Fotógrafos ajudam a preservar a Mata de Santa Genebra ao difundir as imagens das espécies animais e vegetais que compõem aquele bioma
A Fundação José Pedro de Oliveira, gestora da Mata de Santa Genebra, incentiva o surgimento de novos fotógrafos interessados no meio ambiente (Divulgação)
A Mata Santa Genebra, maior fragmento remanescente da Mata Atlântica de Campinas, tem a sua biodiversidade perpetuada pelas lentes dos fotógrafos, que difundem as imagens que produzem em exposições, redes sociais e até livros. Esse trabalho contribui para atrair novos visitantes para aquela reserva natural, que se sentem seduzidos pela vida selvagem e que passam a usar suas vozes em defesa da natureza. Cada clique faz com que o registro de plantas e animais "deixe" os 251.77 hectares da mata, o equivalente a 300 campos de futebol, para alcançar múltiplos expectadores, em diferentes locais.
O foco das câmeras está sempre voltado para flores, plantas, árvores, borboletas, tucanos, macacos e outras espécies, que são registradas em seu habitat. As imagens revelam a interação presente naquele rico ecossistema, composto por cerca de 600 espécies de plantas e 329 espécies de animais vertebrados. Não há um estudo sobre o número de invertebrados que vivem na mata, mas já foram identificadas mais de 700 espécies de borboletas.
"A fotografia é importante para o meio ambiente em vários aspectos. A começar pela geração de bem-estar devido ao contato com a natureza. Também ajuda a promover a conscientização de preservação", afirma o biólogo Thomaz Henrique Barrella, da Fundação José Pedro de Oliveira (FJPO), responsável pela conservação e gestão da Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), como é classificada a Mata de Santa Genebra. Ele mesmo é um fotógrafo amador que tem na natureza uma de suas fontes de inspiração.
A mata também já foi o cenário do nascimento de diversos fotógrafos profissionais. "Comecei minha carreira fotográfica, de certa forma, lá. Eu frequentava para desenvolver a parte técnica", afirma o designer Osvaldo Furiatto, com mais de 35 anos dedicados ao universo da imagem. "Fotografar a natureza é uma das minhas paixões. Gosto muito de registrar animais soltos, em seu habitat", diz ele, que já fez uma exposição na Mata Santa Genebra. A partir dali, o leque de trabalho se ampliou para o fotojornalismo, aviação, arquitetura, moda e beleza e outras áreas.
ENVOLVIMENTO
A própria Fundação José Pedro de Oliveira incentiva o surgimento de novos fotógrafos interessados no meio ambiente. Ela desenvolve o projeto "Fotógrafos da Natureza", lançado em 2017 e que tem o objetivo de promover o envolvimento da comunidade na divulgação e valorização da unidade de conservação.
O primeiro encontro de formação deste ano será no próximo sábado, dia 3 de junho, como parte da Semana do Meio Ambiente - Semeia 2023. Na ocasião, serão apresentados os objetivos da ARIE e as normas para participação do projeto, que inclui uma caminhada de aproximadamente 5 quilômetros pelo entorno e trilhas da mata.
Os participantes receberão uma carteirinha para acesso e poderão fotografar na zona de visitação da Mata de Santa Genebra. As imagens obtidas serão utilizadas em ações de comunicação e educação ambiental promovidas pela fundação. O interesse pelo projeto é tão grande que já não há mais vagas para essa turma. Um novo grupo será formado no segundo semestre. Não é necessário que os participantes possuam equipamentos profissionais.
Muitos dos participantes se tornam observadores da natureza e desenvolvem a chamada ciência cidadã, que é a coleta de dados para a pesquisa científica, utilizando metodologias participativas. As imagens registradas pelos integrantes da Fotógrafos da Natureza já deram origem a um guia que descreve as aves existentes na Mata Santa Genebra. A iniciativa identificou 20 animais que não haviam sido registrados anteriormente, ou seja, não se sabia que viviam no local, afirma o biólogo Thomaz Barrella.
CONTROLE DA VIDA
A fotografia também é uma ferramenta para estudo e controle da vida na ARIE. A fundação utiliza armadilhas fotográficas para acompanhar o fluxo dos animais e as variações sazonais que ocorrem, recurso complementando com o uso de outros métodos indiretos, como verificação de pegadas e fezes. Entre as espécies identificadas estão algumas que estão na lista vermelha da fauna ameaçada no Estado de São Paulo.
A relação traz os animais que correm risco de desaparecer de maneira definitiva do planeta, ou seja, de tornaremse extintos. Entre as espécies nessa situação identificadas na Mata Santa Genebra está a onça-parda, que teve três ninhadas registradas desde 2013, com um total de quatro filhotes. Outras são a jaguatirica, gato-do-mato-pequeno e o bugioruivo.
A unidade de preservação é uma floresta estacional semidecidual, que já foi considerada a maior cobertura no Estado de São Paulo e hoje é uma das mais devastadas do país. Ela abriga aproximadamente 600 espécies de flora, algumas sob risco de extinção, como a palmeira-juçara e a canela-sassafrás.
Especializado em fotografias de natureza, o professor universitário Celso Ferrarezi destaca a importância por despertar a consciência da preservação ambiental. "Uma das funções da fotografia de natureza é mostrar como o todo da natureza é bonito. Quanto mais belas as fotos forem e mais essas forem conhecidas, mais as pessoas terão disposição de preservar e de ajudar na preservação desses biomas e dessas espécies", afirma.
As fotos artísticas do docente, em sua maioria de animais e pássaros, são utilizadas em enciclopédias, livros didáticos, revistas e obras literárias. Algumas delas também são comercializadas para financiar os equipamentos exigidos para as técnicas de fotografia em biomas.
"Com uma foto é possível eternizar e materializar momentos, é possível comunicar sem palavras e fronteiras, é possível sensibilizar e encantar ou até mesmo aterrorizar e chocar. A imagem pode desde mostrar situações muitas vezes inimagináveis, como o descarte de lixo nos oceanos, que soma 25 milhões de toneladas ao ano, até detalhes deslumbrantes da fauna e flora", exemplifica o biólogo Alessandro Castanha, que costuma participar de concursos de fotografia.
SEMEIA
A Semana do Meio Ambiente será realizada de amanhã até o dia 5 de junho. O tema deste ano é "Todos na Rede Campinas de Educação Ambiental", que busca destacar a importância do esforço coletivo no trabalho pela educação e cooperação pela conservação ambiental.
O Semeia 2023 terá uma séria de atividades, incluindo visitas diurnas e noturnas à Mata de Santa Genebra; instalação de abrigos para abelhas, que são importantes para polinização de plantas; exposições, caminhadas e visitas a escolas.
A unidade de preservação mantém um viveiro de mudas de árvores da Mata Atlântica, que são plantadas em diversos pontos de Campinas. De acordo com balanço da Fundação José Pedro de Oliveira, em três anos foram realizados 32.735 plantios. A previsão para este ano é plantar 20 mil mudas, o mesmo número de 2022.
"Em três anos serão 50 mil mudas plantadas em áreas degradadas, matas ciliares, corredores ecológicos. É um trabalho importante de reconstrução ambiental em áreas degradadas, em áreas onde nós temos muitas árvores exóticas, e nativas da Mata Atlântica", afirma o presidente da FJPO, Aparecido Souza Santos, o Cidão Santos.
Os plantios foram realizados na própria Mata de Santa Genebra e em outros locais, como Lagoa do Taquaral, Área de Preservação Permanente (APP) do Rio Atibaia, Floresta Estadual Serra D'água, Parque Linear do Rio das Pedras, APP do Córrego do Proença, Parque Linear Córrego do Banhado, APP Córrego do Piçarrão, Lagoa do Mingone, APP Nascente do Residencial Mandela e Parque das Águas. Para produzir as mudas, os técnicos e biólogos da fundação coletam sementes da Mata Santa Genebra e de bosques de Campinas. As sementes são levadas para o viveiro e preparadas, tratadas e colocadas na sementeira para germinar. Quando as mudas atingem determinada altura, estão prontas para ser plantadas.
O fotógrafo Osvaldo Furiatto conta que iniciou sua carreira registrando imagens de espécies que vivem na reserva natural de Campinas (Divulgação)