RESPEITO

Exposição celebra a condição afro

Foco principal é releitura de obras de arte clássicas, como Mona Lisa, de Leonardo da Vinci

Henrique Hein
08/11/2020 às 11:15.
Atualizado em 27/03/2022 às 18:02
Para entrar no clima, uma caprichada sessão de maquiagem, que ajuda na incorporação dos personagens (Leandro Ferreira/AAN)

Para entrar no clima, uma caprichada sessão de maquiagem, que ajuda na incorporação dos personagens (Leandro Ferreira/AAN)

Alunos da Escola Estadual Cecília Pereira, em Campinas, serão estrelas de uma exposição que tem como objetivo promover uma discussão sobre o racismo e a participação das pessoas negras na sociedade, por meio de uma releitura de obras de artes clássicas, como “Mona Lisa”, de Leonardo da Vinci, e “A estudante russa”, de Anita Malfatti. Cerca de 20 estudantes estão envolvidos na atividade, que conta com a supervisão do artista visual Sérgio Campelo. Desde o mês passado, a instituição e o profissional estão recriando 11 quadros famosos, com o auxílio de fantasias, pintura e computação gráfica, nos quais os alunos negros do colégio serão os protagonistas das fotografias. Eneida Miyashiro, vice-diretora da escola, explica que os quadros estão sendo produzidos em estúdio improvisado no colégio e que cada um dos alunos escolheram as pinturas que desejaram representar. “A gente sabe que o controle da narrativa na área artística sempre foi das pessoas que detém o poder. Essa nossa posição é meio que um levante na diáspora contra essa narrativa oficial, que há muito tempo registra a realidade. (...) Queremos mostrar que isso pode ser pensado e encarrado de uma forma diferente”, destacou ela. Reflexão A vice-diretora também disse que o trabalho junto aos estudantes proporciona momentos de reflexão sobre a importância de se pensar em uma sociedade mais justa, baseada no respeito à diversidade e aos direitos humanos. Eneida comentou que esses momentos foram organizados também para inspirar outras pessoas negras a se sentirem protagonistas na construção de suas vidas. “É uma questão de atitude para que outros estudantes e pessoas negras possam se inspirar nesses alunos, que tomaram a frente do projeto, para se sentirem valorizadas e aptas para ocupar espaços que também são de direito delas enquanto cidadãs”, revelou. Celebrada desde 1971, data evoca aclamação Celebrado pela primeira vez em 1971, o conceito evoca o sentimento de aclamação e aceitação das origens africanas na formação do povo brasileiro. De acordo com o Portal Geledés, consciência negra pode significar, em suma, a percepção da pessoa negra em relação às suas origens, no entendimento das raízes culturais e históricas dos seus antepassados. A consciência negra também representa a identificação da causa e luta dos ancestrais africanos que desembarcaram no Brasil e trouxeram consigo toda a cultura, costumes e tradições do seu povo. É ter em mente que a escravidão foi abolida, mas que ainda há muita coisa a ser mudada no que diz respeito aos direitos da pessoa negra. O conceito também traduz o sentimento de pertencimento do negro, não como apenas um “apêndice” da sociedade dominada pela classe branca, mas como um ser de valor e que faz parte da formação identitária do Brasil. A cada ano, é celebrado no dia 20 de novembro o Dia da Consciência Negra. A data foi escolhida em menção ao dia da morte de um dos maiores líderes anti escravagistas: Zumbi. O objetivo é trazer como reflexão a importância do povo e da cultura africana na construção do nosso país. O preconceito ainda existe, e uma das formas de combatê-lo é discutindo e expondo as mazelas enraizadas no dia a dia da sociedade brasileira. Último líder de um dos maiores quilombos do Brasil, o de Palmares, Zumbi enfrentou as investidas da Coroa portuguesa em defesa dos escravos que fugiam do trabalho desumano e das torturas vigentes nas fazendas da época. Na época, Palmares era o maior quilombo do país, chegando a receber, em seu auge, cerca de 30 mil escravos fugitivos. A região onde estava localizado pertencia à capitania de Pernambuco, hoje atual cidade de União dos Palmares, município de Alagoas. Prestes a se tornar uma lenda, no ano de 1965 da referida data, Zumbi é morto aos 40 anos por agentes do governo e partes do seu corpo foram expostas em praça pública, na cidade de Recife. Para relembrar os feitos históricos e a luta pelos direitos da pessoa negra, em 9 de janeiro de 2003, foi incluído no calendário escolar atividades referentes ao Dia da Consciência Negra. Assim, tornou-se obrigatório o ensino sobre a história e cultura afro-brasileiras nas escolas, por meio de projetos e ações que tratem de temas, como: a luta dos negros no Brasil e seu papel na sociedade, cultura afro brasileira, identificação de etnias, discriminação, inserção do negro no mercado de trabalho e etc. A Lei 12.519/2011 que institui oficialmente a data no calendário de comemorações foi sancionada apenas em 2011, tornando-se feriado em mil municípios. Escola do São Fernando desfruta de ótima avaliação Localizada no Jardim São Fernndo, a Escola Estadual Cecília Pereira oferece toda a estrutura necessária para o conforto e desenvolvimento educacional dos seus alunos, como por exemplo: Laboratório de Informática, Sala de Leitura, Pátio Coberto, Pátio Descoberto, Sala do Professor e Alimentação. O estabelecimento é muito bem avaliado pelos pais, alunos e funcionários da instituição, o que, segundo os representantes, é reflexo do comprometimento com um ensino de qualidade que a escola oferece. Fusão feliz de palavras dá nome ao evento no Centro Intitulada de “AFROnto!”, numa criativa fusão de palavras, a exposição das obras acontece no dia 14 de novembro, na Galeria da Casa Ímpar, na Rua Coronel Redovalho, no Centro de Campinas. A atividade é aberta à comunidade e o horário de visitação acontece das 10h às 21h. No espaço destinado à exposição, haverá ainda um vídeo com depoimentos de alunos e pessoas que participaram da iniciativa. O projeto da escola também contará com a realização de uma roda de conversa sobre o tema, por meio de uma live, que acontecerá em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, a partir das 19h, com transmissão pelo Facebook do colégio. A live contará com a participação de alunos e de movimentos sociais ligados a negritude. Fotógrafa fala sobre a sua motivação A fotógrafa Ana Freire lembra: “O projeto AFROnto se iniciou de uma admiração particular, os negros. Sempre quis fotografar um negro mas um que não quisesse esconder seus cabelos enrolados, seu nariz, sua cor, seu valor. Alguém que se aceite, que não se enquadre nos padrões de beleza que essa sociedade cheia de preconceito impõe”. Ela conclui com uma convocação bem engajada: “Então, diga não ao racismo, mate esse preconceito imundo de dentro de você!”

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por