Cerca de 70% da cidade foi obrigada a passar os últimos quatro dias em filas de poços e de bicas
O vazamento de uma tubulação durante uma obra de ampliação e modernização da captação do Rio Atibaia acabou provocando um desabastecimento generalizado na cidade de Sumaré. O problema atingiu ao menos 113 bairros, onde vivem cerca de 200 mil pessoas. Sem água desde terça-feira, muitos moradores das áreas afetadas precisaram formar longas filas em bicas e poços artesianos com o objetivo de garantir o básico para suas famílias. Com chances de ficarem desabastecidas, escolas e hospitais receberam nos últimos dias o auxílio de caminhões-pipa para garantir o funcionamento de seus respectivos serviços. O desabastecimento — que atinge ao menos 70% da cidade — começou depois que a BRK Ambiental, empresa responsável por gerenciar o saneamento da cidade, decidiu dar início aos trabalhos de modernização do espaço, na terça-feira. A obra tinha previsão inicial de ser finalizada em 24h, mas, por causa das fortes chuvas que atingiram a captação de água bruta do Rio Atibaia na quarta-feira, os trabalhos precisaram ser interrompidos sob risco de desmoronamento de uma vala. O imprevisto fez a empresa prorrogar a normalização do abastecimento para quinta-feira. Porém, devido ao vazamento, a concessionária precisou novamente intervir e mudar o prazo de normalização do sistema, deixando assim a população sem água por mais tempo. “Já são quatro dias sem água. Não dá para tomar banho, lavar roupa, fazer comida e dar descarga direito. A única coisa que me resta é acordar cedo e tentar aproveitar o pouquinho de água que sai da mangueira do meu quintal para encher algumas vasilhas que eu tenho e garantir que minha família tenha o mínimo possível de condição humana”, disse a dona de casa, Maria Célia da Silva, de 58 anos. Mãe de dois filhos pequenos, a costureira Daiane Borges, de 28 anos, precisou encarar sozinha, ontem, uma fila de mais de duas horas no poço artesiano da Rua Kenya Souza Signoretti, no bairro do Matão, para conseguir um pouco de água para suas crianças. “Tem sido muito difícil para a gente. Meus filhos estão passando sede e deixando de tomar banho porque não temos água em casa”, afirmou. “É desumano o que estão fazendo com a população de Sumaré, que paga caro para ter água em casa, mas é tratada como se fosse um lixo”, afirmou. Nos últimos dias, a falta de água também afetou inúmeros comércios da cidade. Muitos deles, inclusive, optaram por fechar as portas por alguns dias até que o problema seja resolvido por completo. Valdirene Godinho, de 42 anos, é proprietária de um salão de beleza, no bairro do Matão. Ela conta que, sem água, deixou de faturar mais de R$ 800,00 nos últimos quatro dias. “Eu uso a água para limpar o banheiro, o piso do salão e também para lavar o cabelo de alguns clientes. Tem alguns cortes que você precisa lavar o cabelo para fazer e, por conta disso, meu prejuízo está sendo gigantesco desde terça-feira”, afirmou. Decisão Judicial A 2ª Vara Cível de Sumaré concedeu ontem à noite uma liminar à Prefeitura, determinando o retorno imediato do fornecimento de água para a população dos bairros que tiveram a distribuição interrompida por causa das obras de modernização e ampliação da captação do Rio Atibaia. Na decisão, o juiz Andre Gonçalves Fernandes obrigou que o fornecimento ocorra, ainda que de forma emergencial, em quantidade capaz de evitar prejuízos à população – que não terá que pagar custo adicional por isso. O magistrado, estipulou ainda uma multa diária de R$ 50 mil para concessionária BRK Ambiental em caso de descumprimento da decisão. A empresa tem 15 dias para contestar a decisão provisória. O gerente de operações da BRK Ambiental, Cléber Salvi, garantiu que o abastecimento de água em todos os bairros afetados voltará a ocorrer normalmente até, no máximo, a manhã de hoje. Ele disse ainda que a empresa está investindo pesado para resolver os problemas da cidade desde o ano passado. “Nós estamos investindo R$ 16 milhões para aumentar e resolver os problemas da captação do Rio Atibaia, que hoje abastece 70% da população”, afirmou. “O que acontece é que nós temos uma estação precária e que trabalha sempre no seu limite de abastecimento”, revelou. “Essa obra, além de melhorar as tubulações, ainda vai aumentar a capacidade de 600 para 750 litros por segundo”, ressaltou. Pesquisa Uma pesquisa divulgada na semana passada pelos Indicadores de Satisfação dos Serviços Públicos (Indsat) aponta que Sumaré é segunda pior cidade da Região Metropolitana de Campinas (RMC) no serviço de abastecimento de água. O índice é calculado a partir da avaliação da própria população, que classifica o serviço como: “ótimo”, “bom”, “regular”, “ruim” ou “péssimo”. Ao final do levantamento, o instituto estabelece o grau de satisfação do serviço, sendo que a escala de pontuação vai de 200 até 1.000 pontos. Ao todo, Sumaré teve 582 pontos e ficou à frente apenas de Americana, que obteve nota 516. As duas cidades foram as únicas da RMC que registraram “Grau Médio de Satisfação” do serviço. As demais tiveram, pelo menos, “Alto Grau de Satisfação”. Nova Odessa é quem tem o melhor serviço, com 843 pontos e “Grau de Excelência” na avaliação dos próprios moradores.