FARMÁCIA DE ALTO CUSTO

Falta de remédio compromete o tratamento de epilepsia

A falta do anticonvulsivo Vigabatrina na farmácia de alto custo de Campinas preocupa quem precisa do medicamento

Guilherme Ferraz/ Correio Popular
11/02/2021 às 18:27.
Atualizado em 22/03/2022 às 04:06
O garoto ?ngelo, de tr?s anos, que depende do anticonvulsivo que est? em falta na farm?cia de alto custo: tratamento sob risco (Kam? Ribeiro/ Correio Popular)

O garoto ?ngelo, de tr?s anos, que depende do anticonvulsivo que est? em falta na farm?cia de alto custo: tratamento sob risco (Kam? Ribeiro/ Correio Popular)

A falta do anticonvulsivo Vigabatrina na farmácia de alto custo de Campinas preocupa quem precisa do medicamento. O remédio, que tem preço médio de R$ 275 por caixa com 60 comprimidos, atua impedindo ou reduzindo a gravidade dos ataques epiléticos. A interrupção do tratamento ocasiona o descontrole das crises, que podem evoluir para quadros mais graves como paradas respiratórias e até a morte.

Um dos tipos mais graves de epilepsia é a síndrome de West. É uma encefalopatia epiléptica que surge quando a criança ainda está no período de amamentação, sendo caracterizada por espasmos, interrupção do desenvolvimento e alteração específica no eletroencefalograma, chamada de hipsarritmia. A auxiliar de limpeza Gabriela Silva, mãe do menino Ângelo, de apenas três anos, está muito preocupada com a falta da Vigabatrina na farmácia de alto custo.

A criança é portadora da síndrome de West e precisa do medicamento para controlar as crises convulsivas. Ela conta que não consegue retirar o remédio para o filho desde dezembro de 2020. "Faz quase três meses que vou à farmácia de alto custo toda sexta-feira para tentar pegar a Vigabatrina, mas a resposta é sempre a mesma. Eles falam que não tem e que eu tenho que esperar", relata.

Gabriela diz que não tem dinheiro para comprar o remédio para o filho, que corre o risco de interromper o tratamento. "Ele tem que tomar uma caixa por mês, que custa R$ 275 reais cada uma. Eu não tenho esse dinheiro. Meu filho não pode ficar sem o medicamento. Tenho medo de ele convulsionar e esquecer o que aprendeu até agora", desabafa.

A auxiliar de limpeza revela que adotou uma estratégia arriscada para garantir que Ângelo não fique totalmente sem o remédio. Ela cortou a dose diária pela metade, para que os comprimidos que ainda tem possam durar até poder retirar novas caixas de Vigabatrina na farmácia de alto "Meu filho tem que tomar dois comprimidos por dia, mas faz 10 dias que estou dando apenas um para ele não ficar sem. Já notei que ele está mais agitado", relata.

A mãe pede uma solução porque a última caixa que ela tem do medicamento acabou. "Hoje (ontem) acaba e não sei o que fazer. O meu maior medo é ver meu filho convulsionar e ter que ser internado". Segundo o neurologista e coordenador do serviço de epilepsia da Unicamp, Fernando Cendes, a falta do medicamento contra crises epiléticas é preocupante. "É um transtorno muito grande ficar sem essa medicação. É um problema grave e isso não pode acontecer", pontua.

Cendes ressalta que interromper ou diminuir a medicação durante o tratamento contra as crises epiléticas pode ter resultados sérios. "Interromper o tratamento pode não apenas descontrolar as crises epiléticas, mas também causar paradas respiratórias, levar a situações em que necessário a intubação e até a morte", adverte.

A Secretaria Estadual de Saúde, responsável pela administração da farmácia de alto custo, informou que a Vigabatrina está disponível para retirada. Entretanto, Gabriela apresentou à reportagem um documento, datado da última sexta-feira (05), que indica a falta do anticonvulsivo.

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