Estrutura estava quase caindo e oferecia risco a estudantes e pedestres, segundo a direção
Tapume esconde trecho do muro do Culto à Ciência: obra começou ontem com o aval do Condepacc (Matheus Pereira)
A Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) iniciou ontem uma obra num dos muros do centenário Colégio Culto à Ciência, na rua de mesmo nome, que despertaram a atenção e a curiosidade de moradores do bairro Botafogo, em Campinas. Isso porque o prédio é tombado e, em tese, não pode sofrer intervenções. De acordo com a direção da escola, a reforma é pontual e emergencial, já que o muro estava quase caindo e poderia oferecer riscos a estudantes e pedestres que passassem pelas proximidades. O Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) deu aval à obra, viabilizada pela FDE – os custos não foram revelados. O artigo 16 da Lei de Patrimônios Culturais (1211 de 16/9/1953) afirma que se houver necessidade de obras para a preservação do bem e, se o proprietário protocolar no Protocolo Geral da SEEC um comunicado à CPC de que tais obras são urgentes e o proprietário comprovar não ter recursos para executá-las, o Estado é obrigado a custear tais obras, mesmo sendo o bem privado e sem a anuência do proprietário. “Está tudo dentro da legalidade. O muro estava prestes a cair e colocava em risco a vida das pessoas. A Prefeitura já veio aqui e notificou. Em junho, o secretário estadual de Educação (João Cury Neto) também esteve aqui e teve ciência da necessidade do conserto, por isso acionamos o FDE”, explicou a diretora do colégio, Débora Seneme Gobbi. Segundo a coordenadora do setor técnico do Condepacc, Daisy Serra Ribeiro, o Culto à Ciência foi cuidadoso ao procurar todas as autoridades antes de solicitar as obras ao FDE. “É preciso lembrar que o muro em si não é tombado, só o prédio. Mesmo assim, qualquer intervenção num bem tombado precisa da interferência dos órgãos e foi isso que o colégio fez”, disse. Esta não é a primeira vez que o colégio passa por obras. Em 2007, a FDE anunciou que a escola teria uma reforma radical, orçadas em R$ 4 milhões. Nos anos seguintes, as salas de aula e os laboratórios foram refeitos. Portas e janelas foram artesanalmente recuperadas. Houve também o restauro de detalhes simbólicos da arquitetura original, como adornos, portas, batentes, ladrilhos. O jardim externo frontal foi totalmente recuperado, com a remoção de árvores condenadas e o cultivo novas espécies. Histórico Atualmente, Campinas tem 209 prédios tombados pelo Condepacc e também pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (Condephaat). O Colégio Culto à Ciência foi um dos primeiros deles, em setembro de 1988. A escola, inaugurada em 1874, é uma das mais tradicionais da cidade, com projeto elaborado no ano anterior pelo engenheiro e empreiteiro Guilherme Krug. Inicialmente o colégio possuía um único bloco em dois pavimentos, com 4 salas de aula, ambientes administrativos, sanitários e biblioteca, sendo ampliado a partir de 1895 após a dissolução da associação que a mantinha, transformando-se em Ginásio de Campinas. Sua inauguração oficial ocorreu em julho de 1897, tendo sido o primeiro instituto oficial de ensino secundário de Campinas e o segundo do Estado. Estudaram lá várias pessoas famosas, como o pioneiro da aviação Alberto Santos Dumont, o apresentador Fausto Silva, o ex-prefeito Francisco Amaral, o jornalista Júlio de Mesquita, o engenheiro e arquiteto Lix da Cunha e a atriz Regina Duarte.