Tudo que quero é justiça. Que as pessoas que causaram a morte de minha mãe sejam punidas. Que o que houve com minha mãe não volte a acontecer
Hospital Municipal Ouro Verde, cujo contrato de administração pela SPDM vai até fevereiro ( Carlos Sousa Ramos / AAN)
“Tudo que quero é justiça. Que as pessoas que causaram a morte de minha mãe sejam punidas. Que o que houve com minha mãe não volte a acontecer.” O desabafo é do tecelão Adriano Leal Bernardes, de 40 anos, morador no distrito do Campo Grande, em Campinas. No último domingo ele enterrou a mãe, a dona de casa Rosa Darc Leal Bernardes, de 64 anos, que morreu após passar por uma cirurgia de remoção de pedra na vesícula, no Hospital Ouro Verde. Em um laudo que a família teve acesso, a causa mortis foi apontada como sobredosagem de morfina. O caso, registrado como morte suspeita, é investigado no 9º Distrito Policial (DP), no Jardim Aeroporto. Segundo Adriano, dona Rosa foi internada no dia 25 de junho para uma cirurgia simples. Ela recebia acompanhamento na rede básica de saúde, mas como passava muito mal quando comia não viu outra opção. Decidiu fazer a cirurgia. Pela previsão médica, em dois dias ela receberia alta, de tão simples que era a intervenção. O marido e uma irmã a acompanharam. “Foi dito que logo após a cirurgia ela voltaria para o quarto, mas isso não aconteceu. O tempo foi passando e meu pai não tinha notícias. De tanto insistir, uma enfermeira nos contou que minha mãe tinha sido levada para a UTI por conta de uma complicação. Na verdade, ela já tinha tido morte cerebral, mas ninguém nos contou”, disse o tecelão. Dona Rosa ficou internada cinco dias. Segundo a família, quando ela chegou ao hospital estava bem. Os médicos disseram para os acompanhantes que a cirurgia ocorreu normalmente e que a complicação teria começado na recuperação da anestesia. “Do coma induzido, ela teve uma parada cardiorrespiratória e o coração parou por 10 minutos. Eles conseguiram reanimá-la, o coração voltou a bater, porém o cérebro já tinha dado falta de oxigênio”, contou Adriano. Segundo o tecelão, o laudo médico fornecido pelo próprio hospital aponta que a paciente teve uma sobredosagem de morfina. O relatório descreve ainda que além da anestesia geral foi realizada a raquianestesia, que retirar a sensibilidade da parte inferior do abdômen e dos membros inferiores. O documento aponta ainda como causa provável da morte uma intoxicação. A dosagem de morfina aplicada em dona Rosa, segundo a família com base em informações de médicos, foi o equivalente a 50 vezes mais a dosagem normal para uma cirurgia simples. “O médico disse que a dosagem foi excessiva e perguntei: ‘como assim?’. Então ele disse que foi feito por uma estagiária e que nós deveríamos fazer um boletim de ocorrência e que procurássemos nossos direitos”, disse o tecelão. “Eu quero que os responsáveis sejam apontados e responsabilizados. Eu sei que isso (morte) não foi só com minha mãe. Já houve outros casos. Isso é muito cruel”, acrescentou. Inquérito O delegado José Roberto Micherino Andrade informou que o inquérito será instaurado para apurar as circunstâncias e causas da morte e que a família e médicos serão convocados para prestar depoimento. Ele também aguardará o laudo médico do Instituto Médico Legal (IML), que deverá ficar pronto em cerca de 30 dias. Em nota, a Prefeitura informou que o Hospital Ouro Verde conta com uma Comissão de Investigação de Óbitos, que analisa as mortes na unidade hospitalar e aponta se algum procedimento foi adotado de forma equivocada. “A Comissão é um órgão formal, com registro no Conselho Regional de Medicina. As causas deste óbito serão analisadas e, com base no laudo, a administração da unidade tomará as medidas administrativas, éticas e legais cabíveis”, frisou na nota.