COMÉRCIO EXTERIOR

Exportações na RMC atingem R$ 3,63 bilhões em dois meses

Resultado obtido pela indústria regional é o terceiro melhor nos últimos 11 anos

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
22/03/2024 às 16:59.
Atualizado em 22/03/2024 às 16:59
Linha de montagem de uma fábrica de tratores situada na Região Metropolitana de Campinas impulsiona as exportações de maquinário agrícola, destacando-se como líder no comércio exterior (Divulgação)

Linha de montagem de uma fábrica de tratores situada na Região Metropolitana de Campinas impulsiona as exportações de maquinário agrícola, destacando-se como líder no comércio exterior (Divulgação)

A Região Metropolitana de Campinas fechou o primeiro bimestre deste ano com US$ 728,6 milhões (R$ 3,63 bilhões) em exportações, o terceiro melhor resultado para o período em 11 anos, de acordo com dados do Comex Stat, sistema do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços com dados da balança comercial. O resultado é inferior apenas aos US$ 800,15 milhões (R$ 4,02 bilhões) registrado entre janeiro e fevereiro de 2023 e aos US$ 750,69 (R$ 3,74 bilhões) de igual período de 2018.

Apesar da queda de 9,01% nas vendas ao exterior no dois primeiros meses de 2024 em relação ao ano passado, o economista Alexandre Belotto ressaltou que os indicadores apontam para um clima econômico favorável, mesmo existindo desafios a serem superados. Ele citou que as importações em fevereiro, que somaram US$ 1,07 bilhão (R$ 5,33 bilhões), representaram aumento de 9,05% em relação aos US$ 989,96 milhões do segundo mês de 2023. "Um dos destaques das importações foi o crescimento dos desembarques de bens intermediários e isso é bom para a região de Campinas. A indústria regional é dependente de insumos importados para produzir e isso sinaliza maior apetite por parte delas", afirmou.

Ele lembrou que o resultado vem na sequência do desempenho na geração de empregos ter surpreendido em janeiro, a inflação segue sob controle, o dólar permanece estável e o Banco Central reduziu anteontem a taxa básica de juros, a Selic, pela sexta vez seguida, caindo de 11,25% para 10,75% ao ano. As empresas da RMC criaram 3.583 empregos com carteira assinada no primeiro mês deste ano, alta de 32,9% em comparação as 2.699 vagas de igual período de 2023. As indústrias abriram 288 novos postos, acompanhando o resultado positivo da construção civil (1.489) e serviços (796). Os segmentos que tiveram queda na região foram a agropecuária (-22) e comércio (-462) , mas nesse último setor o resultado é considerado normal em virtude da dispensa dos funcionários temporários contratados para as vendas do final de 2023. 

OBSTÁCULOS

O economista avaliou que os dados positivos já levaram setores do mercado financeiro a elevarem de 1,5% para 2% a previsão de crescimento este ano do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços produzidos. Porém, Alexandre Belotto lembrou que a economia nacional tem obstáculos a serem superados pela frente, como controle do déficit público, e fatores externos, entre eles alta da inflação e dos juros nos Estados Unidos e atividade econômica abaixo do esperado na China.

De acordo com os dados do Comex, o déficit da balança comercial da RMC no primeiro bimestre ficou em US$ 1,59 bilhão (US$ 7,92 bilhões), queda de 10,68% em relação aos US$ 1,78 bilhão (R$ 8,85 bilhões) dos dois primeiros meses do ano passado.

As indústrias da Região Metropolitana que mais exportaram de janeiro e fevereiro foram de tratores, medicamentos, automóveis de passageiros, partes e acessórios de veículos e óleos de petróleo ou de minerais betuminosos. Uma montadora com planta em Indaiatuba aposta no mercado externo para manter as vendas em alta. Ela fechou 2023 como líder nacional em exportações do setor, com o total de 82.419 unidades. As vendas destinadas aos países da América Latina e Caribe representaram 40% de tudo o que produziu, que somaram 212.834 veículos, incluindo destinados ao mercado nacional. Segundo ela, a participação das exportações no volume geral é muito acima da média do setor automotivo brasileiro.

A unidade de Indaiatuba teve uma participação de 26,82% no total produzido. "A atuação estratégica nas exportações a partir do Brasil também fortalece a nossa produção local e toda cadeia produtiva, ampliando a competitividade e proporcionando importante geração de emprego e renda no país.", afirmou o CEO da montadora para a América Latina, Rafael Chang.

No início deste mês, a multinacional japonesa anunciou investimentos de R$ 11 bilhões no país até 2030. Do total, R$ 5 bilhões já estão confirmados até 2026 e incluem o lançamento de um modelo compacto híbrido flex, programado para chegar ao mercado no próximo ano. No entanto, esse pacote foi acompanhado do anúncio do fechamento da fábrica em Indaiatuba, onde está presente há 26 anos, com as operações sendo transferidas para a unidade de Sorocaba. Isto ocorrerá de forma gradual a partir de meados de 2025, com conclusão prevista para o final de 2026. De acordo com a empresa, os 1,5 mil funcionários de Indaiatuba terão a opção de serem transferidos para a outra fábrica.

DESTINOS

Essa decisão deverá impactar os resultados da balança comercial da RMC. Indaiatuba fechou 2023 como a segunda cidade que mais exportou, totalizando US$ 916, 68 milhões (R$ 4,56 bilhões), ultrapassando Paulínia, que caiu para a terceira colocação, com US$ 855,99 milhões (R$ 4,26 bilhões).

Porém, Paulínia retomou a vice-liderança das vendas ao exterior entre janeiro e fevereiro passados, totalizando US$ 125,17 milhões (R$ 625,59 milhões). Indaiatuba caiu uma posição ao registrar US$ 101,6 milhões (R$ 50,6 17 milhões). A inversão nas colocações ocorreu em um momento em que as exportações para a Argentina, um dos principais destino dos carros produzidos no Brasil, caíram 28% no primeiro bimestre. O país sulamericano atravessa uma grave crise econômica e registrou uma inflação de 254,2% nos 12 meses encerrados em janeiro, o patamar mais elevado em três décadas.

Entre as 20 cidades da RMC, a primeira posição nas exportações continua sendo de Campinas. As empresas instaladas no município somaram US$ 1,12 bilhão (R$ 5,57 bilhões) em vendas ao exterior em 2023. Entre janeiro e fevereiro deste ano, o volume foi de US$ 154,56 milhões (R$ 770 milhões). Os principais destinos das exportações regionais são os Estados Unidos, Argentina, México, Chile, Alemanha e Colômbia. Já as importações vêm principalmente da China, Estados Unidos, Alemanha, Índia e Coreia do Sul.

O setor industrial brasileiro cobra do governo federal a retomada o financiamento à exportações de bens e serviços para aumentar sua participação na balança comercial. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou um manifesto em que apoia a aprovação do projeto de lei nº 5.719/2023 em tramitação no Congresso Nacional. A proposta permite ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiar obras, serviços e bens vendidos ao exterior.

"A lei é fundamental para o Brasil ter um marco legal apoiado nas melhores práticas internacionais, que estimule o aumento das exportações de bens e serviços, como a maioria dos países fazem", disse o diretor de Desenvolvimento Industrial e Economia da CNI, Rafael Lucchesi. Para a entidade, a retomada do apoio às exportações melhoraria a competitividade das empresas brasileiras em um mercado global em plena expansão. Segundo dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), em 2022, o total de serviços exportados mundialmente alcançou US$ 7,1 trilhões (R$ 35,37 trilhões). Entre os países desenvolvidos, os Estados Unidos exportaram cerca de US$ 929 bilhões (13%, do mercado mundial), seguidos pelo Reino Unido com cerca de US$ 494 bilhões (6,9%).

Em 2022, o Brasil começou a se reposicionar no mercado de exportações de serviço. Ele atingiu o valor exportado de cerca de US$ 39 bilhões (R$ 194,2 milhões), com uma participação de 0,6% no mercado mundial. Segundo estudo da consultoria LCA divulgado pela Confederação da Indústria, a cada dólar exportado de serviços há adição de 30% de renda. Nas exportações de serviços de engenharia 70% são provenientes de micro, pequenas e médias empresas, de acordo com a entidade.

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