AUTONOMIA

Feira da Mulher reforça empoderamento e empreendedorismo feminino

Criado em 2022, programa já conta com mais de mil participantes que formam uma verdadeira rede de apoio; hoje, evento começa às 8h e termina às 21h

Luis Eduardo de Sousa/[email protected]
07/07/2024 às 07:45.
Atualizado em 07/07/2024 às 07:45
Após trabalhar durante anos na indústria têxtil, Ana Maria Benjamin Nogueira aproveitou a habilidade adquirida e agora vende almofadas e pequenos estofados costurados à mão; ela vê na feira um estímulo à autoestima, além da possibilidade de fazer uma renda extra (Alessandro Torres)

Após trabalhar durante anos na indústria têxtil, Ana Maria Benjamin Nogueira aproveitou a habilidade adquirida e agora vende almofadas e pequenos estofados costurados à mão; ela vê na feira um estímulo à autoestima, além da possibilidade de fazer uma renda extra (Alessandro Torres)

“Conheci a ‘feira mãe’ por meio de uma amiga lá do meu bairro”, diz Ana Paula Alves, 41 anos. “Uma amiga minha, que também faz feira, foi quem me contou”, conta Jéssica Vilela. “Eu já vendia meu produto, aí minha amiga me disse ‘por que você não faz feira?’”, declara Edivanda Aguiar. Os relatos das três mulheres evidenciam o poder de coletividade realçado pela “Feira da Mulher Empreendedora” - apelidado de "feira mãe" pelas participantes.

O evento, organizado pela Prefeitura, reúne mulheres periféricas e empreendedoras, e confere uma oportunidade de renda a elas, com prioridade àquelas que estão em situação de vulnerabilidade. São dois dias de feira neste fim de semana, ontem e hoje, com entrada no portão 5 da Lagoa do Taquaral. Hoje, o evento começa às 8h e tem término previsto para 21h. 

No espaço há comercialização dos mais variados itens, desde alimentação (que inclui comidas típicas brasileiras e iguarias) até vestuário e itens de aromaterapia. As crianças podem se divertir nos brinquedos infláveis instalados no espaço. 

Além dos produtos, cada barraca oferece, cada uma à sua maneira, a história de uma mulher que busca na atividade um alívio, seja financeiro ou emocional. Muitas delas, que conheceram a feira através de amigas, avaliam que o evento é uma das principais ferramentas de empoderamento disponíveis hoje no município para mulheres em situação de vulnerabilidade. 

Ana Paula Alves, 41 anos, é um exemplo. Moradora do distrito do Campo Grande, ela participa de sua primeira edição da feira, e já com planos para as próximas edições. Há cerca de dois anos, aprendeu sozinha a tricotar bonecos de pelúcia, que agora comercializa. Os personagens de “Divertida Mente 2” – animação que é um sucesso com o público infantil e recém-chegada aos cinemas brasileiros – são seu atrativo no momento. 

“Uma amiga me contou sobre a feira e eu fui procurar saber. Pela internet mesmo encontrei informações e me inscrevi. Foi muito fácil. Quando cheguei hoje (ontem) a barraca já tinha meu nome”, conta. “O artesanato me dá uma importante graninha extra e é uma coisa que eu gosto de fazer” complementa a mulher, que se afastou do trabalho como operadora de caixa durante a gestação do filho, há cerca de um ano. 

O caso de Jéssica Vilela é similar. Hoje com 34 anos, é formada em administração, mas em função da perda da mãe, que era sua rede de apoio, há cinco anos, precisou largar o trabalho para cuidar dos dois filhos, uma menina de 5 anos e um menino de 10. Atualmente, vive apenas do trabalho autônomo como confeiteira. 

“Eu tinha acabado de fazer um curso de produção de geleias quando uma amiga me contou sobre a feira. Eu me inscrevi e comecei a participar também, essa é a terceira vez. Para mim é mais uma oportunidade de divulgar meu trabalho, que inclui produção de bolos e doces e foi uma forma que eu encontrei para conseguir cuidar dos meus filhos, cumprir minha rotina de mulher, que é sempre muito intensa, e trabalhar”, conta a jovem empreendedora. 

Vilela faz bolos por encomenda. Ela recebe pedidos via WhatsApp e Instagram, plataformas que usa para divulgar seu trabalho. Hoje, seu rendimento com o trabalho varia entre R$ 5 mil e R$ 10 mil por mês, sem contar os gatos, mas ela relata que nem sempre foi assim. “No começo não é tão fácil, leva-se um tempo para começar formar clientela, mas avalio que a feira ajuda justamente por isso, uma vez que divulga o trabalho da mulher que está começando algo.” 

“Um dos meios que os agressores têm para perpetuar o ciclo de violência é justamente isolar a mulher, fazer com que ela não tenha uma alternativa para se manter. Hoje a feira cumpre o papel de mostrar o completo oposto e dizer que, sim, a mulher pode ter seu espaço e romper o ciclo. Quando a mulher se liberta, entende que pode fazer o que quiser”, ressalta Vilela, destacando que a coletividade entre as mulheres do grupo é grande, o que pode ser um adicional para resgatar uma mulher em situação vulnerável em caso de necessidade. 

Ana Maria Benjamim Nogueira, 68 anos, vê na feira um estímulo à autoestima. A idosa vive só desde que perdeu o marido e decidiu empreender para obter uma renda além da aposentadoria. 

“Quando eu venho aqui e coloco meus produtos à venda, as pessoas passam, admiram e elogiam, e isso faz muito bem para o meu ego. Eu me sinto feliz com essa especificidade, além, claro, do dinheiro a mais. É algo que gosto de fazer e que pode ajudar outras mulheres a se descobrirem, recuperar a autoestima.”

Ana Maria vende almofadas e pequenos estofados costurados à mão. Antes de se aposentar, trabalhou por muitos anos na indústria têxtil e decidiu usar a habilidade adquirida no mercado de confecção para dar sequência ao trabalho por conta própria. 

“Às vezes uma mulher pode achar que não tem opções, mas chegando aqui ela abre os horizontes, vai aprendendo com as amigas, vendo as possibilidades, tomando gosto e crescendo”, avalia a idosa, mãe de três filhos, moradora do distrito do Ouro Verde. 

O espaço da feira permite a inserção de diferentes tipos de produtos. Nas barracas havia, por exemplo, semijoias, pães, bolos, cervejas, espetinhos, roupas, itens de decoração, geleias, pelúcias, velas aromáticas, cachaças e tapetes bordados, por exemplo. 

Em um dos cantos da feira, a barraca de acarajé atrai pelo cheiro. O quitute é produzido pela baiana Edivanda Neves Aguiar, 49 anos. Atualmente morando em Campinas, começou a cozinhar o prato típico de seu estado após parar de trabalhar e começou a vender em feiras livres. Ela participa da sua segunda edição do evento. 

“Eu já vinha trabalhando com acarajé, aí notei que não vendia o prato por aqui e decidi participar. Acho essa iniciativa fundamental. Às vezes a mulher vem aqui, participa de uma edição e pode não querer continuar, mas ela vê que tem o potencial e que existem possibilidades. Pode ser uma oportunidade para o resto da vida. De repente ela pode fazer uma faculdade, se descobrir em algo.”

REDE DE APOIO 

De acordo com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social, o Programa Feira da Mulher Empreendedora não se limita apenas às feiras. Também é oferecida uma vasta rede de apoio às associadas, incluindo parcerias para cursos e oportunidades. “O crescimento do programa é marcado por resultados financeiros positivos tanto nas feiras quanto nas lojas colaborativas”, afirma a Pasta em comunicado sobre o evento. 

A primeira edição da iniciativa ocorreu nos dias 9 e 10 de março de 2022. À época, contou com 80 mulheres. Agora, já são mais de mil integrantes. A Lei do Programa Feira das Mulheres Empreendedoras foi assinada em dezembro do ano passado e estabelece como prioridade para associação as mulheres atendidas nos serviços da Assistência Social, devendo ser observada a seguinte ordem: mulheres atendidas no Setor do Centro de Referência e Apoio à Mulher (SCRAM) e/ou no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), mulheres beneficiárias do Programa Renda Campinas e BEM Campinas, mulheres atendidas nos demais serviços da Secretaria.

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