VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Feminicídios em Campinas no 1° trimestre superam todos do ano passado

Seis mulheres foram assassinadas na cidade de janeiro a março de 2022

Edimarcio A, Monteiro
13/05/2022 às 09:50.
Atualizado em 13/05/2022 às 12:24
Triplo feminicídio chocou a população de Campinas em janeiro deste ano, quando homem assassinou a filha de 3 anos, a mulher e sogra (Kamá Ribeiro)

Triplo feminicídio chocou a população de Campinas em janeiro deste ano, quando homem assassinou a filha de 3 anos, a mulher e sogra (Kamá Ribeiro)

Campinas registrou mais casos de feminicídio nos primeiros três meses deste ano do que em todo o ano passado. De janeiro a março, seis mulheres foram assassinadas contra cinco em 2021. O balanço foi divulgado ontem durante a realização do Seminário “Todos contra o feminicídio”, no Salão Vermelho da Prefeitura, quando o prefeito Dário Saadi (Republicanos) propôs a criação de um observatório para estudar detalhadamente o tema e definir ações de prevenção.

Além de superar 2021, o número de casos do primeiro trimestre deste ano também é bastante alto em comparação aos registros de feminicídio de 2020 — total de sete em 12 meses. Naquele ano, marcado pelo início da pandemia de covid-19 no Brasil e pela adoção do isolamento social, os casos de violência contra a mulher aumentaram 20%, explicou a promotora de Justiça Verônica Silva de Oliveira durante o seminário. Ela apontou ainda que 70% dos casos envolvem mulheres negras.

“O feminicídio é uma violência que não afeta só a família, mas a sociedade”, afirmou o prefeito Dário Saadi. Segundo ele, o Observatório de Violência contra a Mulher de Campinas terá como propósito reunir e sistematizar as estatísticas disponíveis sobre o tema, gerando informações que orientem a adoção de políticas públicas de prevenção e de combate à violência contra a mulher e do atendimento às vítimas.

“A invisibilidade mata. Temos que saber o que está acontecendo para definir as ações”, ressaltou a promotora Verônica Oliveira. O observatório deverá envolver a Prefeitura, universidades, Ministério Público, Polícia Civil e outras instituições. 

Ações

Durante o seminário, foi destacado que as ações devem ser mais amplas do que a rede de amparo e proteção às vítimas de violência já existente, incluindo até projetos de geração de renda. 
“Muitas mulheres se submetem a uma situação de violência doméstica por causa da dependência financeira”, afirma a secretária municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos, Vandecleya Moro.

A vereadora Debora Palermo (PSC), conselheira tutelar por quatro mandatos, defendeu que o combate ao feminicídio e à violência contra a mulher passa por ações educativas voltadas às crianças e aos adolescentes. “Os filhos têm de aprender a respeitar as mulheres, e as filhas a não se submeter à violência”, disse. “Nós não somos um produto, não somos propriedade de alguém”, completa. 

Organizado pela Rede Municipal de Proteção e Enfrentamento à Violência Contra a Mulher, o Seminário “Todos contra o Feminicídio” teve a participação de especialistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC), Ministério Público e Polícia Civil.

Violência contra a mulher

Desde o final de março, o Centro de Referência e Apoio à Mulher (Ceamo) ampliou o período de atendimento em três horas em virtude do aumento dos casos de violência este ano. Em janeiro e fevereiro, o órgão atendeu 181 casos por mês, crescimento de 224% em comparação à média mensal registrada no ano passado, 51.

O total de 362 casos nos dois primeiros meses de 2022 representa mais da metade de todos os atendimentos do ano passado — 672 —, de acordo com a Secretaria municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos. O Ceamo passou a funcionar de segunda a sexta-feira, das 8 às 19 horas. Anteriormente, o horário era das 9 às 17h. O serviço é um espaço de acolhimento e troca de vivências, de conhecimento e informação sobre os direitos da mulher e resgate de sua cidadania. 

Já os dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública apontam que a mulher é vítima em um a cada seis homicídios dolosos (quando há intenção de matar) registrados este ano no município. A cidade registrou até março, que são os dados mais recentes disponíveis, 36 assassinatos. 

Segundo o Sistema de Notificação de Violência (Sisnov), que monitora dados sobre o tema, a região que registra os maiores índices conhecidos de agressão a mulheres é a Noroeste, com 26,2% do total. Ela possui cerca de 145 mil habitantes, localizada em uma área de 65,64 quilômetros quadrados de extensão, englobando bairros como Jardim Londres, Parque Valença e Santa Clara do Lago. Em segundo lugar, aparece a região Sul, com 25,1%, que inclui os jardins Itatiaia, Paranapanema, São Fernando de outros. 

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por