Jovens da periferia aprovados para estudar nas melhores faculdades públicas não possuem dinheiro para bancar viagens, transporte e alimentação fora de Campinas
Aqueles adolescentes nasceram em famílias humildes da região do Jardim São Marcos. Seus pais sempre deram um duro danado para sobreviver e colocar comida na mesa. Entusiasmados, sonhadores, os jovens fizeram um curso de reforço escolar dentro do Gupo Primavera, entidade assistencial fundada há 34 anos. Aprovados nos vestibulinhos, eles fizeram o Ensino Médio em colégios tradicionais. Agora, aprovados para estudar nas melhores faculdades públicas, falam que não possuem dinheiro para bancar viagens, transporte e alimentação fora daqui. O sonho do futuro brilhante parece desmoronar. O reforço escolar, batizado como Pacto, foi lançado em 2002 e, neste tempo todo atendeu a centenas de jovens carentes daquela região, que não tinham como pagar as mensalidades caras dos cursinhos preparatórios. A partir de março, para se ter uma ideia, 85 jovens estarão de revezando nas duas salas de aula da sede do Primavera, em horários alternados. O projeto é mantido por nove professores e prestadores de serviço contratados pela entidade, com recursos de chegam de patrocínio privado. A coordenadora do pré-vestibulinho, a educadora Paola Sanfelice, explica que a proposta do Pacto sempre foi dar uma oportunidade de formação de qualidade a jovens que — sem recursos — nunca poderiam disputar vagas em colégios renomados. Ela admite, no entanto, que é duro ver que os jovens terão de improvisar formas para sobreviver fora de Campinas, longe da casa dos pais. Leandro Alexandre Venâncio de Almeira, de 18 anos, é filho de uma diarista e um carregador de caminhão.O rapaz nasceu e cresceu no Santa Mônica. O jovem viu no Pacto a oportunidade de se preparar bem e concorrer a uma vaga no colégio técnico. E ele conseguiu. Fez, simultaneamente, o Ensino Médio tradicional na Etecap e o curso técnico de informática no Cotuca. E não bastasse a passagem pelos dois colégios respeitadíssimos, o rapaz acaba de ser aprovado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde pretende estudar produção cultural. Só que ele nunca saiu de Campinas, não possui parentes ou conhecidos por lá. Todo o dinheiro que tem paga a passagem de ônibus até o Rio. Ele precisa se matricular até dia 3. As aulas começam dia 9. O estudante só não sabe onde vai ficar, como vai comer. “Eu toco violão e teclado de ouvido. Nasci para ser produtor musical. Tenho fé que vou conseguir. Como, ainda não sei”, diz. Lucas de Castro Araújo, de 17 anos, saiu do Pacto direto para o Cotuca e começou a fazer planos para a carreira. Decidiu prestar vestibular para engenharia de alimentos e foi aprovado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Mas a vida, diz, exige que ele trabalhe para se manter. É estagiário no setor de Desenvolvimento de Projetos na Unilever. Morador do Vila Olímpia, filho de um pedreiro e de uma dona de casa, o rapaz já decidiu que não vai morar em São Carlos. Paciente, espera ser aprovado no próximo vestibular da Unicamp. E, finalmente, se tornar engenheiro. “A gente vai se esforçando, se ajeitando como dá. Eu preciso ficar aqui mesmo em Campinas”, afirma. Um terceiro talento revelado pelo Pacto, Elton Pinheiro, já saiu de Campinas. Aprovado para fazer engenharia química no campus da Universidade de São Paulo em Lorena, o rapaz viajou para tentar negociar algum tipo de bolsa para se manter por lá.ContatoQuem quiser informações e colaborar pode entrar em contato com o Grupo Primavera pelo telefone (19) 3746-7990.