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Facebook remove rede de fake news

Contas duplicadas ou falsas investigadas pela rede social tinham 1.800 seguidores

Estadão Conteudo
Estadão Conteúdo
09/07/2020 às 08:00.
Atualizado em 28/03/2022 às 21:10
Segundo Facebook, as contas derrubadas seriam de pessoas ligadas ao PSL e gabinetes da família Bolsonaro (Divulgação)

Segundo Facebook, as contas derrubadas seriam de pessoas ligadas ao PSL e gabinetes da família Bolsonaro (Divulgação)

O Facebook anunciou ontem que derrubou uma rede de fake news e perfis falsos ligados ao PSL e a funcionários dos gabinetes do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos), do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) e dos deputados estaduais pelo PSL do Rio de Janeiro Anderson Moraes e Alana Passos. O anúncio foi feito numa ligação com jornalistas de diferentes países, incluindo do Brasil. Foram identificadas 35 contas, 14 páginas, 1 grupo no Facebook e 38 contas no Instagram. As páginas no Facebook tinham 883 mil seguidores, enquanto as contas no Instagram, 917 mil seguidores. No grupo do Facebook havia 350 pessoas. A investigação do Facebook identificou Tercio Arnaud Tomaz como um dos responsáveis por alguns dos perfis removidos. Trata-se do assessor especial da Presidência, que despacha diariamente no 3º andar do Palácio do Planalto, em uma sala a poucos passos do gabinete de Bolsonaro. Tercio é responsável pelas "redes sociais", mas não detalha a sua função. As remoções ocorreram porque essas páginas empregavam ações vetadas pela plataforma, como uso de contas falsas, envio de spam ou ferramentas artificiais para ampliar a presença online. No material postado estavam conteúdos relacionados às eleições, memes políticos, críticas à oposição, a empresas de mídia e jornalistas, além de material sobre o coronavírus. Parte do conteúdo dessa rede de fake news já havia sido removida do Facebook por violar os padrões da comunidade, como conteúdo de discurso de ódio. "A atividade incluiu a criação de pessoas fictícias fingindo ser repórteres, publicação de conteúdo e gerenciamento de páginas fingindo ser veículos de notícias", disse o Facebook em comunicado. O anúncio faz parte da remoção de redes de desinformação que operavam em quatro territórios, postando conteúdo relacionado a assuntos políticos domésticos. Além do Brasil, foram derrubadas redes nos EUA, Ucrânia e em outros países da América Latina, como El Salvador, Argentina, Uruguai, Venezuela, Equador e Chile. No caso brasileiro, Nathaniel Gleicher, diretor de Cibersegurança do Facebook, foi cauteloso em apontar o envolvimento direto dos políticos na rede, inclusive na coordenação das postagens. "Não podemos afirmar a responsabilidade direta das pessoas citadas, mas podemos afirmar que pessoas associadas a eles e a seus escritórios se envolveram em comportamento inautêntico na plataforma."  Mesmo com os responsáveis tentando ocultar suas identidades, o Facebook conseguiu constatar ligações com pessoas ligadas ao PSL e funcionários dos gabinetes do deputado federal Eduardo Bolsonaro, do senador Flávio Bolsonaro, do presidente Jair Bolsonaro, e dos deputados estaduais Anderson Moraes e Alana Passos. Segundo o Facebook, o grupo usava uma combinação de contas duplicadas e contas falsas para evitar a aplicação de políticas da plataforma. As contas removidas não foram divulgadas, mas, na imagem usada como exemplo dos conteúdos derrubados, é possível ver as páginas "Jogo Político" e "Bolsonaro News". O Facebook afirmou que chegou ao grupo a partir de notícias na imprensa e referências citadas em audiência no Congresso. Segundo o executivo, não há indícios de que uma empresa foi contratada para realizar o trabalho. A operação brasileira gastou US$ 1,5 mil em anúncios no Facebook. CPMI quer acesso ao conteúdo retirado A cúpula da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News comemorou a derrubada da rede de perfis virtuais de apoio ao presidente Bolsonaro. Parlamentares afirmaram que o banimento das contas está em linha com fatos revelados pela investigação e reforça a necessidade de ter acesso ao conteúdo publicado por meio dessas contas excluídas. O presidente da CPMI, Ângelo Coronel (PSD-BA), afirmou que muitas das páginas já haviam sido denunciadas no colegiado. Segundo ele, os dados publicados nas contas, páginas e grupos virtuais são importantes para verificar se há indícios de crimes que poderiam ser relatados ao Ministério Público. "Vamos solicitar o conteúdo", disse. Outro lado Em nota sobre a ação do Facebook, o senador Flávio Bolsonaro afirmou que "julgamentos que não permitem o contraditório e a ampla defesa não condizem com a nossa democracia, são armas que podem destruir reputações e vidas". "Pelo relatório do Facebook, é impossível avaliar que tipo de perfil foi banido e se a plataforma ultrapassou ou não os limites da censura", diz o senador na nota. No documento, Flávio afirma ainda que o governo Bolsonaro foi eleito com forte apoio popular nas ruas e nas redes sociais. "Por isso, é possível encontrar milhares de perfis de apoio. Até onde se sabe, todos eles são livres e independentes." Já o deputado estadual Anderson Moraes afirmou que "não temos acesso às contas das pessoas que trabalham conosco. Cada um posta aquilo que quer, aqui não peço para ninguém postar nada, nem para repostar o meu". Sobre perfis de pessoas que trabalham em seu gabinete, a deputada estadual Alana Passos disse: "não posso responder pelo conteúdo publicado. Nenhum funcionário teve a rede bloqueada por qualquer suposta irregularidade". O PSL respondeu que os políticos citados, "na prática, já se afastaram do PSL há alguns meses com a intenção de criar um outro partido" (o Aliança pelo Brasil) e que "o próprio PSL tem sido um dos principais alvos de fake news proferidos por este grupo".

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