ALERTA AOS TUTORES

Fogos de artifício colocam em risco a vida de cães

Nos últimos dias um pitbull morreu após infartar em Indaiatuba; sensibilidade auditiva de cães é duas vezes maior que a de humanos

Isabella Macinatore/ [email protected]
29/12/2023 às 12:00.
Atualizado em 29/12/2023 às 12:00
Marines Barbosa da Silva, diretora da ONG Adorável Vira-Lata, resgatou oito cachorros durante o último ano, justamente no período de festas de Natal e Ano-Novo; ela contou que definiu um padrão para evitar estresses nos animais e coloca música no rádio para tentar acalmá-los (Rodrigo Zanotto)

Marines Barbosa da Silva, diretora da ONG Adorável Vira-Lata, resgatou oito cachorros durante o último ano, justamente no período de festas de Natal e Ano-Novo; ela contou que definiu um padrão para evitar estresses nos animais e coloca música no rádio para tentar acalmá-los (Rodrigo Zanotto)

Mesmo com a proibição da queima, soltura e manuseio de fogos barulhentos em Campinas, o desrespeito à legislação e aos alertas sobre o risco dessa prática causam transtornos aos animais todos os anos e até alguns óbitos, como registrado em um incidente recente. O pitbull Thor morreu, devido a um infarto, após soltarem fogos de artifício em frente ao portão da residência dos seus donos, no bairro Jardim Lauro Bueno, em Indaiatuba.

Segundo a tutora de Thor, Rafaela Morais, a filha encontrou o cão já sem vida após a explosão dos fogos. “Cheguei em casa e o vi caído no chão, com um paninho rosa que minha filha jogou em cima dele. E aí eu entrei em desespero no portão da minha casa mesmo”, contou.

Rafaela relatou que no mesmo dia, mas antes do falecimento de Thor, vizinhos reclamaram do barulho de fogos de artifícios.

Também há casos em que o óbito não acontece imediatamente, mas que envolvem estresse elevado e até fugas dos cachorros, como relatou a diretora do projeto Adorável Vira-Lata, organização não governamental que atua há 15 anos em Campinas, Marines Barbosa da Silva.

“Durante o final de ano já temos um padrão para evitar estresses nos cachorros. Daqui (ONG), são retirados quatro cachorros para minha casa por conta dos fogos. E os que estão resgatados na minha casa são transferidos para um quarto que deixamos já preparado para eles”, explicou Marines.

Ao todo, considerando somente o último ano, a ONG resgatou oito cachorros durante o período das festas de final de ano. O número, segundo Marines, foi semelhante ao de anos anteriores. Procurada, a Prefeitura disse que o Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal (DPBEA) não resgatou nenhum animal assustado ou atropelado e que também não houve nenhum pedido de resgate dentro desse contexto.

Mesmo assim, a realidade é outra para a diretora da ONG Adorável Vira-Lata. Marines contou que perdeu dois dos cachorros dela durante o período de festas, os dois por infarto. Ela relatou que ainda houve um terceiro cachorro perdido, mesmo sem ter morrido. O barulho dos fogos de artifício fez com que ele pulasse o muro e fugisse. "Nunca conseguimos encontrálo", lamentou Marines.

O QUE LEVA ISSO A ACONTECER?

A médica veterinária Carolina Biondo, ao ser consultada sobre quais são os efeitos dos sons de fogos de artifício em animais, explicou que a sensibilidade auditiva dos cães é duas vezes maior que a dos humanos.

“Essa aguçada audição é resultado de uma evolução voltada para a caça e defesa e que torna os fogos de artifício particularmente perturbadores, devido ao volume e à frequência excessiva com que são disparados.”

Ainda sobre as reações dos animais diante a situações de estresse, Carolina explicou que “a tendência dos pets ao ouvirem fogos é fugir ou se esconder. Nesses momentos, o corpo dos animais ativa o sistema nervoso simpático, responsável por ajustar o organismo para suportar situações de perigo, esforço intenso, stress físico e psíquico. Isso resulta no aumento da frequência cardíaca e pressão arterial, deixando o pet suscetível a traumas psicológicos e físicos, como paradas cardíacas”.

PRECAUÇÕES

Diante desse cenário, algumas medidas preventivas podem minimizar o impacto negativo nos animais. Os tutores desempenham um papel crucial nesse contexto, e compreender como aliviar o estresse durante esses eventos é fundamental para o bem-estar dos pets. Quando questionada sobre recomendações para os tutores, a veterinária comentou sobre a procura por medicamentos.

“Muitos estudos mostram que na época do final de ano a procura por sedativos veterinários aumenta muito por causa do medo dos animais com os fogos. Existem situações em que há a necessidade do uso, porém não pode ser banalizado. Procure sempre um médico veterinário antes de medicar o animal. É primordial manter os animais em um abrigo fechado, onde não haja como ele fugir ou se machucar. Vale a pena ressaltar o cuidado com o uso de coleiras e guias para que não exista o risco de ele se enforcar.”

A recomendação da veterinária é pela preferência por medicamentos homeopáticos, florais de Bach e até aromaterapia como parte da estratégia para auxiliar o pet a passar por esse momento.

Outra recomendação foi acerca da presença do tutor. “A companhia dos tutores é algo que traz relaxamento, passa o sentimento de segurança e confiança para os pets. Procure manter o local abafado dos sons, mantenha sempre o pet identificado (plaquinhas com nome e telefone na coleira, ou até microchip intradérmico) e saiba a localização de uma clínica veterinária 24h para casos de emergência”, concluiu Carolina.

PROIBIÇÃO

A prática de soltar fogos de artifício, que se acentua nesta época do ano, contrasta com a legislação municipal 15.367/2017, em vigor desde 3 de janeiro de 2017, que proíbe a queima, soltura e manuseio de fogos barulhentos na cidade. Desde 2022, a multa para quem for flagrado está fixada entre 100 e 500 Unidades Fiscais do Município (UFCs), valor que pode variar entre R$ 448 e R$ 2.240.

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