R$ 100 para uma babá. Desde que ela nasceu estava esperando uma vaga”, contou Carla, mãe de outros dois meninos, de seis e nove anos.Ao contrário de Engenheiro Coelho, Holambra tem um percentual elevado das crianças da primeira infância na creche. A cidade possui a maior taxa de atendimento a crianças de até três anos na RMC. O município conta com 666 crianças com esta faixa etária, das quais 443 estão matriculadas na creche, equivalente a 66,5% do total. Logo a seguir aparece a Paulínia, onde o índice chega a 65,1%. Segundo dados da Pnad, o município tem 5.005 crianças de zero a três anos, e 3.259 estão matriculados em uma creche municipal. Além de Holambra e Paulínia, somente outras duas cidades da região possuem mais da metade das crianças na creche: Vinhedo (53,6%) e Pedreira (51,4%). Maior cidade da região, Campinas atende a apenas 40,1% das crianças.A especialista considera importante para o desenvolvimento das crianças da primeira infância a presença na creche, desde que intercalado com um período de convivência com a mãe. “A educação infantil é importante nessa etapa para desenvolver todas as possibilidades naturais, de linguagem e sociabilidade para o bebê. A convivência com a mãe é importante, o ideal é um período estar com a mãe e outro na creche”, defendeu Angela.