SETOR PÚBLICO

Falta de remédios expõe mais um desafio na Saúde

Muitos gastam dinheiro que não têm para manter o tratamento

Henrique Hein
24/08/2018 às 07:04.
Atualizado em 22/04/2022 às 01:12
Jonas Donizette procurou não polemizar com seu secretário: crise (Leandro Ferreira)

Jonas Donizette procurou não polemizar com seu secretário: crise (Leandro Ferreira)

A Saúde em Campinas está à beira de sofrer um colapso financeiro. Foi com esta frase que o secretário de Saúde do município, Carmino de Souza, definiu, na sexta-feira passada, a atual situação dos postos e hospitais públicos da cidade, que vivem um verdadeiro calvário em vários tipos de serviço. Quem sofre com esse panorama é principalmente a população de baixa renda. Muitos usuários têm dificuldade para obter um atendimento público de qualidade, além de ter acesso a remédios de uso controlado. Ao todo, 23 medicamentos estão em falta nos postos de Campinas, conforme balanço obtido pelo Correio no último dia 20. Ontem, a relação dos remédios em falta continuava a mesma. A autônoma Isabel Cristina Venere, de 47 anos, faz uso de quatro comprimidos por dia do antidepressivo Sertralina 50mg. Ao todo, ela consome 100 comprimidos ao mês para que as suas crises diminuam. “Eu sempre tive facilidade para encontrar esse medicamento na rede pública, mas tudo mudou em junho deste ano. Estou penando para conseguir o medicamento. Infelizmente, sou apenas mais uma entre as muitas pessoas que lutam diariamente para conseguir agendar consultas no centro de saúde da minha região (Ouro Verde) e encontrar os medicamentos que necessitam para o controle de uma depressão severa, como a que me acompanha há algum tempo”, explicou. Isabel revelou ainda que por diversas vezes teve que ir a vários postos de saúde de bairros extremamente distantes para tentar obter o fármaco.“Desde julho, o medicamento simplesmente desapareceu dos postos públicos aqui da cidade. Liguei várias vezes no 156 da Prefeitura e eles respondem que a falta é algo pontual, ou seja, ele existe em alguns centros de saúde da cidade, mas isso não é verdade”, rebate a autônoma, que começou a tirar dinheiro do próprio bolso para poder manter o tratamento em dia com a droga de uso controlado. “Tive de agendar consultas particulares e passar a comprar o remédio por minha conta. Já gastei mais de R$ 500 por algo que deveria ser de graça, que é meu por direito”, afirmou. Em nota, a Secretaria de Saúde de Campinas informou que há 164 medicamentos padronizados na rede e observou que esta é uma das cestas mais completas entre os municípios brasileiros. “No momento, há 23 fármacos em falta e há licitações em andamento para aquisição. No caso da sertralina, a licitação está na fase de análise técnica para a compra. Em até 60 dias, o medicamento já deve estar disponível nos centros de saúde. Alguns remédios em falta também estão disponíveis no programa Aqui tem Farmácia Popular”, informou a nota. Reflexos No fim de semana passado, pacientes sentiram na pele a cruel rotina de longas filas, atrasos, poucos médicos e limitações de atendimento nos principais hospitais da cidade. Na edição da última segunda-feira, o Correio trouxe à tona a história de pacientes do Hospital Municipal Dr. Mário Gatti que precisaram esperar cerca 15 horas para serem atendidos no complexo hospitalar entre sábado e domingo. De acordo com Carmino, nos últimos dois anos a Prefeitura gastou cerca de 31% do orçamento com Saúde, mais que o dobro do que determina a Constituição, que obriga a aplicação de 15% na área e também acima dos 17% determinados pela Lei Orgânica do Município. Em 2015, o gasto havia comprometido 29% do orçamento. “Têm municípios que estão investindo quase 40%. É insuportável o momento de financiamento da Saúde. Nós esperamos que quem ganhar a próxima eleição, assuma esse risco, porque nós estamos sob pena de entrarmos em colapso por falta de recursos”, disse. Esse orçamento, segundo o secretário, não suporta a pressão. Para ele, o problema da questão econômica está cada vez mais evidente. “Vai ser difícil resolvermos os problemas da Saúde sem um novo pacto federativo e sem redistribuir o dinheiro de uma outra maneira, porque hoje 60% do que se capta dos impostos vai para o governo federal e não volta, ou então, volta muito pouco para os municípios”, comentou o secretário, que ainda informou que a União está investindo cerca R$ 230 milhões por ano no atendimento em Campinas, sendo que o custo total de manutenção da área de Saúde é de R$ 1,2 bilhão por ano. “O Município está se vendo obrigado a assumir o custeio da Saúde, sem receber repasses suficientes para isso”, afirmou.

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