Policiais civis reclamam da qualidade das informações repassadas pelos órgãos sobre procurados
A falta de atualização cadastral emperra a eficiência das operações policiais na região de Campinas. Policiais civis reclamam da qualidade das informações repassadas pelos órgãos competentes, que emitem os mandados de prisão com dados desatualizados, resultando muitas vezes em diligências frustradas, procurados que já morreram e até mesmos buscados que já estão em situação regular com a Justiça. Em menos de 15 dias, foram deflagrados dois mutirões para cumprimento de mandados de prisão por crimes variados contra procurados desde 2015. No total, a região de Campinas, que compreende o Departamento de Polícia Judiciária São Paulo Interior 2 (Deinter-2), tinha pendente até a primeira quinzena de setembro cerca de 3,5 mil mandados em aberto. Desses, após filtragem, restaram cerca de 1,2 mil nas áreas das duas delegacias seccionais de Campinas, que abrangem as cidades de Valinhos, Vinhedo, Paulínia e Indaiatuba, e também nas seccionais de Mogi Guaçu, Bragança Paulista e Jundiaí. A operação terminou com a prisão de 144 pessoas e apreensão de um adolescente na área do Deinter-2, sendo 132 homens e 12 mulheres. Nas 13 delegacias de Campinas, foram 61 presos. Na segunda operação, comandada pelo Ministério da Segurança Pública e o Conselho Nacional dos Chefes de Polícias Civis, em Brasília (DF), havia uma lista de 830 pendências somente para a região de Campinas, que compreende Campinas, Valinhos, Vinhedo, Paulínia e Indaiatuba. Neste mutirão, foram presos 88 maiores de idade e apreendidos dois adolescentes em toda a área do Deinter-2. Em grande parte dos mandados pendentes, segundo os policiais, os endereços estavam incorretos ou o alvo já não morava mais no local. Outro inconveniente foi o fato de ter mais de uma pessoa com o mesmo endereço. “Houve casos em que já fomos até quatro vezes no mesmo endereço e não achamos ninguém”, disse um policial. “Essa falta de atualização de dados atrapalha muito o serviço da polícia”, acrescentou. “Cumprir mandados de prisão é uma loteria. A polícia não sabe se vai achar o procurado no endereço ou não. Muitos dos condenados mudam, vão embora da cidade”, explica um policial, cujo nome foi preservado. De acordo com o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP), os endereços que são citados nos mandados são aqueles que constam nas folhas de antecedentes dos acusados e, eventualmente, se houver outros processos em nome da mesma pessoa. Ainda, segundo o órgão, também são pesquisados endereços no Infoseg. “É claro que informações incorretas dificultam o cumprimento de mandados. Mas os endereços que são apresentados são os que constam nos autos. O desfecho de um inquérito demora muito tempo. Ao longo desse período, a pessoa pode mudar. O ideal seria fazer uma atualização de tempos em tempos, mas isso não acontece”, disse o delegado do Deinter-2, José Henrique Ventura. “Quando ocorrem as operações e não encontramos o procurado é informado ao Fórum. Mesmo assim, o nome do alvo fica no sistema e ele pode ser localizado em uma blitz da polícia, por exemplo. Não é culpa da polícia não achar o procurado. A gente tenta”, frisou Ventura. Mandado em aberto Os agentes de segurança afirmam que são informados sobre os alvos por meio de uma relação que é enviada a cada unidade. Com base nesta listagem, eles pesquisam o endereço do procurado para ver a qual área de abrangência pertence. Após a checagem, cumprem o mandado indo até o local que consta nos autos, mas se o alvo não é encontrado, o réu continua com o mandado em aberto e não há como repassar informações de que já foi cumprido no endereço citado. Outro erro considerado pelos policiais nas operações é o prazo de convocação. Segundo os agentes, eles recebem a listagem um dia antes, tempo este quase que inviável para levantar a situação do alvo. “É necessário fazer uma pesquisa antes dos procurados. Ver se eles já foram presos, se há registros atualizados de endereço. Tem que ter uma pré-investigação antes de bater na casa do procurado”, avaliou um policial.