CALVÁRIO

Falta de médicos em Campinas agrava filas na Saúde

Rede municipal tem déficit aproximado de 400 profissionais e convive com problemas estruturais

Patrícia Azevedo
07/03/2013 às 07:00.
Atualizado em 26/04/2022 às 01:49
Pacientes do SUS vivem calvário em busca de consultas (Érica Dezonne/AAN )

Pacientes do SUS vivem calvário em busca de consultas (Érica Dezonne/AAN )

Os moradores que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) em bairros da periferia de Campinas têm que passar por um verdadeiro calvário para conseguir atendimento. Falta de 400 médicos, remédios e infraestrutura precária são os maiores problemas. Para piorar a situação, a falta de funcionários no laboratório municipal já provoca atrasos em exames de rotina.

No déficit estimado de médicos estão contabilizados 110 que serão demitidos no dia 13 por causa do fim do Convênio para o Programa de Saúde da Família com o Cândido Ferreira e a Prefeitura. Para evitar um caos na rede, a Administração redigiu uma lei autorizando a contratação temporária emergencial de 200 médicos. Essas contratações serão feitas pelo período de até um ano, podendo ser renovadas por mais um ano. A previsão é que esses profissionais comecem a atuar até 14 de março.

Além dessas contratações, a Prefeitura prepara um novo concurso para contratar 243 médicos de diversas especialidades. A autorização para a contratação da empresa para fazer o processo seletivo foi dada anteontem, mas ainda não há prazo para que as inscrições sejam abertas.

Mesmo inaugurado em 2011, o CS Dom Bruno Gamberini, no Jardim Fernanda, já sofre com falta de equipes médicas para atender a população. Lá somente as gestantes têm atendimento garantido com a ginecologia. Falta clínico-geral. A dona de casa Sueli Carvalho é uma das pacientes que se dizem vítimas do descaso na rede. “Eu tirei cistos do ovário há dois anos e desde então não consegui uma consulta com a ginecologia. Não sei se está tudo bem”, afirma.

A dona de casa conta que teme que o problema dos cistos possa voltar. “Não é normal esperar dois anos por uma consulta, ainda mais quando o paciente operou.”

O segurança Erivan Oliveira Ferreira conta que já perdeu vários dias de trabalho tentando uma consulta com o clínico-geral. “Nunca tem médico.” A aposentada Maria Aparecida de Paula conta que não adianta recorrer ao CS para conseguir atendimento. “Chego aqui e não tem médico, então tenho que ir ao Mário Gatti ou ao Ouro Verde. E aí começa o tormento, porque a espera é grande.”

A situação não é diferente no Centro de Saúde do bairro Campo Belo. “Eu nunca consigo médico quando venho aqui. Para ser atendido tem que marcar com meses de antecedência. Se ficar doente, tem que ir para hospital mesmo porque o posto nunca tem médico”, contou a dona de casa Maria Aparecida das Dores Araújo.

A professora Valéria Marques de Oliveira afirma que esperou a manhã inteira por atendimento no CS do Campo Belo e não conseguiu. “E não é só médico que falta, tem uma lista de remédios em falta que eles já colocam na entrada do posto. O problema é que a população está acostumada a ser maltratada sem reclamar”, diz.

Na unidade de saúde do São Marcos, no outro extremo da cidade, a situação também é de precariedade. “Disseram que mandaram muita gente embora e agora eu não consigo ir ao médico. Vim de manhã, esperei, mas mandaram eu procurar a unidade do Centro”, contou a estudante Meliane Teixeira de Souza. A auxiliar Ildevania Silveira foi outra paciente que precisou buscar ajuda em outra unidade depois de procurar o CS São Marcos. “Eu me consultei na Unicamp e vim buscar remédio, mas não tem e não há previsão”, reclama.

Improviso

Os mais de 20 mil moradores da região do Parque Oziel, Monte Cristo e Gleba B ainda não têm um Centro de Saúde adequado. Dois módulos que funcionam de forma improvisada há mais de 10 anos em pequenas construções não são suficientes para acompanhar o crescimento da população. “Aqui tinha que ter um pronto-socorro como o do São José. Essa casinha não dá conta do recado. Os funcionários são muito prestativos e atendem bem, mas falta médico para dar conta do recado”, afirma o aposentado Brás Lopes.

Depois de muita reclamação por causa da depredação do espaço, ano passado a Prefeitura fechou uma área externa do módulo Oziel que funcionava como sala de espera. E, para muita gente, a reforma resolveu um problema, mas criou outro. “A sala de espera é pequena para todo mundo e fica muito abafado, quase não tem janela”, afirma a auxiliar de cozinha Marinalva Santos.

A expectativa da Prefeitura é de que o CS Oziel saia do papel este ano. O projeto foi alterado e licitação deve ser aberta em breve. Após o início da obra, a unidade deve ficar pronta 90 dias.

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