REPENSANDO O NOSSO TEMPO

Fauna Urbana propõe novo olhar para a questão ambiental

Objetivo é sensibilizar a sociedade para as mudanças necessárias e urgentes

Da Redação
17/12/2022 às 09:39.
Atualizado em 17/12/2022 às 09:39

Projeto tem o propósito de levar educação ambiental a crianças, jovens e adultos, com o intuito de trabalhar a educação vivencial, transformando a convivências com as várias espécies de animais (Divulgação)

Repensar o nosso tempo e espaço no planeta. Essa é a maneira pela qual a bióloga Raquel Barbosa Bertolin enxerga a necessidade de reavaliarmos a nossa existência enquanto sociedade. A partir desse questionamento, ela criou e desenvolveu o Fauna Urbana, um projeto que leva educação ambiental a crianças, jovens e adultos, com o intuito de trabalhar a educação vivencial. "Meu objetivo é mudar a cultura e a forma como encaramos os animais sinantrópicos (que são os silvestres, nativos ou não, em adaptação ao ambiente urbano) no nosso dia a dia e, a partir daí, rever a nossa maneira de viver, visto que ela interfere em todo o meio ambiente".

O projeto trabalha com animais de espécies, tamanhos e ambientes diferentes. Alguns deles fazem parte do nosso cotidiano, outros, nem tanto. A partir de uma aula sobre as diferentes cobras - abordando, por exemplo, a compreensão do motivo de elas se se fazerem cada vez mais presentes no ambiente urbano, qual deveria ser o seu habitat ideal, o que elas representam em uma cadeia alimentar, se aquela espécie é ou não peçonhenta e a aplicação do manejo adequado no caso de uma delas aparecer de repente na sua frente -, Raquel consegue fazer com que o participante daquela vivência compreenda todo um ecossistema.

Isso sem mencionar a consciência de como as nossas ações diárias contribuem para o desequilíbrio ecológico, além de, é claro, propiciar ao participante a reflexão de quais movimentos diários podem ser alterados em prol de um ambiente mais equilibrado e saudável.

"Dentro do Fauna Urbana, tenho vários tipos de atividades. Desde apenas um momento de sensibilização a animais, como coelhos e tartarugas, quanto a espécies mais temidas e desprezadas, como cobras e ratos. Todas essas impressões mudam com a prática correta do manejo de animais silvestres encontrados em um ambiente atípico", explica.

Em todos os produtos que ela oferece a empresas, hotéis, escolas e demais interessados pelo projeto, a finalidade é sempre a mesma: trabalhar a mudança do olhar sobre a fauna.

O projeto Fauna Urbana veio da necessidade da bióloga de adaptar o seu desejo de atuar na área profissional frente às oportunidades e dificuldades enfrentadas na carreira que ela escolheu.

Inicialmente, pensado em suprir a demanda que surgia de empresas privadas, sobretudo, em como manejar animais silvestres que eventualmente aparecem, o projeto ganhou corpo e forma, adaptando-se conforme a experiência junto aos vários públicos que aos poucos se modificavam. Atualmente, o projeto atinge pessoas de diferentes idades, classes sociais e localidades. "Hoje, realizo um sonho", comemora.

O CONTEXTO

Olhar um rato não é algo agradável para muitos de nós. Acariciá-los, tampouco. No entanto, os ratinhos integram as oficinas trabalhadas por Raquel. "Um mesmo ratinho vai despertar diferentes olhares e sensibilidades. Uma criança de classe social mais estável e com um pouco mais de privilégios pode ver em minhas Nina e Bibi (roedores da espécie twister) como bonitinhas, interessantes e, possivelmente, desejarão até ter uma da mesma espécie em casa. Uma outra criança, no entanto, com bem menos privilégios e mais necessidades básica não atendidas, podem sentir rejeição por esses animais. Essa diferença se dá pelas experiências que cada indivíduo vive em relação aos roedores. A partir disso, trabalho uma infinidade de assuntos e temas, buscando semear a consciência tanto da preservação do meio ambiente quanto a do olhar mais apurado à diversidade de ambientes a que temos temos contato", explica.

Da mesma maneira, a bióloga aborda temas envolvendo as baratas (outro animal usado nas experiências, da espécie de Madagascar, as maiores encontradas no mundo) e o ecossistema no qual existem.

"No caso das baratas, abordo o que elas buscam enquanto alimento e, da mesma maneira, quais outros animais podem surgir, dentro da cadeia alimentar, atrás delas enquanto alimento. A barata, atraída pelo lixo, atrai também escorpiões, que, por sua vez, podem atrair gambás (predadores naturais de escorpiões)... É uma grande aventura compreender a fauna".

EXPERIÊNCIAS QUE TRANSFORMAM

Juliana Caetano, coordenadora pedagógica de uma escola particular de Campinas, defende que o projeto revela toda a paixão da Raquel pela fauna. Ela menciona a transformação que viu nas crianças participantes das experiências. "O que mais satisfaz é, justamente, ver a transformação das crianças antes e depois da passagem pela vivência. Desde a surpresa até o contato com os animais, visto que, muitos deles, não têm familiaridade com alguns animais no cotidiano. Eles então aprendem a identificar os animais, se peçonhento ou não, se apresentava risco ou não e a melhor forma de manejá-los."

O projeto Fauna Urbana atende a crianças das mais diversas faixas etárias. Além da vivência com os animais do projeto, os participantes das oficinas fazem descobertas dentro do próprio espaço em que convivem. "A escola tinha uma área arborizada, um bom espaço verde, e eles (os alunos) conseguiam encontrar os bichinhos, perceber onde havia espécies diferentes, e passaram a olhar com mais cuidado os espaços de circulação diária. É uma descoberta vivencial de qual é o nosso lugar no meio disso tudo", explica a educadora. "É possível perceber a mudança de atitude das crianças. Elas chegam com valores e crenças de casa e, a partir do momento que aprendem sobre a fauna e a necessidade de preservação de espécies, mudam o olhar em relação a matar alguns bichos, por exemplo. É incrível o trabalho que a Raquel faz com o Fauna Urbana".

CONSCIÊNCIA COM A FAUNA, O AMBIENTE E CONSIGO PRÓPRIO

Tartarugas, coelhos, cobras, baratas, rãs, ratos. Esses são alguns animais que a bióloga Raquel cria e que participam das propostas do Fauna Urbana. Segundo ela, cada atividade que desenvolve dentro do projeto ocorre de maneira única. "Quem lidera são os bichos. E eu respeito as características de cada um deles. Se, por exemplo, um dos meus ratinhos não quiser interagir com o público que está comigo naquele dia, simplesmente respeito aquele momento dele e o deixo à vontade, recolhido. Da mesma forma me comporto com os outros, como no caso da coelha Nuvem, que adora ser acariciada e vai atrás das pessoas buscando cada vez mais interação, como um colo carinhoso", conta ela.

O princípio e respeito às espécies trabalhados durante as experiências do Fauna Urbana são também repassado aos participantes. Segundo a bióloga, a maneira como ela expõe e enxerga os animais - seus rituais, cuidados e características -, auxiliam no despertar da percepção sobre as diferenças entre as pessoas e até mesmo em relação ao próprio bem-estar. "Acariciar um coelho pode trazer boas percepções para algumas pessoas. O toque, carinho, conforto. E, a partir disso, a pessoa também percebe melhor o outro e a si mesmo", declara.

Para Fabiana Toledo, bióloga e parceira de atividades de Raquel, a atuação com diferentes públicos contribui para uma educação necessária. "Já presenciei de um tudo. Pessoas que mudam conceitos errôneos, que se encantam com a presença dos animais, que se aproximam de bichos que jamais chegariam perto... É perceptível o brilho nos olhos deles", explica. E complementa: "é um trabalho de conscientização que se conecta à emoção e traz resultados extremamente positivos".

E sabe a coordenadora pedagógica citada acima no texto? Sim, a Juliana. Ela nos contou que, a partir das experiências com o projeto do Fauna Urbana, redescobriuse. "Estou fazendo uma migração de carreira. A Raquel estimulou em mim uma outra vontade. Quero agora trabalhar com adultos, de maneira a fazer com que as pessoas sejam e estejam mais leves", segredou.

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