ALERTA NO DIA MUNDIAL DA ÁGUA

Fevereiro foi o mês mais seco desde 1943, aponta INMET

Houve 69,2 mm de chuvas no sistema Cantareira, enquanto eram esperados 246,2 mm

Gilson Rei
23/03/2022 às 11:06.
Atualizado em 23/03/2022 às 11:06
Para melhorar oferta de água na região, é aguardado o fim das obras das represas de Amparo e Pedreira, que ampliarão disponibilidade hídrica nas Bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Ricardo Lima)

Para melhorar oferta de água na região, é aguardado o fim das obras das represas de Amparo e Pedreira, que ampliarão disponibilidade hídrica nas Bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Ricardo Lima)

Com a crise climática mundial e níveis de abastecimento de água abaixo da média no reservatório do sistema Cantareira — que abastece Campinas, parte da Grande São Paulo e do Interior do Estado —, o Dia Mundial da Água, celebrado hoje, serve para alertar sobre as possíveis dificuldades de abastecimento e o risco de uma crise hídrica este ano. O mês de fevereiro foi o mais seco da série histórica de dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), iniciada em 1943. O mês passado teve 69,2 milímetros (mm) de precipitação no sistema Cantareira, enquanto eram esperados 246,2 mm.

Com esse cenário nada animador, o Dia Mundial da Água tornou-se um marco indispensável para chamar a atenção da população sobre a urgência de medidas que evitem a falta de água e racionamentos futuros. A crise hídrica é considerada grave pelos gestores devido à frequência maior de eventos extremos climáticos, como tempestades tropicais, inundações, ondas de calor, seca, nevascas, e até mesmo furacões e tsunamis em outros países.

Eventos extremos geram secas severas e já interferem no abastecimento de água do sistema Cantareira, que abastece 6,5 milhões habitantes da Grande São Paulo e mais de 5 milhões de pessoas em 19 cidades do Interior, incluindo Campinas — que recebe água das Bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), caso dos Rios Atibaia (95%) e Capivari (5%).

Sistema Cantareira terminou o Verão, estação mais chuvosa do ano, com volume reservado de 45% (Cedoc)

Sistema Cantareira terminou o Verão, estação mais chuvosa do ano, com volume reservado de 45% (Cedoc)

Abaixo do nível

Mesmo com a chuvarada registrada nos últimos dias, a média do reservatório de água do sistema Cantareira ainda está abaixo do verificado no mesmo período do ano passado. O armazenamento subiu um pouco e, na atualização de ontem, o volume reservado passava dos 45%. Com isso, o Cantareira terminou o Verão, estação com mais chuvas, com volume operacional inferior ao que possuía no mesmo dia do ano passado, quando registrava índice de 52,3%.

O quadro não é animador. O mês de fevereiro deste ano, por exemplo, foi o mais seco da série histórica de dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), iniciada em 1943. O mês passado teve 69,2 milímetros (mm) de precipitação no sistema Cantareira, quando o esperado era de 246,2 mm. De acordo com os meteorologistas do instituto, isso ocorreu por uma mistura de fatores: alteração de temperatura na superfície dos oceanos, efeitos do fenômeno climático La Niña, e a ocorrência de episódios das chamadas Zonas de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Além disso, as próximas estações — Outono e Inverno — têm como característica a diminuição de chuvas em níveis significativos. Pela climatologia, toda água que foi armazenada no período chuvoso (Primavera e Verão) começa a ser utilizada nos próximos meses, pois os índices de chuva vão diminuir.

PCJ confirma menos chuva

O boletim mais recente sobre o comportamento pluviométrico emitido pelo Consórcio PCJ — em fevereiro passado — confirma também que ocorreu menos chuva neste início de ano. O boletim revelou que a região das Bacias PCJ registrou uma precipitação média de 107,05 mm, no mês de fevereiro, volume 30,61% abaixo da média histórica medida pelo Consórcio PCJ, que é de 154,28 mm. Já o acumulado de janeiro e fevereiro foi de 362,11 mm, enquanto o acumulado histórico para o mesmo período foi de 370,99 mm.

O mesmo comportamento pluviométrico inferior é observado no reservatório do sistema Cantareira, que registrou 107,3 mm em fevereiro, sendo 46,78% abaixo da média histórica, que é de 201,60 mm. Já o acumulado de janeiro e fevereiro no Cantareira foi de 429,30 mm, ao passo que o acumulado histórico é de 465,30 mm.

Em relação às previsões climáticas, os analistas do Consórcio-PCJ revelam que o mês de março terá chuvas abaixo da média climatológica. A preocupação dos gestores de recursos hídricos para a segurança hídrica é grande, tendo em vista que é necessário armazenar o máximo possível de água e promover a recuperação dos mananciais, de modo a garantir a oferta hídrica para os usuários das bacias. Além disso, o risco de dificuldades no abastecimento, com reflexos para uma possível crise hídrica neste ano, ainda é um cenário que não deve ser descartado.

Novos reservatórios

Uma das soluções mais aguardadas para melhorar a oferta de água na região é a construção das represas de Amparo e Pedreira, que juntas irão ampliar a disponibilidade hídrica em torno de 9 metros cúbicos por segundo (m³/s) nas Bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Com o avanço das obras das represas, o debate em torno da distribuição desse aumento do volume de água pelo Sistema Adutor Regional (SARPCJ) ganhou força dentro dos governos municipais da região e do Governo de São Paulo, responsável pela obra.

A previsão é que a licitação dos estudos básicos do projeto seja realizada no primeiro semestre deste ano. Com isso, o Consócio das Bacias do PCJ vem promovendo encontros com municípios e empresas para conhecer os gargalos existentes, fomentando debates e alternativas entre os seus membros associados, para que essas sugestões possam ser repassadas ao Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE), responsável pela contratação da obra do SAR-PCJ.

Em janeiro deste ano, o secretário estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente, Marcos Penido, disse que as duas barragens devem começar a encher no fim deste ano e estarão prontas para iniciar a operação em 2023. O estudo preliminar, realizado em 2018, indica que 28 municípios seriam atendidos pela obra: Americana, Amparo, Artur Nogueira, Atibaia, Bom Jesus dos Perdões, Campinas, Campo Limpo Paulista, Cosmópolis, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Itupeva, Jaguariúna, Jarinu, Jundiaí, Limeira, Louveira, Monte Mor, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Salto, Santa Bárbara d'Oeste, Sumaré, Valinhos, Várzea Paulista e Vinhedo.

O Sistema Adutor seria dividido em dois traçados: o Tramo Oeste e Tramo Leste, somando vazões captadas de até 2,3 m³/s, total de cinco elevatórias e 88,8 km de adutoras. O valor para implantação do SARPCJ foi estimado em R$ 391 milhões, e o custo de operação em R$ 316,3 milhões, tendo como intervalo os anos de 2020 a 2045. Já o custo de manutenção, no mesmo período, foi estimado em R$ 141,26 milhões para o SAR-PCJ como um todo (Tramo Leste e Tramo Oeste).

Os estudos, entretanto, são preliminares e deverão ser refeitos em novo estudo que o DAEE contratará. Por isso, é importante, neste momento, a participação dos municípios, empresas e serviços de abastecimento das Bacias PCJ para estabelecer um trajeto que atenda aos anseios e necessidades da região.

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