SAÚDE

Falta de estrutura da rede superlota Mário Gatti

Pacientes que poderiam ser tratados em Centros de Saúde evitam esse locais por acreditar que atendimento é ruiim

Da Agência Anhanguera de Notícias
07/03/2014 às 20:03.
Atualizado em 24/04/2022 às 16:30
Enquete feita pelo Correio Popular mostra que maioria dos pacientes poderia ser tratada em centros de saúde ( Gustavo Tilio/Especial para a AAN)

Enquete feita pelo Correio Popular mostra que maioria dos pacientes poderia ser tratada em centros de saúde ( Gustavo Tilio/Especial para a AAN)

Demora, falta de atendimento e exames que podem levar dois meses para serem realizados fazem com que pacientes da rede de saúde pública de Campinas ignorem as unidades básicas - como Centros de Saúde (CS) - e sobrecarregam o Hospital Municipal Dr. Mário Gatti. Entre as queixas mais comuns relatadas pelos pacientes na espera do hospital estão febre, dor de cabeça e no corpo, sintomas que podem ser diagnosticados em unidades básicas e o hospital poderia dar mais atenção a demandas maiores, como casos em que há necessidade exames complexos ou cirurgias. Uma enquete realizada pelo jornal Correio Popular aponta que 71% dos pacientes vão ao hospital antes de procurarem unidades básicas. O questionamento foi feita na última quinta-feira (6), durante todo o dia, e ouviu 100 pessoas que circulavam no corredor do Mário Gatti, a espera de atendimento ou medicação. A enquete não tem validação científica. Foram 60 mulheres e 40 homens entrevistados - do total, 30 tinham mais de 50 anos, a faixa etária que mais apareceu na pesquisa.   Vários locais Do total dos entrevistados na enquete, foram mencionados 68 locais de moradia. Entre os bairros que mais apareceram está o Campo Belo, com seis pessoas. Os bairros Vida Nova e Centro tiveram cinco moradores cada. Os bairros Carlos Lourenço, Vila Brandina e Campo Grande foram citados quatro vezes cada. Duas cidades foram citadas como local de residência: Sumaré e Hortolândia. O Hospital Mário Gatti é referência na Região Metropolitana de Campinas (RMC) e costuma receber muitos pacientes dos municípios do entorno. Não resolveA maioria dos entrevistados respondeu que o CS "não resolve o problema" e que geralmente a própria unidade encaminha o paciente ao hospital Mário Gatti. Sem médicos e estrutura física para atendimento, longa espera e até Centros de Saúde fechados foram os motivos que levaram os pacientes a ir direto ao hospital. Vale lembrar que, em meio a crise generalizada na saúde pública, o Mário Gatti informou, em comunicados oficiais anteriores, que os pacientes procurassem o Centro de Saúde. No entanto, os pacientes relataram que as unidades básicas são apenas mais um local para "esperar atendimento" ."Não adianta. O CS não tem médico, ou está fechado. Eu nem tento mais", afirmou a diarista Cátia Gama, de 40 anos. Ela acompanhava o filho, com dores de cabeça e febre, no PS. Segundo ela, o próprio CS encaminha para o hospital Mário Gatti. "Não tem estrutura". Atendimento criticadoEm Campinas, são 61 CS - aproximadamente um para cada 20.000 habitantes. Os Centros possuem médicos nas especialidades básicas (clínicos, pediatras, gineco-obstetras), enfermeiros (com responsabilidades voltadas para as áreas da mulher, criança e adultos), dentistas, auxiliares de enfermagem e auxiliares de consultório dentário. Profissionais de apoio completam essas equipes, além de profissionais de saúde mental.Apesar disso, os centros de saúde não são vistos pela população como um atendimento de qualidade. Muitos dos relatos ouvidos pelo Correio foram de desinteresse por parte da equipe médica, falta de profissionais e demora na realização de exames.EquipeHá denúncias ainda de um Centro de Saúde que atenderia as pessoas por "equipe" - cada paciente teria um profissional designado. Caso ele esteja de férias, recesso ou licença, o paciente é instruído a voltar outra semana. "Vim direto ao hospital porque no posto não tem atendimento. A médica não estava lá. E como não era da 'equipe' dela, não fui acolhida", afirmou a faxineira Maria Silva, de 53 anos.A supervisora Maria Helena, de 37 anos, afirmou que apesar do Mário Gatti também demorar para atender, é "um pouco melhor que o CS". No dia que a reportagem realizou a enquete no hospital, a espera podia levar o dia todo. Segundo a administração, a unidade registrou pico de demanda ocorreu entre sete e dez horas e houve alta demanda de pacientes com exames laboratoriais. Até o inicio da tarde foram 243 atendimentos. Porta aberta   O Hospital Municipal Mário Gatti informou, por meio de assessoria de imprensa, que é uma instituição "porta aberta", e "que se obriga ao atendimento de forma ininterrupta a todos pacientes que buscarem o serviço independente do grau de complexidade ou agravos à saúde apresentados" .Sobre o atendimento, o hospital informou que tem em prática o acolhimento e classificação de risco (ACCR) que corresponde a um pré-atendimento para definição sobre as prioridades da equipe de trabalho. O Mário Gatti trabalha com o sistema de classificação de cores, que prioriza os pacientes para o atendimento. Os pacientes são avaliados e, de acordo com o potencial de risco, é definido a intervenção médica e de cuidados de enfermagem, agravos à saúde ou grau de sofrimento.   Sem comentário A Prefeitura de Campinas, informou, por meio de assessoria, que não iria comentar a pesquisa realizada pelo Correio Popular, pois não teve acesso a metodologia adotada. A administração informou que se empenha em aumentar ao máximo a oferta de médicos para prestação dos serviços à população. Foram 371 médicos no ano passado, ampliando a oferta de profissionais nos Centros de Saúde e, segundo a administração, mais concursos públicos serão abertos este ano. Há ainda um projeto municipal chamado "Doutor de Plantão" - profissionais que tenham interesse para prestar um plantão avulso serão contratados pela empreitada. A Prefeitura informou que a carência de profissionais é estrutural em todo o país, e que consultórios privados também vivenciam o déficit profundo de médicos. 

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por