TRADIÇÃO

Feira mantém charme e resiste à modernidade

Este domingo é Dia do Feirante, uma das profissões mais antigas

Fabiana Marchezi/Especial para AAN
25/08/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 04:26
Ricardo Toshiyuki Shimizu assumiu a banca de verduras e legumes dos pais, que começaram 40 anos atrás, quando vieram de Adamantina: negócio sustenta a família ( Carlos Sousa Ramos/AAN)

Ricardo Toshiyuki Shimizu assumiu a banca de verduras e legumes dos pais, que começaram 40 anos atrás, quando vieram de Adamantina: negócio sustenta a família ( Carlos Sousa Ramos/AAN)

Os irmãos Moacir e Osmair dos Santos, de 72 e 66 anos, respectivamente, são feirantes. Na última quarta-feira, às vésperas do Dia do Feirante, comemorado nesta domingo (25), enquanto limpavam os peixes frescos, entre uma venda e outra, os irmãos lembravam do pai, Manoel dos Santos Filho, o primeiro peixeiro feirante de Campinas. “ Aos 30 anos, meu pai começou a trazer peixe de Santos. Ele trazia pela Sorocabana e vendia de charrete nas ruas da cidade. Em 1953, quando começaram as feiras informais em Campinas, ele era o único peixeiro”, recordou Moacir, que iniciou a vida de feirante aos 13 anos, na barraca do pai, falecido desde 1975.“Quando ele morreu, eu e meus irmãos assumimos a barraca, mas os outros, depois de alguns anos, tomaram outro rumo. Só eu e Osmair continuamos mexendo com peixe. Eu gosto muito do que faço, tenho boa freguesia e passo até receitas que levam peixe às donas de casa. Nunca fiz outra coisa na vida. Acordar de madrugada pra mim é normal. Só acho sacrificante quando está muito frio porque a mão fica o tempo todo no gelo”, explicou Moacir, que só come peixe e disse que vai continuar sendo feirante enquanto tiver forças. “Não pretendo parar tão cedo”, brincou Moacir, que chega a vender 40 quilos de peixe por dia. Ele é um dos 179 feirantes das cerca de 70 feiras espalhadas pela cidade.Feirante há 25 anos, Vladimir Moacir Costa, de 50 anos, acredita que a profissão nunca vai acabar, mesmo com a pressão das grandes redes de varejão e os investimentos dos supermercados em hortifrútis. “Eu acredito que a feira ainda vai durar muito tempo. Aqui não tem tempo ruim, a alegria do feirante não acaba. Somos psicólogos da dona de casa. O cliente tem a atenção que merece. Há uma relação de amizade entre o feirante e a freguesia, todos são chamados pelo nome.”As dificuldades enfrentadas pela família levaram Costa a começar na feira desde muito cedo. “Eu comecei molequinho de tudo, carregando carrinho para as mulheres da feira para ajudar em casa. Naquela época, a vida era muito dura. Minha mãe teve sete filhos e a gente tinha que se virar. Depois de um tempo carregando os carrinhos, fui fazer outras coisas até que resolvi ter uma barraca de frutas na feira. Comecei sozinho com uma barraca razoável, hoje trabalhamos em quatro e a barraca está bem maior”, contou. As frutas mais procuradas na banca de Costa são laranja, banana, mamão e abacaxi.Mesmo com a queda de 5% no movimento registrada nos últimos anos, seu Walter Wanderley Preda, continua satisfeito com o lucro que tira na feira. Há 26 anos, faça chuva, faça sol, ele acorda todos os dias às 4h30 para levar alho, batata, cebola e cereais à clientela. Para ele, o descanso vem só depois do almoço e quando dá certo. “Trabalha todos os dias, com exceção da segunda-feira que é a folga do feirante. Só descanso depois do almoço quando não tem mais nada para resolver”, disse.Aos 39 anos, Ricardo Toshiyuki Shimizu assumiu a banca de verduras e legumes dos pais, que começaram 40 anos atrás, quando vieram de Adamantina em busca de um futuro melhor. Hoje, Shimizu ainda sustenta a família com o que ganha na feira.Segundo Osmar Roberto Politti, diretor do Sindicato dos Feirantes e Ambulantes de Campinas, a queda anual de 5% ao ano no movimento é resultado do esquecimento das pessoas em relação às feiras. “O movimento vem caindo significativamente. As feiras estão esquecidas, tanto por causa da correria do dia a dia quanto por causa dos grandes mercados. O consumidor precisa lembrar que a feira vende qualidade, vende produtos que duram mais. Lá eles também têm contato direto com o feirante, um dos profissionais mais antigos do mundo.”

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