RESSONÂNCIA

Fornecedor ignorava uso de substância em exames

Revendedor de produto usado em pacientes diz que o vendia para limpeza de aparelhos

Cecília Polycarpo
07/05/2013 às 12:57.
Atualizado em 25/04/2022 às 17:19
Gustavo Carvalho (à dir.), diretor do Vera Cruz que também alega desconhecer substância, deixa delegacia com o advogado Rodrigo Pimentel (Erica Dazonne/ AAN )

Gustavo Carvalho (à dir.), diretor do Vera Cruz que também alega desconhecer substância, deixa delegacia com o advogado Rodrigo Pimentel (Erica Dazonne/ AAN )

O proprietário da empresa que forneceu a substância que provocou três mortes após exames de ressonância magnética no Hospital Vera Cruz afirmou à Polícia Civil de Campinas que não sabia que o produto era utilizado nesse tipo de procedimento, na segunda-feira (7), durante rodada de depoimentos sobre o caso na Delegacia Seccional.

O perfluorocarbono, substância industrial não autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser usado em exames, foi injetado por engano nos pacientes em janeiro. Carlos José de Almeida, proprietário da microempresa que compra a substância da 3M e revende para empresas médicas de Campinas e região, disse à delegada Cibele Sanches que o produto era vendido para limpeza de equipamentos.

“Ele falou que não sabia para que a substância era usada, mas que estava acostumado a vender para laboratórios de exame da região”, disse Cibele. Ainda de acordo com a delegada, ficou provado que o produto não era regulamentado. “Se fosse um produto para ser usado em hospital, a 3M forneceria diretamente às clínicas. Não precisaria de intermediários.”

O diretor administrativo do hospital Gustavo Carvalho também disse à polícia ontem que a unidade não sabia que a substância era usada nos exames, feitos na clínica Ressonância Magnética Campinas (RMC), que fica dentro do Vera Cruz. Sobre o suposto trabalho experimental de estudantes de pós-graduação com o perfluorocarbono, conduzido pelo médico e sócio da RMC Adilson Prando, Carvalho falou que a direção do hospital não sabia das experiências. “Se algum experimento foi feito, isso não ocorreu nas dependências do Vera Cruz.”

Sociedade

O advogado da RMC, Ralph Tórtima Stettinger, que acompanhou os depoimentos, disse também que a empresa não é terceirizada, como foi informado inicialmente pela direção do hospital. Segundo ele, o Vera Cruz tem 50% de sociedade nos serviços oferecidos pela companhia de diagnóstico por imagens.

Carvalho confirmou que a sociedade entre a clínica e o hospital, mas disse que ela seria apenas “econômica”. “Não é uma sociedade operacional, nem científica, nem administrativa. A sociedade é econômica e na compra de equipamentos. O hospital não tinha conhecimento da substância e nem do que ela poderia causar.”

Em entrevista ao Correio, Stettinger falou também que o depoimento de Carvalho confirmou a tese da RMC de que a embalagem de perfluorocarbono utilizada nos pacientes estava identificada. “Nos frascos havia uma fita dizendo que o produto era o perfluorocarbono. Acabei de ouvir isso do Gustavo (Carvalho, diretor administrativo do hospital).” Durante a investigação policial, foi informado que o produto era armazenado em embalagens reaproveitadas de soro fisiológico, sem identificação. À época, a Polícia Civil informou que o fato teria induzido ao erro uma auxiliar de enfermagem que trabalhava no local havia dez dias.

Ainda segundo o advogado, o caso não pode ser qualificado como dolo eventual (quando se assume o risco). “Existe uma grande diferença entre equívoco, uma falha e dolo eventual.” Settinger refutou ainda a acusação de que a RMC não teria preservado o local onde foi aplicada a substância. “Tudo ficou à disposição da polícia, para quem se interessasse. Não foi mexido em nada.”

Na terça (8), os sócios da Ressonância Magnética Campinas deporão sobre o caso. O delegado José Carlos Fernandes não se pronunciou, por ora, sobre os depoimentos de ontem e nem sobre o fato de o produto ter uma etiqueta de identificação.

Colaborou Shana Pereira/AAN

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