em Campinas

Feminicídio é maior que a média estadual

Campinas apresenta taxas de feminicídio acima da média do Estado de São Paulo. É o que aponta um estudo divulgado por um grupo de pesquisadores da FCM

Da Agência Anhanguera
02/08/2019 às 07:42.
Atualizado em 30/03/2022 às 19:07

Campinas apresenta taxas de feminicídio acima da média do Estado de São Paulo. É o que aponta um estudo divulgado ontem foi realizado por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. O levantamento, que analisou 582 declarações de óbitos registrados no município, em 2015, constatou a incidência de 3,18 casos de feminicídio a cada 100 mil mulheres. Trata-se de taxa que deixa a cidade com um quadro acima da média estadual, que é de 2,4 para 100 mil. Os dados divulgados mostram ainda que os índices deste tipo de violência também ficam próximos da média nacional (4,8 para 100 mil). Do total de mortes declaradas, 185 corresponderam a homicídios de homens (85,9%) e 26 de mulheres (14,1%). Das 26 mulheres assassinadas, 19 foram vítimas de feminicídio, ou seja, foram mortas pelo simples fato de serem mulheres. Dentre elas, uma parcela significativa (63,2%) foi vítima do próprio companheiro. Duas estavam grávidas no momento da morte. A maior parte dos crimes foi cometida no domicílio da vítima (52,6%) e na via pública (42,1%). O principal mecanismo de morte foi a arma branca, como machados e facas (31,5%), seguida da arma de fogo (26,3%), estrangulamento (21%) e objeto contundente, que engloba agressões físicas com auxílio de objetos de ferro ou madeira (15,8%). A pesquisa ainda traçou um perfil majoritário das mulheres vítimas de feminicídio, em Campinas, que compõe a seguinte característica: mulher branca (47,4%), solteira (63,2%), mãe de um ou mais filhos (84,2%), com ensino fundamental (52,6%) e média de idade de 31 anos. De acordo com Mônica Roa, principal autora da publicação, as mortes por feminicídio, em geral, são altamente violentas do ponto de vista da agressão física e sexual, tendo as vítimas poucas chances de conseguir assistência médica em tempo hábil para sobreviverem. “A intenção de se separar, por parte da mulher, e os desentendimentos com o companheiro figuraram entre as motivações mais frequentes”, conta a pesquisadora. Atualizando dados sobre o feminicídio em Campinas, em 2019, Mônica diz que de janeiro até a semana passada ocorreram oito mortes. “Entrevistamos familiares de todas as vítimas”, destaca. De acordo com o epidemiologista da FCM, Ricardo Cordeiro, especialista em mortes violentas, as consequências do feminicídio, apesar de grandes, ainda não foram completamente dimensionadas. “É preciso superar as limitações habituais dos estudos baseados em registros estatísticos. Conversar com pessoas próximas das vítimas, realizando verdadeiras autópsias verbais, permitirá maior compreensão desse tipo de violência, da subjetividade das vítimas e motivações do agressor e, mais do que isso, em uma identificação mais acurada dos fatores de risco”, analisa. Protestos No começo do mês de julho, um grupo formado por cerca de 150 pessoas participaram de um ato na Avenida Aladino Selmi, na entrada do Jardim São Marcos, em Campinas, em memória de Thaís Fernanda Ribeiro, de 21 anos, morta a tiros pelo ex-namorado na tarde do dia 10 de maio, em um imóvel na Rua Elza Monnerat, na região do CDHU San Martin. O crime aconteceu porque o ex-namorado, de 23 anos, não aceitava o fim do relacionamento. O homem acabou fugindo após o crime e foi preso na madrugada do dia seguinte, depois de se apresentar em uma base da Polícia Militar (PM), em Santo André. Thaís foi assassinada dois dias após o aniversário. O ato em memória da jovem contou com a presença de alunos da ONG onde Thaís frequentava, da família e de amigos. Houve plantio de flores e árvores, cartazes, faixas em mãos e camisetas com a foto da jovem. O ato foi organizado pelo pai da vitima e contou com o apoio do Padre Antônio Alves, da paróquia onde Thais e toda a família frequentava. O grupo recebeu doação de ao menos 350 mudas de plantas, sendo três delas de palmeiras imperiais, que representam três mulheres que foram assassinadas por companheiros, no bairro ao longo do ano.

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