DIA DOS PAIS

Fé inabalável de filho inspira paizão

História da vida real traz o propagonista Gabriel, 9 anos, esbanjando confiança na batalha diária

Daniel de Camargo
09/08/2020 às 10:44.
Atualizado em 28/03/2022 às 19:17
Esses dois ?carequinhas? que exibem determinação diante das câmeras enfrentam juntos o tratamento de câncer com uma coragem comovente (Leandro Ferreira/AAN)

Esses dois ?carequinhas? que exibem determinação diante das câmeras enfrentam juntos o tratamento de câncer com uma coragem comovente (Leandro Ferreira/AAN)

O operador de máquinas Ederson Buzatto celebra o Dia dos Pais, hoje, com a fé redobrada na crença inabalável do filho Gabriel, de 9 anos, de quem se tornou ainda mais parceiro e um aluno atento nos últimos três anos, período em que a criança tem ensinado lições importantes para ele em meio a uma batalha contra o câncer no Centro Infantil Boldrini de Campinas. Buzatto classifica o dia do nascimento do filho como o mais feliz da sua vida. Em contrapartida, a data do diagnóstico da doença é lembrada como o pior. Os eventos, rememora, se sucederam a partir de uma dor na perna esquerda de Gabriel. Na época, a criança se queixava bastante. Então os pais o levaram a um hospital em Americana, onde a família – composta também pela pequena Júlia, que, na ocasião, tinha só 2 anos – reside. Na oportunidade, a dor desapareceu. Porém, retornou após uma semana. “Eu estava fazendo uma massagem na outra perna dele e descobri um caroço. Como ele tinha uma consulta já agendada com a endocrinologista, ela mesma pediu o ultrassom. Fomos a um ortopedista que solicitou uma ressonância”, lembra. O pai conta que o resultado saiu numa sexta-feira. Em posse dele, a esposa Ivonete ligou para ele, que estava no trabalho em Nova Odessa. Quando ela pediu que fosse ao hospital, rememora emocionado, “sabia que algo estava errado. Chorei muito”. Em seguida, a médica informou a existência do tumor. Gabriel foi encaminhado ao Boldrini, referência no atendimento ao câncer pediátrico e doenças do sangue na América Latina. Buzatto revela que ficou desestabilizado com a notícia e que aquele final de semana foi extremamente triste.Tratamento No Boldrini, Gabriel iniciou rapidamente o tratamento com sessões de quimioterapia e radioterapia. Buzatto comenta que, na ocasião, as dores estavam nas duas pernas e era cogitada uma possível cirurgia. Hoje, detalha, sabe que seria a amputação. “Me lembro de estar chorando muito e uma mãe de paciente vir me consolar, me confortar. É isso que acontece no Boldrini”, rememora. Desde então, está sempre ao lado do filho no enfrentamento da doença. Antes do diagnóstico do câncer, fala com orgulho que levou Gabriel para praticar karatê e acabou se matriculando também. O companheirismo entre os dois fez, inúmeras vezes, Buzatto pernoitar no Boldrini e ir direto para o trabalho no dia seguinte. Analisa que a atitude é incomum. Explica que, normalmente, são as mães ou avós que acompanham os pacientes. Ele enfatiza que a companhia do filho, nesses momentos, o enchia de forças. Ainda sobre o começo do tratamento, menciona que o filho tinha medo de injeção e de tirar sangue. Muitas vezes, o pai precisou segurar Gabriel. A cumplicidade resultou em um trato feito pela dupla quando o cabelo de Gabriel começou a cair. Um raspou a cabeça do outro. “Queria mostrar que estava tudo bem”, destacou Buzatto. O pai diz que a primeira parte do tratamento foram seis meses de quimio. Depois, descobriram que a metástase havia se espalhado por outros órgãos. Atualmente, Gabriel encara a terceira rodada de procedimentos, sem interrupções. Ainda assim garante que, a fé, percebida principalmente na criança, mantém a família firme. “Quando tudo começa, você tem uma sensação de impotência muito grande. Você nunca imagina que isso pode ou vai acontecer com o seu filho. Mas o pedido de um pai e uma mãe tem valor para Deus e a gente se apega nisso”, disse.  Quem adivinha qual é o presente que o operador de máquinas Buzatto pediu aos céus? A rotina dos tratamentos no Boldrini, frisa Buzatto, está sendo um ensinamento e vem naturalmente criando outras relações. No caso, amizades com outros pais, profissionais da saúde e pacientes. Sem se esquecer da ação confortante que recebeu de uma mãe quando pisou pela primeira vez no hospital, afirma que busca fazer o mesmo com os recém chegados. O pai assegura que histórias bonitas são construídas no Boldrini. Buzatto lamenta quando não pode estar fisicamente com o filho no hospital. Crê, entretanto, que se faz presente de alguma forma. Sobre Gabriel, elogia que é um garoto muito mais forte do que ele e com quem aprende todos os dias. Como desejo de Dia dos Pais, só quer o filho bem. Observa ainda que uma das maiores lições recebidas é ter compreendido que, a despeito de todas as diferenças incluindo casse social, todos são iguais e não podem prever o dia de amanhã. Por isso, aconselha os demais pais, que tem filhos na mesma situação ou não, a estarem sempre presentes e serem verdadeiramente cúmplices das esposas na criação e em todo o resto. Encerra que é necessário ter esperança por mais difícil que seja o cenário.

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